Quarta-feira, 08 de março de 2023
O Paraná é um dos maiores produtores de feijão no Brasil. A previsão da produção do Departamento de Economia Rural (Deral) para esta cultura, somando as duas safras em 2022, é de ultrapassar as 800 mil toneladas.
O Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR), por meio do Projeto Centro-Sul de Feijão e Milho, tem buscado melhorar ainda mais este número, auxiliando, principalmente, pequenos e médios produtores para obterem melhores resultados na produção de feijão.
Uma das ações é a realização de eventos, que visam difundir tecnologias e ferramentas que contribuem para este objetivo. No final do ano, o Dia de Campo Regional: Tecnologia de Produção do Feijão, realizado no dia 8 de dezembro, no Polo de Pesquisa e Inovação do IDR (PR), em Guarapuava, reuniu produtores de feijão de mais de 12 munícipios da região.
O evento teve uma densa programação, com palestras técnicas e estações a campo, que trataram de diversos assuntos relacionados ao manejo adequado da cultura. “O feijão é uma cultura de excelente rentabilidade, desde que se cuide adequadamente da lavoura. Ela vem crescendo muito na nossa região, com maior área e mais produtores colocando o feijão em um esquema de rotação de cultura. Entretanto, é preciso alguns cuidados. Os pequenos e médios produtores precisam ser mais eficientes que o grande produtor, porque não existe margem para erro. Por isso, a importância de sempre se atualizar”, ressaltou o coordenador regional do IDR, Celso D’Oliveira.
O técnico agrícola do IDR- PR Eloir Myszka explica que o Projeto Centro-Sul de Feijão e Milho representa a união da pesquisa, assistência técnica, empresas de insumos e produtor rural em prol da máxima produtividade. “O projeto tem 35 anos. Quando começou, a média de produção de feijão era de 800 kg/ha e aumentou de 2200 a 2500 kg/ha para hoje, no Paraná. Porém, nós sabemos que existem cultivares que podem chegar a 5 mil kg/ha. Portanto, tem muito que se pode melhorar ainda”, comentou.
Confira o resumo da programação do Dia de Campo:
Manejo da cultura do feijão do plantio à colheita
Antônio Marcos de Souza Neto – engenheiro agrônomo
“Temos que fazer algumas mudanças no campo. Tentamos passar aos produtores uma escada da produção potencial. Quando se usa uma variedade que tem capacidade de produzir mais de 4 mil kg/ha, mas se colhe apenas 2 mil kg/ha, é preciso analisar as razões de estar perdendo dentro de cada degrau, como, por exemplo, plantio, controle de ervas daninhas e doenças, fertilidade do solo. Existem muitos erros e os produtores precisam entender que é necessário tratar o feijão como soja e trigo. É preciso conhecer a planta do feijão e entender que há alguns estágios importantes. Vou citar os mais importantes: no V0 é essencial tratar a semente do feijão, sem usar semente salva. O próximo estágio é o V4, que é quando eu tenho três folhas trifolioladas formadas e está saindo a quarta folha. Este é o momento de usar uma adubação de cobertura, com ureia, sulfato de amônia e também com cloreto de potássio. A partir daí, a planta vai depender do solo, usando o adubo que o produtor colocou lá. Depois do V4, precisa ter raiz para se desenvolver. O próximo estágio importante é o R5, quando sai o primeiro botão floral. Este é o momento de fazer a primeira aplicação de fungicida e pode-se usar alguns produtos estimulantes para pegamento das flores. No R7 começam a se formar as primeiras vagens e podemos entrar com a segunda aplicação de fungicida e utilizar adubos foliares, que vão ajudar no aumento de número de vagens e grãos por planta e peso do grão. Após 15 dias do R7, é importante fazer a última aplicação de fungicida. Estes são alguns momentos para prestar atenção no manejo”.
