Quarta-feira, 14 de setembro de 2022
Mais de 200 pessoas compareceram ao anfiteatro do Sindicato Rural de Guarapuava no dia 21 de junho, no evento Caravana Embrapa FertBrasil, que debateu maneiras de amenizar os impactos da crise dos fertilizantes na produção agropecuária.
A programação foi constituída de cinco módulos, onde os palestrantes, todos pesquisadores da Embrapa, buscavam sugerir alternativas para um uso racional e consciente dos fertilizantes, para diminuir custos, sem afetar a produção das culturas.
O presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, Rodolpho Luiz Werneck Botelho, enfatizou que eventos desse gênero aproximam a pesquisa, produtores rurais e técnicos. “São nesses momentos que os produtores têm mais conhecimento sobre o que a pesquisa está fazendo e ao mesmo tempo, a pesquisa, com instituições como a Embrapa também conseguem ouvir melhor os anseios e necessidades dos produtores”, comentou.
Botelho também falou sobre a relevância do tema tratado no evento. “A caravana mostrou, que mesmo em uma época de custos e preços dos fertilizantes elevados, uma agricultura sustentável, bem feita, com acompanhamento técnico é de extrema importância. Buscando sempre diminuir custos e não a produção”, observou.
O coordenador nacional da Caravana Embrapa FertBrasil, Paulo Galerani, explicou que a ideia desses encontros, que estão acontecendo nas principais regiões produtoras do Brasil, surgiu de uma demanda do Governo Federal, por meio da Secretaria de Assuntos Estratégicos e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). “A Embrapa foi procurada para fazermos alguma ação em relação ao tema fertilizantes, devido aos problemas internacionais de falta desses insumos, dificuldades na importação, aumento de custo e mais o agravante da Guerra da Rússia e Ucrânia. Nós já tínhamos a experiência da Caravana Embrapa: Conhecimento a caminho e decidimos seguir. É uma metodologia que usamos, eventualmente, para assuntos e problemas que afetam o agro como um todo”.
Galerani ainda destacou que a caravana não tem o objetivo de falar sobre o problema e sim apresentar algumas opções para o gerenciamento no uso dos fertilizantes. “Não trazemos uma bala de prata que vai solucionar tudo, mas trazemos elementos para o gerenciamento, para que os produtores utilizem de forma racional os fertilizantes”.
O produtor rural Wienfried Leh esteve presente ao evento e aprovou a iniciativa da Embrapa. “No momento de crise de fertilizantes em que vivemos, esse evento é de extrema importância. Demonstra que temos opções e instituições buscando maneiras de minimizar esse nosso alto custo”.
Confira, de forma resumida, os cinco módulos apresentados no evento:
1 - Ferramentas para o planejamento agrícola: onde e quando plantar?
Angelo Mansur Mendes
“Passamos algumas sugestões aos produtores, como o aplicativo da Embrapa, Zarc e o Passo Certo, que são as ferramentas disponíveis para ajudar o produtor a tomar decisões sobre a época ideal de plantio das culturas. É preciso voltar a fazer uma reflexão com os produtores e técnicos para separarem as áreas conforme as características do solo, seja pela declividade, textura e outros pontos. Enfatizo muito a importância da textura no uso de adubação, mecanização, enfim do manejo do solo no geral. É preciso entender o solo, não só na parte superficial, mas pelo menos em 50 centímetros. E se puder fazer trincheiras para entender se tem camada compactada, onde a raiz está chegando, isso ajuda bastante. Aqui na região é interessante usar a calagem, porque para poder colocar uma planta, eu preciso arrumar o solo. Por exemplo, não adianta colocar um móvel na sua casa se não fez acabamento na estrutura. Então a calagem seria essa estrutura. É preciso fazer a calagem para depois pensar na adubação. Outra característica da região é a declividade. Tem bastante solo com característica boa, mas é preciso tomar cuidado com a declividade. A prática de conservação do solo aqui é fundamental. É preciso ter solos sempre cobertos”.
2 - Boas Práticas para o uso eficiente de fertilizantes
Cesar de Castro
“Em função dos fertilizantes serem muito caros dentro do custo de produção, eles devem ser colocados com bastante parcimônia no campo. Para isso, o produtor precisa saber quanto o solo dele tem de nutrientes. E ele obtém essa resposta através da análise do solo. No entanto, é preciso fazer uma análise bem feita. A avaliação para verificar se está sendo realizada uma boa adubação pode ser feita também pela análise foliar, que vai mostrar se aquilo que ele está colocando no solo, as plantas estão absorvendo. Assim como a análise do solo, ela diz quais são os teores de nutrientes, como nitrogênio, fósforo e potássio. Em função disso, ele poderá avaliar se a planta está produzindo bem mesmo. A Embrapa está disponibilizando uma plataforma para ajudar o produtor, a Afere. Ela vai computar as informações de solo, análise foliar e de grãos e poder informar qual a melhor adubação que ele vai ter, qual o equilíbrio nutricional que ele tem. Inclusive com a utilização do DRIS, que indica não só através de tabela quais são os teores de nutrientes na cultura, mas também como está o equilíbrio desses nutrientes na folha. Através desse dispositivo, o produtor vai ter um histórico da propriedade e vai saber como está a sua evolução”.
