Quinta-feira, 17 de maio de 2018
Apesar de ainda pouco aplicado, o melhoramento genético tem se firmado como uma forma imprescindível para o incremento na rentabilidade da pecuária nacional. Há duas ferramentas que podem promover esse melhoramento: seleção e acasalamento.
Muito se comenta sobre seleção e sua utilização tem sido facilitada nos últimos anos com adventos em identificação e mensuração dos animais. Já o acasalamento direcionado, na maioria das vezes, ou não é empregado ou é utilizado de forma menos eficaz do que se poderia.
Quando se fala em acasalamento dirigido, muitos imaginam que o objetivo seja apenas correções morfológicas, como orelhas, pigmentação, marrafa e chanfro, mas a verdade é que essa ferramenta vai muito além disso e se torna fundamental no processo de melhoria nos principais fornecedores de genética do mundo.
Seleção
É importante que haja um levantamento da situação atual do rebanho, dos objetivos e dos critérios de seleção para que a escolha dos reprodutores que serão utilizados seja eficiente.
A partir de uma minuciosa análise, devem-se escolher os touros e as quantidades que cada um deles deverá ser utilizado. Após essa etapa, já é possível a verificação da média da próxima safra. Caso essa etapa seja negligenciada, mesmo com um ótimo direcionamento de acasalamento, não será possível atingir os objetivos.
Há a possibilidade de se definir a quantidade de utilização após o acasalamento individual. Isso dá maior liberdade para o acasalamento, mas deve se tomar cuidado para que não se concentrem acasalamentos com touros que, entre os selecionados, estejam entre os piores, o que é comum acontecer quando o acasalamento prioriza muito a correção morfológica dos animais. Nessa situação, o ganho genético esperado não seria alcançado.
Objetivos dos acasalamentos dirigidos
Entre os quatro objetivos citados, os dois últimos necessitam que os animais possuam avaliação genética:
Sabe-se que animais com alto coeficiente de endogamia (resultado do cruzamento entre parentes próximos) são menos produtivos. Esse fato é conhecido como depressão endogâmica e afeta, principalmente, a fertilidade e a sobrevivência.
Hoje, praticamente todos os programas de melhoramento dispõem de softwares, que calculam o coeficiente de endogamia dos possíveis acasalamentos e permitem limitar esse valor. Em geral, recomenda-se que esteja abaixo de 6,25.
O direcionamento individualizado dos acasalamentos é utilizado, há muito tempo, para essa finalidade. Consiste em encontrar o reprodutor adequado para corrigir um ou mais pontos morfológicos inadequados de uma matriz. O resultado esperado é a maior quantidade de produtos adequados a um padrão, seja ele estabelecido por uma raça ou pelo próprio selecionador. Como exemplos, podemos citar possíveis ajustes em frame, umbigo, pigmentação, garupa, boca, ossatura, caráter mocho, etc.
Apesar de essas características, em geral, possuírem alta herdabilidade (muita influência genética), devemos salientar que ocorrem muitos equívocos por serem informações, na maioria das vezes, de origem subjetiva.
Nesse sentido, o acasalamento funciona para corrigir alguma deficiência genética que o animal tenha. Em matrizes que sejam negativas para peso ao sobreano, por exemplo, seriam utilizados touros muito bons para essa característica, resultando, assim, em produtos positivos. Esse tipo de acasalamento pode ser chamado de corretivo ou compensatório.
Para isso, os atuais programas de melhoramento trabalham com possibilidade de filtros nas projeções das avaliações dos acasalamentos, ou seja, pode-se excluir acasalamentos que resultem em características piores que um valor predeterminado.
Quando é realizada a seleção prévia para os reprodutores e suas respectivas quantidades e se priorizam os acasalamentos corretivos, há um aumento na homogeneidade da próxima safra, podendo-se ter menos descartes por avaliações muito ruins, mas dificilmente serão produzidos animais de excepcional genética. Seguindo o exemplo acima, utilizaríamos as doses de sêmen de que dispomos de um touro com excepcional peso ao sobreano para corrigir as matrizes mais fracas nessa característica e teríamos que utilizar um touro inferior nesse quesito nas matrizes superiores.
Esse é o maior objetivo dos rebanhos de seleção. Baseia-se em priorizar o acasalamento dos melhores machos com as melhores fêmeas e, automaticamente, dos piores machos com as piores fêmeas (entre os já selecionados). A esse sistema é dado o nome de acasalamento entre semelhantes.
Quando se utiliza esse tipo de estratégia, há uma maior variabilidade genética da safra, o que é muito importante para se obterem animais “fora da curva”, objetivo primário dos selecionadores. Em geral, quanto mais se adota essa estratégia, mais se aumenta a quantidade de animais extremos e diminui a quantidade de medianos.
O gráfico acima mostra como se comportaria uma safra resultante do acasalamento entre os mesmos animais, diferenciando apenas a estratégia desse acasalamento. Nesse exemplo, a média dos touros é superior à média das matrizes e cada um deles é utilizado na mesma quantidade. Verificamos que, caso os touros sejam utilizados na mesma quantidade, a média da safra independe da estratégia. O que determinaria qual estratégia devemos adotar seria ligado ao objetivo:
- Homogeneidade dos produtos e obtenção de poucos animais com avaliação muito fraca: Acasalamento corretivo
- Produção de animais de excelente avaliação: Acasalamento entre semelhantes
Novidades
Os programas de melhoramento têm desenvolvido várias ferramentas para auxiliar o processo de acasalamento.
Há pouco mais de um ano, a Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), por exemplo, lançou o MaxPAG, um programa que sugere acasalamentos otimizados, os quais, além de controlar consanguinidade, têm a função de aumentar a variabilidade genética, resultando em maior ganho genético a médio e longo prazo.
Outro exemplo de inovação na área vem do programa Geneplus. Em sua ferramenta de pré-acasalamento, há a possibilidade de se classificarem as indicações pelo “Nível de Problema”. Com essa classificação, são priorizados os acasalamentos com réguas de Diferenças Esperadas de Progênie (DEPs) mais equilibradas, e não apenas por um índice final padrão, o que poderia “esconder” animais com características negativas indesejadas.
Também deverão estar disponíveis, em breve, programas que vão possibilitar o controle de consanguinidade por meio de avaliação genômica, o que será ainda mais preciso que método de análise que possuímos atualmente.
Longe de ser apenas uma ferramenta para ajustes estéticos, o acasalamento direcionado tem se tornado uma peça fundamental para o melhoramento genético planejado e sustentável. Realizá-lo de forma eficiente pode gerar uma significativa redução no tempo necessário para se atingirem os objetivos de seleção.