Segunda-feira, 24 de junho de 2019
A variabilidade climática dos últimos tempos tem sido motivo de preocupação e de muitos questionamentos. O homem busca de diversas maneiras prever o que acontecerá com o clima global.
Um dos maiores especialistas brasileiros em clima, o pesquisador Luiz Carlos Baldicero Molion, bacharel em Física pela USP, PhD em Meteorologia pela Universidade de Wisconsin (USA) e pesquisador aposentado do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE/MCT), onde foi diretor de Ciências Espaciais e Atmosféricas, esteve no Sindicato Rural de Guarapuava no dia 7 de maio, discutindo o assunto em sua palestra "Previsão climática safra 2019-2020 e tendência global para 10 anos".
Molion buscou responder e explicar várias questões relacionadas ao tema, principalmente o que está acontecendo com o clima e até que ponto as atividades humanas podem interferir neste comportamento.
Confira a entrevista que o pesquisador concedeu à equipe da REVISTA DO PRODUTOR RURAL DO PARANÁ, minutos antes de sua palestra no anfiteatro do Sindicato Rural, que reuniu mais de 120 pessoas, entre produtores rurais, profissionais e acadêmicos da área do agronegócio.
RPR - Existe o aquecimento global?
Molion - "Na verdade, houve um aquecimento global entre 1976 e 1999. A divergência que existe entre as minhas pesquisas e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é que eles atribuem esse aquecimento ao aumento de gás carbônico (CO²) na atmosfera, devido às atividades humanas, como a geração de energia termoelétrica, queima de petróleo ou carvão mineral. E também afirmam que o metano (CH4) liberado principalmente pela pecuária prejudica a atmosfera, causando o mesmo efeito. Esses dois gases são considerados gases de efeito estufa. A hipótese deles é que esses gases absorvem a radiação infravermelha que é emitida pela superfície terrestre. Então, o sol aquece a superfície, a superfície tem uma temperatura diferente e emite radiação infravermelha. Esses gases absorvem a radiação infravermelha. Teoricamente a afirmação é que se você colocar mais gases, eles vão absorver mais e não vão deixar a radiação infravermelha escapar para o espaço. Com isso, haveria um aumento da temperatura global. O efeito estufa surgiu em 1826, mas, na verdade, nunca foi comprovado cientificamente. O fato é que, hoje, a mecânica quântica moderna explica que o CO² absorve a radiação infravermelha e com isso, a molécula de CO² vibra, causando um efeito sanfona. Esses movimentos fazem com que a molécula de gás carbônico se choque com as outras moléculas que existem no ar, principalmente nitrogênio, que constitui 78% da nossa atmosfera, juntamente com oxigênio que representa 21% e o argônio, 0,9%. Então, 99% da nossa atmosfera é constituída por estes três gases. O CO² representa só 0,04%. A cada molécula de CO² existem 2500 moléculas dos outros gases. De tal forma que quando o CO² vibra, ele se choca e transfere a energia absorvida para essas outras moléculas. Então, a teoria está errada quando diz que o CO² absorve energia e emite em direção à superfície. O CO² absorve energia, mas esta absorção é insignificante".
RPR - Existem entidades que dizem que o ser humano é capaz de interferir no clima global, isso é possível?
Molion -"O homem não tem condições de interferir no clima global. Eles dizem que nos últimos 150 anos, desde que iniciou a era industrial, com a queima de petróleo e carvão, isso interferiu no clima. Na realidade, a variabilidade do clima é natural. Nós passamos por um período de aproximadamente 1350 D.C. até início do século XX (1915) em que as temperaturas estavam naturalmente baixas. A partir daí, começou a aquecer, porque o sol entrou em atividade maior e o sol estando mais ativo, há mais energia no sistema e mais aquecimento. Mas não foi por conta do CO². Na realidade, a principal fonte de CO2 são os oceanos, a vegetação e o solo. Estima-se que as emissões dessas fontes naturais sejam da ordem de 200 bilhões de CO2 por ano. E as emissão do homem é estimada em 9 bilhões. Então não faz sentido se preocupar com o CO2 emitido pelo homem, quando as fontes naturais emitem muito mais. Além disso, o homem manipula um percentual muito pequeno da superfície terrestre. A superfície terrestre é constituída de 71% de oceanos. Os continentes representam 29%, disso 15% são constituídos de desertos e terras geladas. Dos 14% que restam, 7% são florestas nativas, como a Amazônia. O homem ocupa apenas 7% da superfície terrestre. Fica muito claro que quem controla o clima são os oceanos, não o homem".
RPR - E quanto ao desmatamento, que é uma ação do homem. Ele é capaz de alterar o clima?