3 - Novos fertilizantes e insumos: novas tecnologias para suprimento eficiente de nutrientes as plantas
Juliano Corulli Corrêa
“Apresentamos quatro inovações tecnológicas relacionadas aos fertilizantes. A primeira foram os novos fertilizantes de eficiência aumentada. Dentro disso, estão os coatings, que são os encapsulados, utilizados, principalmente, em culturas de valor agregado e produção de mudas. Também existem os compósitos, que como exemplo temos a ureia com zeólita. Ainda apresentamos os fertilizantes que são aspergidos em sua superfície com nanopartículas, com inibidores de uréase e nitrificação. Como exemplo temos a superureia, super N e também fertilizantes orgânicos, organominerais, granulados e com microrganismos. A segunda inovação são os fertilizantes organominerais, constituídos por parte de fertilizantes orgânicos e fertilizantes minerais, podendo fazer menor salinidade, a maior ação com os microrganismos e produção de hifas e ao longo do tempo, nosso trabalho tem demonstrado que eles trazem uma construção de fertilidade do solo mais favorável contra o mineral. A terceira inovação que trouxemos foram os remineralizadores ou pó-de-rocha. Foi contextualizado o que a Embrapa está oferecendo e apresentada a maior necessidade de pesquisas a campo, para se tratar do remineralizador como substituto de fertilizantes. Ainda não podemos afirmar isso, devido a baixa solubilidade do potássio, principalmente. Os remineralizadores ajudam o solo, principalmente na absorção de água e maior capacidade de absorver, principalmente, cátions. Então, ele tem o seu lugar e complementam os fertilizantes minerais, durante um planejamento desses insumos. A quarta inovação são os inoculantes, principalmente, para semente ou no sulco. Formados, principalmente, por microrganismos do tipo fungos ou bactérias ou mesmo os dois. Principalmente, azospirullum para milho, trigo, braquiária e cana, os bradyrhizobium, conceituados para fixação biológica de nitrogênio e também solubilizadores de fósforo, como o BiomaPhos”.
4 - Soluções digitais refinando aplicações: como tratar variações na lavoura
Ronaldo Oliveira
“Esse é o módulo que trata de um assunto transversal aos outros módulos da caravana. Ele discute as soluções digitais em termos de aplicativos de recomendação de adubação e correção do solo, considerando a prática de aplicação homogênea de fertilizantes. Aqui, consideramos questões da importância da qualidade dos dados, dos métodos de armazenamento e coleta de dados georreferenciados, para caracterizar e gerenciar as variações do solo dentro do talhão. É uma especialização do módulo 1 e uma escala mais detalhada no tratamento da informação. É uma questão de colocar mais o conhecimento agronômico em termos de espacialização. Quer dizer, como utilizar os dados da agricultura de precisão para sistematizar o conhecimento agronômico, dentro da decisão de como delinear zonas de manejo para aplicações de insumo a taxas variadas. Então, aplicar mais aonde precisa mais e aplicar menos onde precisa aplicar menos, dentro de uma única operação de um talhão. Indicamos que exista uma amostragem de solo orientada, onde podemos usar os sensores de solo e produtividade e caracterizada, de maneira mais fidedigna à variação das propriedades do solo. E então poder tratar e aplicar os insumos de nutrientes, de acordo com a demanda de cada local do talhão”.
5 - Tecnologias Sustentáveis de manejo agrícola: por que usar?
Osmar Conte
“O foco foi o manejo de sistema de produção, o que se tem para adotar em termos de diagnóstico, principalmente, da parte física de solo, reconhecimento da realidade de campo e ações a serem implementadas. Falamos sobre o manejo de solo, por meio da diversificação do sistema de produção, que pode ser alcançada com o uso de diferentes espécies, em um foco de rotação de culturas, sucessão de culturas ou até mesmo diante de cultivos consorciados. Tudo isso buscando uma melhoria da qualidade física, química e biológica do solo. Ou seja, aumento da fertilidade do solo em um conceito amplo e pleno, que envolve esses três aspectos. Eles não podem estar dissociados, para alcançarmos o máximo que se deseja em qualidade do solo e, consequentemente, resposta produtiva dos cultivos. O enfoque foi muito grande nesse sentido, mas também com uma mensagem forte em relação ao manejo de conservação de solo. Onde nessa ótica de não poder se perder nutrientes diante à realidade atual, não podemos tolerar processos erosivos nas áreas agrícolas. É preciso ter estratégias para minimizar o efeito de escoamento superficial de água, maximizando a infiltração de água no solo e, por consequência, reduzindo ao máximo a erosão nas áreas. Mesmo nas situações onde não ocorrem a perda de solo, se ocorre uma perda exagerada de água da superfície e ela está carregando nutriente solúveis, a exemplo de potássio e nitrogênio. Isso não pode acontecer, porque não conseguimos nem calcular o quanto está se perdendo”.