Quarta-feira, 05 de junho de 2019
O programa Herdeiros do Campo, criado e desenvolvido pelo SENAR-PR, formou a primeira turma deste ano, cumprindo a sua missão: ajudar as famílias de agropecuaristas a planejar o processo de sucessão da propriedade e do próprio negócio. Os módulos foram realizados nos meses de fevereiro, março e abril, com a participação de 10 famílias de Mercedes, cidade do Oeste do Paraná, marcada pela concentração de pequenos e médios produtores rurais e que, ao longo dos últimos anos, vem enfrentando um fenômeno de êxodo rural.
O agropecuarista André Luiz Backes, um dos participantes do programa, frequentou os módulos com as duas irmãs. Desde que seu pai morreu, 12 anos atrás, havia a preocupação em relação à sucessão do negócio. Como cada um dos irmãos tinha interesses distintos, a família chegou a cogitar vender a propriedade. Com a ajuda do Herdeiros do Campo, no entanto, a mãe chegou à conclusão de que a melhor opção seria partilhar as terras entre os três filhos. A partir da divisão, a família permaneceu unida e tocando seus respectivos negócios rurais.
“O curso ajudou bastante nessa tomada de decisão e a manter a união. Apesar de a propriedade ter sido dividida, a gente faz muita coisa de forma compartilhada. Dividimos os equipamentos e, quando vamos negociar a compra de insumos, fazemos juntos e, negociando quantidades maiores, conseguimos preços melhores”, aponta o produtor rural.
Backes mora na parte da terra que lhe coube, com a mulher e os dois filhos. Na propriedade, planta grãos (soja e milho) e mandioca, além de manter oito bovinos e 10 suínos. A partir do Herdeiros no Campo, o produtor planeja construir uma granja voltada à suinocultura e não abre mão de viver do seu trabalho no setor agropecuário. “A nossa vocação está no campo, na terra. Eu não queria ter que ir à cidade e o programa ajudou a pensarmos essa solução”, avalia.
Para outras participantes da capacitação do SENAR-PR, Necy Marcon Biscaro e Jucimara Carine Biscaro – respectivamente, mãe e filha –, o curso ajudou a pensar de forma antecipada na sucessão do negócio. Hoje, a família mora na cidade, mas mantém uma propriedade rural de 87 hectares, onde cultivam soja e milho. É o patriarca, Orides José Biscaro, quem vai diariamente ao campo para cuidar da lavoura.
Jucimara é arquiteta e cursa pós-graduação na área. Ela não pensa em morar na fazenda, mas o Herdeiros do Campo trouxe a certeza de que é possível conciliar as atividades e continuar com a propriedade após o processo de sucessão, mesmo sem trabalhar diretamente na cultura de grãos.
“Eu não pretendo abrir mão da minha profissão de arquiteta, mas também não quero me desfazer da terra, que é um patrimônio da família. A propriedade já vem dos meus avós, que passaram para o meu pai. É importante que isso continue com a família. Eu pretendo conciliar. A propriedade sempre será uma fonte de renda para nós”, diz Jucimara.
Sucessão
O curso foi mobilizado pelo Sindicato Rural de Marechal Cândido Rondon, que tem Mercedes como extensão de base. Uma segunda turma do Herdeiros do Campo foi formada no fim de maio e, paralelamente, a entidade tenta formar uma nova turma no município de Quatro Pontes. Para o presidente do Sindicato Rural local, Edio Luiz Chapla, o programa do SENAR-PR é importantíssimo, porque atua em uma questão sensível à microrregião: o êxodo rural.
“Nossa região se caracteriza por ter muitas pequenas propriedades, em que os filhos acabam migrando para a cidade. Então, a propriedade acaba se tornando apenas uma herança para este filho. O que o curso faz é despertar nesse jovem o sentimento de sucessor, para que ele possa dar sequência à atividade da família. Mais que isso: é um curso que discute alternativas para a permanência no campo”, diz Chapla.
O próprio presidente do Sindicato Rural vivenciou este dilema em sua família. Chapla é agropecuarista, mas seu filho mais velho não se interessou por dar continuidade à atividade, optando por se dedicar à educação física. A filha mais nova, no entanto, começa a dar indícios de que deve manter a família no campo. “Ela está fazendo colégio agrícola e já quer cursar veterinária. Então eu acho que vai se tornar minha sucessora, mesmo”, conta.
Confraternização
A formatura da primeira turma de 2019 do Herdeiros do Campo foi selada com um jantar de confraternização, realizado na casa de uma das famílias participantes. Além do presidente do Sindicato Rural de Marechal Cândido Rondon, o evento contou com a presença da prefeita de Mercedes, Cleci Loffi.
“Essas participações foram de extrema valia para que os participantes se sentissem valorizados. Realmente foi uma turma especial, com as pessoas colocando em prática algumas coisas que já foram enxergando necessárias durante o programa. E outras entendendo que precisam definir sobre o que é necessário fazer”, relataram as instrutoras do curso Michele Piffer e Rariana Castanho.
A prefeita Cleci Loffi se define como uma grande incentivadora do Herdeiros do Campo, por acreditar que o curso do SENAR-PR tem sido um instrumento de valorização da atividade rural e propiciado a sucessão de modo sustentável.
“Eu fiz questão de participar do encerramento, porque sei do valor que esse trabalho conjunto com os pais e filhos tem para a nossa cidade. Nossos produtores são empresários rurais e, como administração municipal, precisamos valorizar isso. Um produtor organizado tem condições de gerar renda muito maior que o salário oferecido por empresas da cidade. Então, temos que estimular essa sucessão no campo”, destaca a prefeita.