Molion - "Isso é uma grande mentira. Porque as pessoas pensam na conservação da Amazônia, por exemplo, que é importante, mas utilizam argumentos falsos que sensibilizam as pessoas leigas. Nós fizemos um estudo do último El Niño, que aconteceu de 2014 a 2016. No início de 2014, o sistema Cantareira entrou em colapso e São Paulo ficou sem água. Houve uma seca muito grande. Começaram a falar que a seca era devido ao desmatamento da Amazônia. Então, resolvi, juntamente com um aluno, colocar números nisso. Fizemos o seguinte: colocamos paredes virtuais e uma tampa a 8km de altura lá na Amazônia. Nós já tínhamos um conjunto bom de dados de lá, de 1999 a 2014. Fizemos o trabalho em 2015. Esses dados eram medidas de ventos em altitude e de umidade em altitude. Computamos o fluxo, quanto o vento estava trazendo de umidade do oceano para dentro da Amazônia e também quanto saiu pelas paredes. Foi verificado que destes 16 anos, 2014 foi o ano que mais entrou e saiu umidade da Amazônia e foi em direção ao sudeste e sul do país. Tinha muita umidade. Então porque foi seco? Aconteceu o seguinte: formou-se um sistema de alta pressão, que é formado por ar seco e desce em cima da região. Isso provoca uma inversão de temperatura de tal forma que a umidade é canalizada e não consegue furar essa tampa, que é a camada de inversão. Teve umidade, mas as condições atmosféricas não permitiram que essa umidade se transformasse em chuva. Fechamos também o balanço hídrico da bacia amazônica, aproveitando estes cálculos. Chegamos à conclusão que entra um milhão de m³/segundo de água na forma de vapor na bacia. Desses, 60% já passa direto. Ficam 40% dentro da floresta e metade sai pelo rio. Os outros 20% são reciclados pelas árvores. Então, a bacia amazônica está em equilíbrio. Ela não pode ser a fonte de umidade no clima, se não viraria deserto e também não pode reter a umidade, se não alagaria. A Amazônia não interfere na chuva da América do Sul. O desmatamento que acontece lá e em outros lugares não interfere no clima. Ele é muito ruim, porque interfere em outras questões locais importantes, como perda de biodiversidade, particularmente de microrganismos, que são muito importantes e deveriam receber mais atenção. Além disso, sem as árvores, se expõem o solo, causando a erosão, que interfere na qualidade dos rios, vida aquática e outras questões. Ninguém quer o desmatamento. Mas por outro lado para conservar a floresta não podemos usar de mentira, dizendo que ele interfere no clima ou chuva".
RPR - Como podem ser explicadas as alterações climáticas, como secas, o aumento de temperatura do planeta e a instabilidade?
Molion - "Existem três métodos: a estatística, por exemplo, escolhe o dia 7 de maio, observa o que aconteceu todos os anos no dia 7 de maio e prevê que acontecerá algo parecido. A outra é a utilização de modelos de clima, que é um código de computador. E o método que eu uso chama-se previsão por similaridade. Eu olho para situação que temos hoje, temperaturas dos oceanos, como foi o inverno nos continentes, olho o mundo todo e se cria um cenário. Analiso os anos anteriores e vejo qual teve um cenário semelhante. Nunca vai ser igual, mas vai ser semelhante. Como eu já tenho as medidas de chuvas e temperaturas, uso aqueles números para fazer uma projeção. Eu espero que a atmosfera reaja da mesma maneira baseado em cenários semelhantes, e já que o homem não tem condições de interferir nisso, geralmente o clima responde da mesma maneira".
RPR - O senhor fala que haverá em breve um resfriamento global? Quando isso acontecerá ou já está acontecendo? E quais as consequências?
Molion - "Toda projeção, que é feita pelo IPCC, está baseada nos modelos de clima, que são os códigos de computador. Mas existem códigos muito complexos. Por exemplo, o modelo que a NASA usa tem mais de um milhão de linha de instruções. Só que os modelos não têm capacidade de representar de forma correta os fenômenos físicos que acontecem na atmosfera. Eles não levam em conta muita coisa que atua em cima do clima. Eles não conseguem reproduzir as estruturas mais básicas do clima. E o principal problema e o que mais nos interessa é que o modelo não sabe quando vai chover. É muito complicado esse processo de formação de chuva e o modelo não tem condição de fazer isso. Esses modelos estão sintonizados para responder o aumento de concentração de gás carbônico. Quando eles colocam mais concentração desse gás, as temperaturas aumentam. Então eles dizem, por exemplo, que se dobrar a quantidade de CO², que se é emitida atualmente, a temperatura pode chegar 5° a mais do que está hoje. Eles fazem projeções com cenários fictícios, porque não há conhecimento exato de quanto CO² o homem vai emitir. Os modelos não são modelos bons, com isso, os resultados não são confiáveis. E por que eu digo que, na verdade, não vai esquentar, vai esfriar? Primeiro porque o sol é uma fonte de energia e a intensidade dele varia. O que já foi observado é que no final do século XVII, de 1798 até 1820, o sol passou por um período mínimo de atividade, depois se repetiu no início do