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Terça-feira, 02 de março de 2021

Cigarrinha: controle exige diversas táticas

Os produtores de milho do centro-sul do Paraná viram, na safra 2020/2021, um desafio extra: infestação de cigarrinha (Dalbulus maidis), inseto que transmite os molicutes (bactérias sem parede celular) espiroplasma e fitoplasma e o vírus da risca (Maize rayado fino virus). Enquanto o espiroplasma causa o chamado enfezamento pálido, com estrias esbranquiçadas nas folhas do milho e espigas de menor tamanho, o fitoplasma (Maize bushy stunt) deixa as folhas avermelhadas, levando também a espigas pequenas, com grãos esparsos ou chochos. O que em resumo se traduz em menos produtividade e menor qualidade de grãos, conforme apontam os especialistas.

Um deles, que há décadas estuda a cultura do milho, conversou com a REVISTA DO PRODUTOR RURAL, no dia 3 de fevereiro. Atuando no IDR de Londrina (PR), o pesquisador Rodolfo Bianco mencionou alguns dos efeitos das doenças trazidas pela cigarrinha e medidas para amenizar o impacto da praga.

Conforme detalhou, o inseto suga a seiva das plantas de milho, mas este, em geral, ainda não é o maior dos danos. O problema mais grave, comparou, é a transmissão dos molicutes, que causam o enfezamento: “Essa doença passa um período de incubação no inseto, que às vezes pode chegar até mais de 20 dias. Dependendo de temperatura, esse prazo pode ser mais curto. Enquanto o inseto estiver vivo, ele está em condições de repassar para outras plantas, sadias”. O efeito, completou, é nocivo: “As doenças prejudicam o milho, porque entopem os vasos do floema e a planta não consegue produzir fotossintéticos necessários. Então, não vai acumular a quantidade necessária de açúcares nos colmos, para ficarem mais fortes. Esse estresse da planta, inclusive, a predispõe a outras doenças com mais facilidade”. O pesquisador do IDR alerta que não há até agora tratamento que cure os danos à sanidade nas plantas e considera que o melhor é adotar medidas para reduzir a força de eventuais infestações: “Como ela é uma doença que não é tratada, tudo tem que ser feito para evitar. Minimizar a ocorrência, as ‘pontes verdes’, que mantém a doença e a cigarrinha”, disse, referindo-se às plantas guaxas de milho, que de acordo com os pesquisadores são um dos vários fatores que contribuem para que o problema permaneça no campo.  

Bianco destacou ainda que a cigarrinha pode se deslocar em longas distâncias e, por isso, preconiza que o controle seja tarefa não só de um produtor, mas de todos os agricultores de um determinado local: “Não adianta um produtor fazer tudo certo e o seu vizinho deixar lá na lavoura muito milho tigüera, escolher cultivar muito sensível às doenças transmitidas pelo inseto”.

Por outro lado, ele assinalou que este esforço não passa por uma única ação, mas por um conjunto: “Uma só tática não vai resolver o problema. É diversidade de cultivares; ter cultivares mais tolerantes; ter realizado um controle melhor de milho tigüera”. Todo este cuidado, acrescentou, deve abranger já a primeira fase do cultivo. “Também o tratamento de sementes com neonecotinóides é importante. Apesar de ter um controle curto, de uns 10, 15 dias, vai proteger o período mais sensível das plantas. Os insetos transmitem a doença o tempo todo, mas o pior é até os 30, 40 dias. Depois de 10, 15 dias, o produtor tem que sempre estar monitorando a lavoura para acompanhar. Não pode também só acreditar que as pulverizações vão resolver”, alertou.

Nestas várias táticas, o pesquisador do IDR afirma ver como importante não só utilizar o MIP (Manejo Integrado de Pragas), mas expandir ainda mais aquela técnica: “Eu diria que a gente tem que ter um manejo integrado de lavoura. E aí entra a questão de ter o solo equilibrado, rotação de cultura, adubação na dose certa, semear na melhor data, com distribuição e profundidade exatas, construir a fertilidade e a biologia do solo”. E explica: “A planta bem nutrida, equilibrada , vai tolerar mais o estresse de uma praga, de uma doença. Pelo menos vai facilitar um manejo de pragas”. Se for necessário um controle, argumentou, é aquela estratégia que permitirá determinar o melhor momento: “Para isso, o produtor tem que estar olhando a lavoura. O olho do dono não engorda só o boi. Faz o milho produzir mais também. Eu diria que o melhor mesmo é a cada quatro, cinco dias”.

Também na ADAPAR (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná), a ocorrência de cigarrinhas em lavouras de milho no estado chamou a atenção, passando a ser monitorada pelo Programa de Prevenção e Controle de Pragas em Cultivos Agrícolas e Florestais. Coordenador deste trabalho, Maurício Martins Araújo também falou à REVISTA DO PRODUTOR RURAL, dia 5 de fevereiro. “A ocorrência da doença do enfezamento, que é antiga e tem um vetor, que é uma cigarrinha, vem ocorrendo no estado desde 2018, com acompanhamento feito através de análises e coletas de amostras na ADAPAR, na EMBRAPA e no próprio IDR”, contextualizou. De acordo com ele, no momento da entrevista, a praga se encontrava em diversos locais, atacando inclusive lavouras do centro-sul paranaense. “Ela está distribuída no Paraná, em várias regiões em que a gente fez análise e coleta de amostra. Em Guarapuava e região, que tradicionalmente trabalham apenas com a 1ª safra, também na região mais ao sul, se constatou a presença dos enfezamentos. Nessas regiões, mesmo que os agricultores tenham tomado as medidas para o controle da cigarrinha, somente o tratamento químico com inseticidas não está se mostrando eficiente neste momento”, relatou.  

Martins Araújo também apontou que o controle tem que passar por várias ações, entre as quais o acompanhamento do grau de infestação. “As medidas de monitoramento de pragas são sempre necessárias. Têm materiais técnicos que podem ajudar o agricultor na identificação desses insetos e, baseado nessas informações, partir para a assistência técnica, para fazer as recomendações, se necessário, de uso de produtos para o controle dessa praga. Inclusive, não só químicos, também como biológicos”.

Outra ferramenta, elencou o coordenador, foi lançada pela ADAPAR no final de outubro do ano passado: o aplicativo MonitoraMilho. “Foi desenvolvido justamente para mostrar onde a praga está distribuída no estado, isso servindo de alerta para que a gente possa coletar amostras e verificar se essas pragas estão contaminadas, se as lavouras têm ou não a presença de milho tigüera. Esse aplicativo ajuda o agricultor de uma maneira geral e a assistência técnica a identificar os locais de multiplicação desses insetos, que são o principal vetor da doença hoje de cultura de milho”, explicou (O aplicativo MonitoraMilho está disponível para download gratuito no link: https://play.google.com/store/apps/details?id=br.gov.pr.adapar.alerta)

Milho 2020/2021: Já no plantio, o desafio da estiagem

Há safras em que vários desafios se juntam ao mesmo tempo. No ciclo do milho de verão 2020/2021, que vai de setembro a março, já o plantio se mostrou difícil, devido ao tempo seco. Parâmetro que dá uma medida das chuvas na região, o monitoramento de precipitações pluviométricas na sede da FAPA, no distrito de Entre Rios, mostrou que aquele mês teve apenas 39 mm, muito abaixo de 2019 (70,4 mm), de 2018 (150,4 mm) e da média histórica de 1976 a 2020 (158,2 mm). As chuvas começaram a se normalizar em novembro, com 131,8 mm frente à média de 160,3 mm.

 

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