Segunda-feira, 04 de novembro de 2019
O Fórum para a Promoção da Qualidade no Sistema de Plantio Direto por meio do Índice de Qualidade Participativo (IQP), realizado dia 15 de agosto em Guarapuava, formou um comitê, de produtores e pesquisadores, visando iniciar os trabalhos para estabelecer um IQP calibrado para Guarapuava e região – a exemplo de um parâmetro semelhante já definido e em utilização em algumas propriedades da região oeste do Paraná. Realizado pela Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (Febrapdp), com apoio da Itaipu Binacional, Centro de Pesquisa Positivo, Universidade Estadual de Londrina, Unicentro, Agrária/FAPA e Sistema FAEP, o evento ocorreu durante a manhã no anfiteatro do Sindicato Rural e à tarde numa propriedade no distrito de Entre Rios. A programação trouxe, além da criação do comitê, palestras de pesquisadores. Eles defenderam que o produtor evite deixar áreas em pousio e que, para fazer a cobertura do solo, diversifique as culturas, porém usando sempre aquelas apropriadas a cada região.
Na abertura do encontro, realizaram pronunciamentos destacando a importância do plantio direto para os produtores e o meio ambiente, os presidentes da Febrapdp, Jônadan Hsuan Min Ma; da entidade sindical rural, agrônomo e agropecuarista Rodolpho Luiz Werneck Botelho; e o coordenador de mudanças climáticas do Ministério da Agricultura (MAPA), Elvison Nunes. Compareceram agricultores, estudantes e profissionais de carreiras ligadas à agropecuária.
Presente ao fórum, a REVISTA DO PRODUTOR RURAL conversou com Min Ma. Segundo analisou, o sistema de plantio direto já é conhecido há cerca de 50 anos, mas vários produtores têm deixado de lado detalhes importantes. “O não revolvimento do solo, as pessoas fazem bem. Mas há outros dois princípios que precisam ser mais bem trabalhados: ter cobertura permanente por meio de uma palhada, de planta de cobertura ou outra cultura e ter a rotação de culturas, com diversificação ao longo do ano, para ter diversidade do sistema radicular, da reciclagem de nutrientes, de inimigos naturais”, especificou. Ainda conforme observou, para que aquele objetivo seja alcançado na prática, instituições apoiaram a idealização de um índice que traduz em números o nível de qualidade de um plantio direto: “O IQP foi criado em parceria entre a Embrapa, a Universidade Estadual de Londrina, o Parque Tecnológico de Itaipu, a Federação Brasileira de Plantio Direto e outras instituições de pesquisa e ensino. São nove índices, que avaliam quais os pontos o produtor tem que observar”.
Responsável pela palestra “Índice de Qualidade Participativo no plantio direto”, que detalhou o IQP, o coordenador de Projeto da Febrapdp, agrônomo Jeankleber Bortoluzzi, ressaltou que o fórum visou não apenas a difusão daquela informação, mas teve uma meta prática: criar um grupo para gerar um IQP local. “O indicador, hoje, é validado para a região Oeste do Paraná. Nosso objetivo agora é adaptar para novas regiões. Vamos debater quais são os problemas que estão acontecendo com o plantio direto aqui e propor soluções”, explicou em entrevista.
Já o pesquisador Francisco Skora Neto (IAPAR) enfocou o tema “Estratégia para manejo de resistência de plantas daninhas”. Ele sublinhou que a cobertura pode ajudar. “Essas plantas têm uma capacidade de crescer muito grande, de se desenvolver, de fechar o terreno e abafar o mato. É uma das práticas num plantio direto de qualidade, que o cidadão não pode pensar em deixar de fazer”, afirmou.
“Diagnóstico da compactação do solo e ações mitigadoras” foi o assunto da apresentação do professor Ricardo Ralisch (UEL). “Temos uma tendência de intensificar o sistema de produção em função de uma pressão econômica, o que é natural na atividade agropecuária. A pressão significa termos sempre uma cultura comercial. Isso acaba exaurindo algumas características do solo – por exemplo, matéria orgânica”, advertiu o especialista, relacionando a questão com alterações no perfil. “Uma das coisas que eu quis destacar é justamente como a compactação pode evoluir, não por uma questão de pressão mecânica, de máquina, mas por falta de matéria orgânica, falta de plantas de cobertura ou de um sistema de rotação de cultura”, declarou.
Outro pesquisador, Ademir Calegari (IAPAR), que também é consultor internacional, realizou apresentação com o título “Estratégias para aumento da matéria orgânica e fertilidade do solo por meio de plantas de cobertura para rotação de culturas e cobertura do solo no período de entressafra”. Em entrevista, ele voltou a preconizar que os agricultores diversifiquem suas culturas de cobertura. “Com os blends (mix), saímos da monocultura, saímos do uso de plantas individuais e vamos para a biodiversidade. Mais microorganismos, mais reciclagem e consequentemente aumento de vida, de matéria orgânica, de potencial produtivo”.
No campo, o destaque de uma das quatro estações do fórum foi a bióloga com mestrado em agronomia Marie Bartz (Universidade Positivo), filha do produtor Herbert Bartz (região de Rolândia-PR), lembrado na abertura do evento por ser considerado precursor do plantio direto no Brasil. Com trabalho voltado à macrofauna solo, ela disse à REVISTA DO PRODUTOR RURAL que atualmente, nas propriedades, as técnicas daquela forma de cultivo muitas vezes não são adotadas de corretamente. “A gente percebeu que houve um avanço até os anos 2000. E de repente aconteceu uma acomodação. Claro que tem uma questão de pressão econômica, de produzir. Estamos começando a ver problemas de erosão, de compactação, porque o sistema não está sendo atendido nas suas premissas”, alertou.
O coordenador geral de Mudanças Climáticas do MAPA, ao final do evento, defendeu um esforço de todos para a difusão de informações técnicas: “A gente precisa gerar realmente conhecimento, mas principalmente passar esse conhecimento para o produtor rural”, apontou Elvison Nunes.
Para o presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, os debates iniciados no evento precisam prosseguir, objetivando com igual importância a preservação do solo. “Essa questão de rotação de cultura e de coberturas verdes, com maior número de espécies, durante os períodos não produtivos economicamente, temos sentido que é de fundamental importância para melhorar não só a qualidade do plantio direto, mas a qualidade do nosso solo”, analisou Rodolpho Luiz Werneck Botelho.
IQP: ferramenta para medir em números a qualidade do plantio
O Índice de Qualidade Participativo (IQP) tem por objetivo dar ao produtor uma forma de avaliar, por meio de números, o nível de qualidade de um plantio direto. O parâmetro é composto por uma lista de critérios, avaliados por notas. São quatro macroindicadores abrangendo, cada um, vários indicadores: “Rotação de culturas e cobertura permanente de solo” (Número de meses com cobertura viva em três anos; Número de famílias de plantas de cobertura diferentes em três anos; e Número de gramíneas na rotação exceto fenação/silagem); “Não revolvimento do solo” (Frequência do preparo do solo, Presença de terraços e Erosão na lavoura, entre outros); “Fertilização do sistema de produção” (Uso de estercos na lavoura e Manejo da fertilidade e balanço de nutrientes); e “Histórico e adoção do sistema plantio direto” (Percentual de área e Tempo de adoção do sistema plantio direto).