século XX. E agora passados 100 anos, o sol está novamente passando por um mínimo de atividades. Os físicos solares afirmam que deve começar ainda esse ano. E isso deve durar de 10 a 12 anos. O efeito é indireto. Não é que vai diminuir a radiação solar que chega na terra. Acontece que quando o sol está no mínimo de atividade, o campo magnético também enfraquece e é ele que protege a Terra do bombardeio de partículas de alta energia que vêm do espaço. Quando elas entram na atmosfera, se chocam com as moléculas da atmosfera e cria-se uma espécie de chuveiro de partículas ionizadas. E pelo menos em laboratório, estas partículas produzem mais nuvens e esse é o ponto principal. Vamos pensar que as nuvens funcionam como uma cortina na janela. Quando está entrando muito sol na janela, você vai lá e fecha a cortina. Então se aumentar a cobertura de nuvens, menos radiação solar entra na terra e o clima fica mais frio, porque primeiramente, esfriam-se os oceanos. Nos últimos 20 anos, os oceanos já começaram a esfriar. E se o oceano esfriar, esfria a atmosfera e o clima. Esse resfriamento é sentido na intensificação das massas de ar polar, as chamadas frentes frias. Por exemplo, em janeiro, nos Estados Unidos, uma massa polar derrubou a temperatura, no meio-oeste americano, chegando a 40° abaixo de zero. E neste ano, em plena primavera deles, a temperatura caiu de novo. Isso é um impacto grande para a agricultura, principalmente lá. Como eles têm uma janela muito estreita de cultivo, com plantio e colheita dentro de um período de 150 dias, se são perdidas duas semanas no início da safra, quando tiver pronto para colher, já pode cair neve, granizo ou geada. E na safra anterior, de 2017/2018, teve gente que já colheu soja com neve no chão. Esses fenômenos podem ser mais comuns, com as massas polares mais frequentes, causando mais geadas, neve e granizo. Aqui no Brasil isso também foi sentido. Ano passado, as serras gaúchas e catarinenses tiveram geadas em pleno janeiro. Estimo que esse período frio durará até 2030 e depois, naturalmente, o planeta volta a aquecer. Estou me baseando no que já aconteceu no passado. Sempre foram ciclos de até 25 anos, independente da concentração de gás carbônico, uma variabilidade natural que ocorre devido ao controle que os oceanos tem sobre o clima e de como o sol interfere nisso".
Participantes elogiam palestra
ANSELMO STUEPP, produtor rural
“A palestra foi espetacular. O que ele nos mostrou nos abriu uma janela para enxergarmos o mundo de uma forma mais crítica e alternativa, ou seja, nos abriu a perspectiva de ficarmos bitolados naquilo que sempre recebemos. As afirmativas deles acabam confirmando coisas que já em outras épocas foi falado, como, por exemplo, os ciclos climáticos, que normalmente não se ouve falar, só se fala em tendência. Ele vem e quebra esse tabu. Além disso, tristemente o produtor rural é taxado como destruidor. Mas ninguém quer estragar o meio ambiente e ele não é responsável pelas alterações climáticas, não somos os culpados. E ele deixou essa mensagem de forma clara e científica”.
CARLOS GUARESE, gerente da MacPonta em Guarapuava e Quedas do Iguaçu
“Foi bastante interessante. A gente já participou de outros eventos, até no sindicato, em que alguns palestrantes também abordaram o tema clima, mas a palestra do prof. Molion foi mais específica. Para mim, foi a melhor palestra sobre clima que a gente ouviu até hoje. Me parece muito mais próximo da realidade do que a gente escuta por aí, do que eu já assisti, de outros palestrantes, não só aqui, mas em outros locais também”.
HELMUTH SEITZ, produtor rural
“Achei muito interessante a palestra, uma ação muito importante do sindicato, trazendo pessoas especializadas no assunto. Para nós, cada informação que agrega para agricultura é muito válida”.
RENE BANDEIRA, produtor rural
“O tema da palestra me chama bastante a atenção. A gente sabe que está na mídia há muito tempo, mas precisamos de certezas. Claro que, dentro deste assunto, não temos certeza de nada, mas sabemos que podemos utilizar essas informações repassadas para, pelo menos, sairmos de uma ilusão e termos benefícios dentro da nossa atividade”.
O produtor rural Roberto Cunha, diretor do Sindicato Rural, fazendo um agradecimento ao Prof. Molion. Roberto foi quem sugeriu e organizou a vinda do professor para Guarapuava. “O objetivo do Sindicato Rural em promover a palestra com o professor Molion foi trazer conhecimento de uma forma real do que acontece com o clima. Tivemos a intenção de esclarecer as informações que as mídias colocam de forma errada. O Sindicato Rural agradece muito ao Molion por ter aceitado vir até Guarapuava. Pelo tempo cedido de ele vir até aqui e por ter apresentado uma palestra sobre o clima de forma geral, mas também se dedicado em mostrar o que acontecerá com o clima, especialmente, na região de Guarapuava. A intenção do sindicato é trazer palestras com qualidade de informações cada vez melhor, tanto para os produtores rurais, como para a população de uma forma geral, promovendo uma integração entre a classe rural e urbana”.