Quarta-feira, 08 de março de 2023
Há quase cinco anos, o casal Alberto e Joelma Horst adquiriu uma pequena propriedade na Chapada do Jordão, em Guarapuava (PR). A princípio, a área com 14 alqueires era destinada para engorda de bovinos de corte. No entanto, devido a pouca quantidade de pasto, o casal estava encontrando dificuldades na pecuária.
Sendo assim, ambos começaram a analisar possíveis atividades que tornassem a propriedade sustentável. Alberto sempre gostou de vinhos e o casal tinha o hábito de visitar vinícolas. Por conta disso, em 2020, tiveram o insight de analisar a possibilidade de implantar um vinhedo com espécies Vitis viníferas, destinadas à produção de vinhos finos.
Constataram que na região não havia, na época, produtores destas espécies. Por isso, Horst buscou auxílio de um amigo do Rio Grande do Sul, proprietário de uma vinícola e vinhedo, que se propôs analisar a área, para juntos entenderem se era viável a implantação do plantio de uvas. Foram analisados fatores como clima, quantidade de sol, amplitude do sol - com a menor e maior temperatura ao longo do dia e a altitude. A conclusão foi que o Sítio da Gabi, como é a chamada a propriedade do casal Horst, apresentava boas condições para a cultura.
Normalmente, as pessoas começam a implantação de um vinhedo com uma quantidade menor de mudas, mas Horst queria apostar de verdade na atividade e decidiu que, de início, já iria plantar 10 mil mudas. A aposta, apesar de parecer arriscada, foi totalmente racional e todos os detalhes técnicos foram pensados, visando sempre a obtenção dos melhores resultados, tanto na qualidade das uvas, como na produtividade.
A área em que recebeu a implantação do vinhedo havia tido apenas o cultivo de pasto anteriormente. Com isso, o pontapé da atividade vinífera foi com a preparação adequada do solo. Nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre são alguns dos nutrientes que não podem faltar às videiras, por exemplo.
Desde o início, Horst quis levar a atividade da maneira mais profissional e efetiva, por isso começou a pesquisar muito e tomou a iniciativa de fazer um curso de sommelier. Dentre os aprendizados, ele soube que as uvas americanas são as mais resistentes a uma perigosa praga, que já atacou vinhedos pelo mundo todo: a filoxera. “A partir disso, foi desenvolvida uma tecnologia em que o porte enxerto da muda é americana e em cima é colocada a espécie desejada. Soubemos que na Itália faziam este tipo de muda e resolvemos importar de lá”, explicou.
O vinhedo foi implantado com três mil mudas de uva Chardonnay, duas mil de Pinot Noir, três mil de Cabernet Franc e duas mil de Malbec. As plantas se desenvolveram bem e em 2021, apenas algumas mudas precisaram de replantes. No mesmo momento, o vinhedo foi ampliado com um lote de cinco mil mudas. Desta vez, a quantidade foi dividida entre as espécies Syrah, Merlot e Sangiovese, também importadas da Itália.
Apesar das 10 mil mudas plantadas, primeiramente, já tivessem capacidade de produzir frutos em 2021, foi feita uma poda drástica para que isso não acontecesse. “A intenção foi aproveitar a força delas para ir para as raízes, para que as plantas crescessem mais fortes”, comentou Horst.
Festa da Colheita na Vinícola Horst
O inicio da primeira colheita do vinhedo da família Horst foi uma grande festa – literalmente. A família havia contado com a ajuda de familiares e amigos, lá em 2020, para plantar as mudas de videiras. Por isso, decidiu fazer do momento de colher a fruta, um grande marco para o início, do que tem tudo para ser uma grande história.
No dia 21 de janeiro, foi realizada a 1ª Festa da Colheita da Vinícola Horst. As mesmas pessoas que plantaram, ajudaram a colher as uvas e com isso, ganharam uma recompensa: um voucher para daqui a alguns meses, possam degustar o vinho feito com as uvas.
O vinho, inclusive, já está em produção. Enquanto a família Horst não constrói sua própria vinícola, que já tem um projeto no papel concluído, eles contam com a parceria da Vinícola Araucária, em São José dos Pinhais. Lá, eles têm toneis e barris próprios e estão produzindo os vinhos de forma exclusiva.
Os primeiros rótulos levarão o nome de “Vinícola Horst – Primeira Colheita”. Uma parte da colheita da espécie Chardonnay também vai virar frisante. “A primeira colheita é muito significativa para a história de uma vinícola. Por isso, queremos fazer um marco deste momento”, conta Horst.
A expectativa, ao finalizar a colheita de todo o primeiro lote plantado, é chegar à produção de 4.500 a 6 mil quilos de uva. De acordo com o produtor, isso equivale a cerca de cinco mil garrafas de vinho. No dia 21 de janeiro, na primeira etapa da colheita, foram colhidos 1.410 quilos de uvas, que resultaram em 1.150 garrafas de vinho.
“É importante ressaltar que nossas mudas ainda são muito novas e não estão demonstrando todo seu potencial produtivo. Mas com o que temos plantado hoje, a meta é chegar a 35/40 mil quilos de produção”, afirmou.
Brix
Alberto medindo o Brix de suas uvas com um refratômetro. Você sabe o que é o grau Brix? Se não, vamos explicar. Uma medida de Brix equivale a um grama de sacarose a cada 100 gramas da solução analisada. Portanto, se um vinho indica no rótulo que ele tem 10°Bx, significa que a cada 100g de vinho terá encontrará 10g de açúcar. Para vinhos mais finos, chamados popularmente de secos, a legislação exige o mínimo de 16° Brix. Normalmente, elas podem chegar até 25° Brix.