Importância do uso de sementes de qualidade
Henrique Luis da Silva – Pesquisador IDR Paraná
“A semente é a base para uma lavoura de sucesso. Quando se trata de feijão, a utilização de sementes é muito baixa. O produtor acaba utilizando na maioria das vezes, grãos. O que tentamos reforçar é que semente não é grão que germina. É algo totalmente diferente. A semente é produzida dentro de uma série de critérios de qualidade, que vão proporcionar a este material uma classificação de qualidade diferenciada. Quando o produtor utiliza uma semente certificada, ele tem a garantia que vai ter o stand ideal na lavoura, isento de doenças e consequentemente, o potencial produtivo da cultivar vai estar preservado. Com isso, é mais fácil chegar ao objetivo final, ou seja, um alto rendimento. A semente é a base para o produtor conseguir atingir o resultado. Vai ter que contar com todas as boas práticas agrícolas associadas a isso, mas a semente tem essa característica de poder potencializar. Quando o produtor utiliza grãos ou material que não é oficial, ele não sabe o que está levando para propriedade. Podem ocorrer uma série de problemas, como doenças e plantas daninhas”.
Adubação do feijoeiro
Leandro Michalovicz – técnico IDR Paraná
“A construção da fertilidade do solo começa na calagem, correção de acidez e a neutralização do alumínio, com possibilidade da utilização de outros insumos, como o gesso agrícola. O fósforo na nossa região é um nutriente extremamente limitante, baseado na análise de solo. Esse deveria ser o principal ponto de decisão do produtor para escolher fontes, para depois terminar a adubação nitrogenada e potássica. Se isso não for possível fazer na linha de semeadura, devem-se utilizar as coberturas. Por fim, as épocas de cobertura, com nitrogênio e potássio, seriam ideais para o feijoeiro, com dois a quatro trifólios abertos. É legal entrar com adubação foliar no R5, que é o início da floração, utilizando cálcio e borio”.
Manejo Integrado de Pragas (MIP) no feijão
Maghnom Henrique Melo – pesquisador IDR Paraná
“A cultura do feião se tornou muito técnica. Diferente da soja que tem um pacote tecnológico mais fácil, no feijão é imprescindível não perder os momentos. O que a gente vem fazendo com o MIP, é aprimorar esta técnica. Diferente da soja, onde é feita a batida do pano, no feijão conseguimos validar uma metodologia diferente, trabalhando com visualização. Ao invés de chegar no campo e bater o pano, vamos por pontos visuais. Assim, conseguimos mudar o nível de controle. Para a cultura da soja que seriam tantos insetos por metro, na batida, para o feijão isso é por plantas. Assim, o método é mais rápido, fácil e com uma melhor média. Por ser muito rápida, a cultura do feijão não permite que você perca dois, três dias, por exemplo. É primordial o produtor fazer o monitoramento semanalmente, porque ela tem só 90 dias de ciclo. É preciso pensar que o feijão é muito sensível a fitotoxicidade. E inclusive isso pode ser invisível, não chega a queimar folha, mas trava o desenvolvimento da cultura. No Paraná, a média é de mais de sete aplicações de inseticidas no feijão. Isso é muito. Por isso, o monitoramento é importante. Temos conseguido travar em uma, no máximo duas aplicações de inseticida com o MIP. Assim, com menor fitotoxicidade, há melhores produtividades. Outra vantagem é que o controle natural no Paraná é muito forte, por ter muitos locais de mato, que são abrigos para esses inimigos naturais. Quando se faz o uso sem critério de inseticida, se perde muito este controle natural e acaba não controlando efetivamente as pragas”.
Cultivares de feijão IDR
José dos Santos Neto – pesquisador IDR Paraná
“Temos várias cultivares em nosso portfólio e as que se destacam são as duas últimas lançadas: IPR Sabiá do grupo comercial Carioca e a IPR Urutau, do grupo comercial preto. Essas duas cultivares são resistentes ou moderadamente resistentes às principais doenças do feijão. O IPR Urutau é a mais cultivada na região de Guarapuava, onde há bastante problema com doenças. Essa cultivar, por ser muito rústica, tem sido utilizada pelos produtores em grande extensão. Na região, tem incidência de antracnose e crestamento bacteriano e essa cultivar é moderadamente resistente a elas. Ela tem ciclo semi-precoce, com a colheita de cinco a 10 dias antes que uma cultivar de ciclo médio. A IPR Sabiá tem um porte ereto, que é muito bom para a colheita mecânica direta. Ele vai perder pouquíssimo feijão no solo, na hora da colheita. E ela também é muito rústica, além de ter um potencial produtivo de quase 4700 kg/ha. Também mostramos um pré-lançamento do IDR, a IPR Águia, que será lançada em março, no Polo de Ponta Grossa. O grande diferencial desta cultivar do grupo carioca, é o escurecimento lento dos grãos até 12 meses e o porte ereto para colheita mecânica direta”.
