Quinta-feira, 27 de agosto de 2020
As abelhas sem ferrão cumprem um papel fundamental na perpetuação de diversas espécies vegetais. A serviço do ecossistema, elas são responsáveis pela polinização de até 90% da flora brasileira, além de importantes aliadas no desenvolvimento de culturas agrícolas.
Em 2006, a preocupação com a conservação das espécies de abelhas sem ferrão (também conhecidas como meliponídeos ou abelhas nativas) atingiu o então estudante de agroecologia Felipe Thiago de Jesus, que, na época, começava a direcionar sua carreira profissional para este objetivo. O primeiro contato com a meliponicultura (criação racional de abelhas sem ferrão) se deu por meio do curso do SENAR-PR, promovido para um grupo de alunos da faculdade.
“Na época, eu nunca tinha ouvido falar sobre as abelhas sem ferrão e o curso do SENAR-PR chamou atenção. Eu lembro que o professor até se emocionou falando sobre a importância destas abelhas, fato que me comoveu. Percebi que tinham poucos jovens buscando esse conhecimento. Ali decidi que queria trabalhar com as abelhas, então comecei a procurar os produtores, associações, fazer outros cursos”, conta Jesus.
Atualmente, o agroecólogo é o responsável pelo projeto Jardins de Mel de Curitiba, iniciativa que fomenta a reintrodução e preservação das abelhas nativas no ecossistema. O projeto, implantado em 2017, foi idealizado por Jesus a pedido do prefeito Rafael Greca. “Eu sempre trabalhei por conta. Além de criar as abelhas, dava cursos e palestras na comunidade e no exterior. Até que um dia o prefeito ligou perguntando se eu era o ‘Felipe das abelhas do bem’ e pediu para eu fazer uma proposta para Curitiba”, revela.
A partir disso, Jesus desenvolveu o projeto para instalar meliponários em espaços da cidade, incentivando a conscientização ambiental e promovendo conhecimento para a população. Hoje, Curitiba já possui mais de 60 jardins de mel espalhados em parques, praças, escolas e hortas comunitárias. Os locais escolhidos recebem colmeias de cinco espécies diferentes: mandaçaia, jataí, manduri, mirim e guaraipo.
Ainda, por meio do projeto, a prefeitura oferta cursos sobre as abelhas sem ferrão para a comunidade, com aplicações teórica e prática. O projeto recebe apoio integrado das Secretarias de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN), Meio Ambiente (SMMA) e Educação (SME).
Educação para preservar
Na coordenação dos Jardins de Mel, Jesus conta com a parceria da bióloga Solange Regina Malkowski, também especialista na criação de abelhas sem ferrão, que auxiliou para que o projeto saísse do papel. A bióloga atua no meliponário do Museu de História Natural de Curitiba, que oferece subsídio para as colmeias instaladas pela cidade.
“Tomamos muito cuidado com os locais de instalação e a estrutura, colocando as colmeias próximas à vegetação necessária para as espécies. Mas, se acontecer algum problema com os Jardins, temos esse suporte para cuidar das abelhas”, explica Solange.
Segundo a bióloga, a receptividade da população tem sido muito positiva e, inclusive, muitos demonstram interesse em criar as abelhas em casa. “Nós oferecemos todas as orientações e até indicamos produtores da Região Metropolitana com quem as pessoas podem entrar em contato. Estamos muito contentes com os resultados e que a população esteja se conscientizando sobre a importância das abelhas e da polinização, pensando no cuidado com o meio ambiente e buscando conhecimento para ajudar da melhor forma”, destaca.
Para o idealizador e coordenador do projeto, este trabalho vem se consolidando como um instrumento de incentivo ao desenvolvimento da atividade dentro do espaço urbano. Por meio da criação de abelhas, a população também pode contribuir para preservação do meio ambiente e da biodiversidade. “Os Jardins de Mel são voltados para o despertar da consciência ecossistêmica do cidadão”, finaliza.
SENAR-PR oferta curso de meliponicultura
A capacitação do SENAR-PR que inspirou o agroecólogo Felipe Thiago de Jesus está à disposição dos produtores e trabalhadores rurais do Estado. O curso, com foco na criação racional de abelhas sem ferrão, tem carga-horária de 32 horas. Dentre os conteúdos ministrados estão conceitos básicos sobre as abelhas nativas, como distribuição geográfica, tipos de ninho e estrutura das colônias, até noções práticas sobre instalação e manutenção de um meliponário e aproveitamento do mel.
Desde 2004, quando passou a ser ofertado, mais de 5,6 mil pessoas já fizeram o curso de meliponicultura do SENAR-PR. Apenas nos municípios que fazem parte da regional de Curitiba, mais de 2,3 mil pessoas passaram pela capacitação.
Para mais informação sobre a capacitação e agendamento futuro, basta acessar o site www.sistemafaep.org.br ou procurar o sindicato rural local. No momento, por conta da pandemia do novo coronavírus, os cursos presenciais do SENAR-PR estão temporariamente suspensos.
Fonte e foto: SENAR-PR