Workshop destaca o manejo de nematóides

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Terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Workshop destaca o manejo de nematóides

Embora sejam vermes de tamanho reduzido, os nematóides causam prejuízos muito grandes em lavouras comerciais de importância econômica para o país, como soja, batata e algodão, entre outras. O agricultor que já enfrentou ou enfrenta ainda este desafio se pergunta: existiria alguma forma de eliminar de vez o problema? Para encontrar respostas, a REVISTA DO PRODUTOR RURAL esteve presente ao Workshop Manejo de Nematóides, na tarde de 31 de outubro, no anfiteatro do Sindicato Rural de Guarapuava.

O evento foi promovido pelo PET Agronomia (formado por acadêmicos daquele curso), Unicentro e a entidade sindical, com os apoios de Sistema FAEP/SENAR-PR e Ballagro. Com a atividade, os estudantes participaram da VI Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão, da Unicentro (28 de outubro a 1º de novembro de 2019). Por isso, a programação se voltou a produtores e profissionais do agro e buscou apresentar de forma didática as principais formas de manejo dos nematóides: cultural, biológico e químico.

Na organização, a professora Cacilda Márcia Duarte Rios (Agronomia/Unicentro), que trabalha com foco em fitopatologia, contou em entrevista que a idéia do evento surgiu depois que agricultores a procuraram para conhecer o assunto. “Na nossa região, com essa questão de que é mais fria, de solo mais argiloso, o pessoal começou a achar que não tinha problema com nematóides. Começamos a verificar que temos sim”, assinalou. O objetivo, prosseguiu, foi evidenciar a importância do tema, já que nem sempre se percebe que uma redução na produtividade da lavoura pode ter sido causada por aquela praga: “Acho que é o momento da gente começar a conscientizar os produtores”, disse a professora da Unicentro.  

Cacilda destacou ainda que, por outro lado, para definir as estratégias a serem adotadas em cada propriedade, o agricultor precisa da avaliação de profissionais da área, como agrônomos, pesquisadores e bons laboratórios. Isto porque, apontou, o primeiro passo para a definição das ações a serem adotadas será diagnosticar o problema com exatidão técnica, considerando as condições específicas de cada sistema produtivo: “Para todo bom manejo, a diagnose correta é o mais importante”, preconizou.

Os palestrantes convidados observaram, em suas apresentações, que é difícil eliminar totalmente o nematóide de uma área atingida. Entretanto, o manejo pode reduzir os danos às culturas abaixo do chamado limiar de prejuízo. A REVISTA DO PRODUTOR RURAL também conversou com eles.

Controle Cultural

Ao falar sobre o manejo cultural, Cláudia Regina Dias (UEM) defendeu que, em culturas anuais, o produtor evite plantas hospedeiras de nematóides na segunda safra. Uma alternativa, de acordo com ela, são as antagonistas ou má-hospedeiras, como crotalária, braquiária e milheto resistente. Na adubação orgânica, a especialista destaca como importantes o trigo mourisco e a combinação nabo-aveia. Para adubo orgânico em reboleira, ela considera como opção a cama de aviário ou outro resíduo. Já para um manejo cultural do nematóide na batata, Cláudia destacou o plantio em épocas mais secas e a rotação com plantas antagonistas ao nematóide meloidogyne spp., como crotalária, braquiária e feijão-de-porco. Para adubação orgânica, a professora mencionou resíduos de brássicas, cama de aviário, torta de mamona e compostagens.   

 Professora doutora Cláudia Regina Dias (UEM) – “O controle cultural vem como a base do controle de nematóides. É ele que vai dar o suporte principal para os controles biológico e químico. Para este tipo de manejo temos o nabo e a aveia, que são os mais usados. Mas para as regiões mais frias temos culturas bastante interessantes, como o tremoço e a ervilhaca. Mesmo não sendo redutores de nematóides, dão uma cobertura muito boa que melhora a matéria orgânica do solo. Mas no caso de redução, nabo-aveia pode ser uma opção importante e interessante. Para fazer o controle, primeiro se precisa saber qual o tipo de nematóide presente na fazenda, para posicionar a cultura correta – porque tem cultura que pode ser multiplicadora do nematóide. Então, antes do manejo, é preciso conhecer a população e, junto com um agrônomo, um consultor, um colega nematologista, traçar a estratégia de manejo”. 

Controle biológico

Débora Cristina Santiago (UEL) ressaltou que hoje, no Brasil, os produtos biológicos já estão em uso. Mencionando dados da ABCbio (Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico, situada em São Paulo), de fevereiro de 2018, ela informou que o mercado do setor correspondia então a R$ 527 milhões. Os principais agentes dos produtos são fungos (parasitas de ovos e formas sedentárias, como P. Lilacinum e Pochonia spp.), produtores de metabólitos (Trichoderma spp.) e bactérias (Bacillus spp. e Pasteuria spp.). Conforme destacou, uma das vantagens é não favorecer o surgimento de formas resistentes de nematóides. Mas a professora da UEL ressaltou que, para ter sucesso, o agricultor precisa seguir à risca as recomendações de uso de cada produto.

Professora doutora Débora Cristina Santiago (UEL)“Hoje o controle biológico já é uma realidade, com vários produtos registrados para o fim comercial de controle de várias espécies de nematóides. Só que é preciso identificar a correta espécie, o tipo de produto a ser usado. Cada um tem a sua eficiência, sua recomendação, suas considerações a serem respeitadas. O sucesso vai depender do respeito a essas considerações. E sempre respeitando que é uma ferramenta a mais para inserir no sistema de manejo. Porque ele tem que ser usado como uma alternativa junto com as demais ferramentas. Vejo uma eficiência considerável no controle biológico, lembrando que esses produtos, para serem registrados, têm que atender a uma eficiência mínima de controle, assim como as moléculas químicas. Hoje não temos nenhuma ferramenta com 100% de controle. Então existem eficiências relativas de 60%. Para nós, já são muito consideráveis e importantes”.

Controle químico

Em sua explanação sobre controle químico, Fernando Godinho de Araújo (IF Goiano-GO) frisou que os produtos devem de ser utilizados juntamente com as outras duas estratégias apresentadas no workshop. Ele mencionou e detalhou diversas alternativas presentes no mercado. Mas como as palestrantes que o antecederam, Godinho de Araújo reafirmou que a definição de um manejo eficiente de nematóides depende da situação específica de cada propriedade. Isto porque existem várias espécies da praga, com diferentes formas de comportamento. Por esta razão, frisou, o início de uma estratégia eficiente está no conhecimento.

 Professor doutor Fernando Godinho de Araújo (IF Goiano-GO) “O primeiro passo para o controle químico é conhecer o nematóide que você tem presente na área. De posse dessa informação, saber posicionar essa ferramenta de manejo. Como eu disse, o controle químico não é uma única ferramenta. Ele sempre tem que ser associado com outras estratégias, mas é uma forma muito eficiente para que você dê condições para que a planta tenha um desenvolvimento adequado do seu sistema radicular nessa fase inicial. Hoje, estamos com produtos cada vez mais seletivos e a gente vem para uma nova geração agora, que são produtos sistêmicos. E o que é que difere esses produtos sistêmicos daquilo que temos no mercado? Os sistêmicos são aqueles que têm a capacidade de se translocar dentro do vegetal. Isso, por exemplo, facilita as metodologias de aplicação. Você pode aplicar na parte aérea e ele vai ter uma ação no sistema radicular da planta. Os atuais, hoje, não têm esse tipo de efeito”.

 

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