Redução das perdas na colheita do feijão
Hevandro Dalalibera - pesquisador IDR Paraná
“Quando entram em contato com a gente sobre a colheita mecanizada, antes do produtor pensar na máquina em si, pedimos para ele ter cuidado com algumas questões do manejo da área. É preciso tentar escolher áreas com plantio direto, onde o solo é mais firme, ajuda a máquina colher e não afundar. Como a plataforma estará colhendo muito rente às plantas, se é uma área que está em convencional ou o solo muito fofo, a plataforma afunda, sujando o feijão e perdendo a qualidade. Portanto, o primeiro passo é escolher uma área para colheita mecanizada e preparar essa área para isso. Além de fazer um bom plantio, não deixando o camaleão para a linha de semeadura atrapalhar a colheita. Ter boa massa de plantas no momento da colheita também é outro ponto importante, pois é uma condição de manejo da área. Quando se tem isso, a plataforma da máquina funciona melhor, dá mais fluxo no processo de corte e recolhimento pela plataforma universal, usada nas colhedoras combinadas. Tendo esses cuidados, o produtor vai começar a pensar a máquina, no sistema de trilha que vai usar, se é axial ou tangencial. Os mais comuns são os sistemas tangenciais, onde é necessário colocar redutores, que são polias que reduzem a velocidade no sistema de trilha para melhorar a qualidade física do grão. No próximo ponto, sempre que o IDR trabalhou com colheita mecanizada de feijão, tivemos em mente que as perdas mais críticas, são aqueles materiais que ficam no campo. E 90% das perdas da colheita mecanizada de feijão, usando colhedora combinada está na plataforma universal, que é o mecanismo que corta e recolhe as plantas no campo, para serem processadas no sistema industrial da máquina. Essas perdas são as que causam impactos econômicos no processo de colheita e geram problemas para a cultura posterior. É muito comum ficar até 500 quilos de grãos no campo, infelizmente. E isso é facilmente reduzido com essa questão do planejamento da área, regulagem da máquina e treinamento do operador. Às vezes o operador está acostumado com a colheita de outras culturas que demandam menos atenção na plataforma. O feijão exige mais atenção, o operador é a principal peça e pode ser a grande causa de perdas”.
Cultivares de feijão da Embrapa
Jose Luis Cabrera Diaz – Analista Arroz e Feijão Embrapa
“A Embrapa trouxe 10 cultivares de feijão para apresentar no evento. O destaque do segmento feijão carioca continua com o BRS Silo. Um feijão com características agronômicas muito favoráveis para o cultivo, embora tenha um segundo material, que é o BRS FC310, material bastante rústico com um ciclo semi-precoce de 80 a 85 dias. No segmento de feijão preto, continuamos com o BRS Esteio, um excelente material, tanto para as características desejadas pelo produtor, com capacidade produtiva acima de 4500 kg/ha, quanto para o consumidor. Ele tem sabor aprovado, textura, maciez e tempo de cozimento desejado. O seguidor dele é o BRS FP403, um material com o mesmo tempo de produtividade, com 4500 kg/ha, utilizando uma excelente tecnologia. O BRS Esplendor é ideal para uma agricultura orgânica, porque tem uma resistência grande às principais doenças do feijoeiro, usando menos fungicidas. Mas, no mercado da indústria empacotadora, ele tem uma certa restrição pelo tamanho do grão, porque eles consideram muito miúdo. O terceiro grande segmento que a Embrapa gera cultivar é o segmento de feijões especiais, que são feijões olhando o mercado externo. São graúdos, de outras espécies, diferentes dos consumidos aqui no Brasil”.
Inoculação e co-inoculação de semente de feijão
Diva de Souza Andrade – Pesquisadora IDR Paraná
“A inoculação é uma biotecnologia muito importante para ser usada na propriedade. Além de ter uma redução no custo de produção com os adubos nitrogenados, vai trabalhar em favor do sequestro de carbono, que na produção do adubo nitrogenado vai utilizar os derivados de petróleo. Esta tecnologia biológica coloca para planta um nitrogênio que é fornecido diretamente. É importante o produtor fazer um custo de produção depois e ver o quanto ele economiza. Mesmo adquirindo inoculante, sai em média 20% mais barato do que a adubação nitrogenada. A inoculação contribui muito para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas”.