IDR e Secretaria Municipal de Agricultura fomentam produção de uvas em Guarapuava
O casal Horst, além de contar com uma consultoria privada, também tem tido o apoio da assistência técnica do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR). Quem presta este auxílio é o técnico extensionista, Nilo Patel. Ele é responsável pelo Projeto de Viticultura no munícipio de Guarapuava, que iniciou em 2013. A iniciativa conta com o apoio da Secretaria Municipal de Agricultura.
A maioria dos integrantes deste projeto possuem áreas pequenas e produção de uvas de mesa, diferentes das Viti viníferas produzidas por Horst. Mas todas possuem potencial para gerar diversidade e geração de renda nas propriedades.
O ambiente na região de Guarapuava é bastante favorável para produção de uvas. Com isso, a cultura tem despertado o interesse dos produtores, tanto que já são 50 famílias produzindo uvas no município.
Os interessados neste projeto devem, primeiramente, buscar a unidade do IDR, em Guarapuava. “Nós vamos até a propriedade analisamos se é um ambiente favorável para a cultura. Chegamos a um consenso do tamanho do projeto que ele quer implantar, custo de produção, mão-de-obra, investimentos necessários. Enfim, damos um parecer se ele é sustentável para aquele produtor”, explica Patel.
Os recursos de mudas e estrutura são por conta do produtor, mas existe o apoio tanto do IDR, como da Secretaria Municipal de Agricultura para obtenção de recursos por meio de financiamentos, como o Pronaf.
Outra possibilidade é o Programa Revitalização da Viticultura Paranaense (Revitis), criado em 2019, pelo Governo do Estado do Paraná, a fim de estimular a produção de uvas no estado. Neste ano, 19 famílias de Guarapuava serão beneficiadas com R$ 500 mil de recursos para esta atividade, sendo R$ 300 mil do governo estadual e R$ 200 mil Secretaria Municipal de Agricultura.
A cultura da uva não precisa de grandes áreas para ser implantada. “Até pouco tempo, trabalhávamos apenas com variedades americanas, uvas para mesa, produção de vinhos e sucos coloniais. Mas há dois anos alguns empresários mostraram interesse em culturas mais finas, com objetivo de produção de vinhos finos”, contou Patel.
Além de Horst, que implantou uma grande área de uvas finas, o produtor Riney Antônio Seller se interessou por este ramo. Desde 2014, ele implantou o cultivo de uva na sua propriedade, a Chácara Santa Ângelo, na localidade do Jordão, em Guarapuava. Ele plantava apenas a variedade bordô, uva de mesa e utilizada para vinhos coloniais, mas recentemente incrementou a produção com variedades de Cabernet Sauvignon e Niágara Branca para produção de vinhos mais finos. Merlot é outra espécie que o produtor pretende implantar.
Por ano, Seller produz em torno de 1500 a 2 mil litros de vinho. Por enquanto, a venda é mais privada para familiares e amigos. Mas em breve, ele quer registrar seu produto e aumentar suas vendas.
Patel vê com bons olhos o andamento do projeto de viticultura e conta que a expectativa é de ampliação. “Vamos trabalhar bem a produção já existente e melhorar a organização dos produtores, transformação e comercialização dos produtos. Já estamos discutindo a implantação de uma cooperativa de produtores de uva de Guarapuava, que acreditamos que irá contribuir muito para o crescimento. Esse grupo unido vai auxiliar tanto na produção, como na transformação do produto, para que não haja estoque de uva e tenha agregação de valor, com produção de vinho, suco ou geleia. Queremos trabalhar também a legalização e registro das agroindústrias”, comentou.
O secretário municipal de Agricultura, Itacir Vezzaro também entende que a produção de uvas em Guarapuava tem tudo para crescer. “O que precisa realmente é empenho, dedicação, assistência técnica e comprometimento. É nessa linha que estamos atuando. A parceria secretaria e IDR tem funcionado. O interesse é na diversificação de propriedades, aproveitando as áreas e mão-de-obra, melhorando a renda dos pequenos produtores. Precisamos incluir também esta produção na merenda escolar, por exemplo. Os alunos consomem sucos e por que não transformar a uva produzida aqui na região? Tenho certeza que no futuro Guarapuava poderá ser um grande polo produtor de uva, vinhos e sucos”, afirmou.
Quanto custa produzir uva?
Se houve interesse pela produção de uvas, saiba que o custo para investir nesta atividade depende de fatores como quais cultivares quer plantar, a finalidade da produção e qual o sistema irá adotar.
Em Guarapuava, o sistema adotado tem sido o espaldeira. Recomendação do IDR, ele é apresentado em forma de cerca, com palanques. Conforme Patel, este sistema tem um investimento menor de implantação e resulta na melhor qualidade das uvas.
Segundo o técnico, para plantar de 100 a 200 plantas, o ideal é ter uma área de um ou dois hectares. A produtividade na região tem sido de 7 a 8kg/muda. No sistema espaldeira, a média de custo inicial é de R$ 100 mil/hectare.
Horst também comentou seus custos de produção. Hoje, ele ocupa quatro hectares da sua área para os 15 mil pés plantados, que também estão no sistema espaldeira.
Como ele produz uvas Viti viníferas e importou as mudas, calcula, que o custo por muda é de R$ 61,00. O produtor faz questão de frisar que esse valor não é apenas o custo da muda e sim, de tudo que ele investiu desde a preparação da terra, implantação do sistema e manejo, nestes dois primeiros anos.