Terça-feira, 02 de março de 2021
A questão dos manejos agrícolas com tecnologias de base biológica mais uma vez foi tema de um evento, em Guarapuava, atraindo a atenção de produtores e de profissionais de assistência técnica rural. Realizado por uma consultoria agrícola com sede em Maringá (PR), o curso “Dinâmica biológica e nutrição de plantas” reuniu, nos dias 21 e 22 de janeiro, duas turmas de participantes voltados a culturas de verão e inverno. O Sindicato Rural sediou a parte teórica e uma propriedade rural da região, a prática no campo.
Da empresa organizadora, o economista Paulo Cesar do Amaral falou à REVISTA DO PRODUTOR RURAL. Conforme avaliou, também os agricultores com áreas de maior porte vêm se voltando a técnicas biológicas de manejos. “Nos últimos quatro anos, começamos a ver o interesse de médios e grandes produtores rurais pela sustentabilidade. Por processos sustentáveis de produção. Isso está crescendo cada vez mais”. Segundo completou, a consultoria tem visto, nos cursos que organiza, a presença de participantes não só dos locais dos eventos, mas também de regiões distantes: “Acontece um fenômeno interessante: as pessoas vêm de outros estados para os nossos cursos. Então, você vê muitas vezes produtores da Bahia, São Paulo, Mato Grosso, Paraguai, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo. Nesses últimos dois anos, temos atuado mais com cursos focados para negócios rurais e também mentorias, direcionadas para a produção sustentável”.
Em Guarapuava, acrescentou, outros cursos já ocorreram: “Temos essa interação desde dezembro. Já é o terceiro evento que fazemos aqui, onde o pessoal vem de fora, de outros estados, para participar”. Na atividade, o conteúdo incluiu tópicos como microbiota do solo e da planta, microbiodiversidade (estrutura e funções no solo e nas plantas), dinâmica biológica e nutrição de plantas (fixação, complexação, quelatação e solubilização de nutrientes pela biologia), controle de pragas e doenças das culturas (biologia que protege e mantém as plantas saudáveis), além de planejamento de bioativação do sistema produtivo, orientação de modos e métodos de monitoramento de plantas e lavouras para tomada de decisão de manejo e planilhamento de dados, entre outros.
Os assuntos foram detalhados pelo agrônomo pós-doutorado em Ecologia Microbiana de Solos e de Plantas (Universidade de Brasília - UnB / 2012 a 2013) e doutorado em Fitopatologia (Universidade de Brasília – UnB / 2005 a 2009), Celso Katsuhiro Tomita. Ao falar à REVISTA DO PRODUTOR RURAL, ele comentou suas explanações: “Estou abordando sobre o manejo da microbiologia do solo. Uma coisa chamada bioma do solo. Bioma da planta. E sistemicidade desses elementos na qualidade de produção. Onde temos certos elementos, que a gente maneja e cuida, para dar uma qualidade de produção, reduzindo o desenvolvimento de pragas, doenças e problemas ambientais que possa ter nesse sistema”.
Perguntado se também a introdução de tecnologias de base biológica na lavoura requer o aprendizado de outras formas de manejo, Tomita respondeu afirmativamente. Ele destacou que o insumo biológico contém microrganismos vivos e por isso requer que o agricultor considere alguns detalhes diferentes do manejo químico. “Tem que reconstruir o conhecimento. Não eliminar o conhecimento que você já tem. Reconstruir, com esses outros elementos, quebrando paradigmas. Porque os elementos químicos, eles são padrões. Você consegue fazer um calendário de aplicação desses materiais. Só que, contudo, a biologia é uma vida. Tem suas necessidades, suas vontades, seus momentos. Então, o trato, o manejo tem que ser diferenciado. É um cuidado sistêmico para dar uma qualidade de produção melhor. Se entender isso como vida, é mais fácil. Se entender ela como um elemento, vai tratar como um defensivo, somente, aí não vai dar certo no sistema”.
Durante um dos intervalos, dois produtores, também em entrevista, comentaram seu interesse nos temas tratados. Vindo de Cascavel (PR), onde produz soja, milho, trigo e aveia, Eduardo Zardo contou que já tem utilizado técnicas biológicas no campo: “Na verdade, a gente vem aplicando essa agricultura mais biológica, já fazem uns dois anos. No caso específico do Tomita, ele palestrou no Fórum Brasileiro (de agricultura sustentável), em Campo Grande (MS), e daí a gente se interessou pelo sistema dele e é uma forma de buscarmos meios para tentar reduzir custo”.
De São Aberto, no Paraguai, o agrônomo Fábio Pereira Soares, filho de produtor rural que decidiu morar no país vizinho, contou que assessora produtores rurais e busca novas tecnologias. “Na parte química, a gente já investiu bastante, lá no Paraguai. São solos de muito boa fertilidade. Solos argilosos. Mas a gente via que parece que chegou num limite. Então vamos tentar melhorar a parte biológica do solo. A biodiversidade do solo”, assinalou.