Sexta-feira, 10 de maio de 2019
A representatividade no meio rural e seu futuro foi colocada em pauta pelo Sistema FAEP/SENAR-PR em um tour por diversas regiões do Estado do 1º Encontro Regional de Líderes Rurais.
Os encontros começaram em março e percorreram Pato Branco (Sudoeste), Assis Chateaubriand (Oeste) e Umuarama (Noroeste), Mandaguaçu, Ivaiporã, Londrina (Norte), Guarapuava (Centro-Sul), Ponta Grossa (Campos Gerais) e Curitiba.
Em Guarapuava, o encontro foi realizado no dia 9 de abril, no Spazio Vecchia, com o apoio do Sindicato Rural. O evento contou com a presença de 215 produtores rurais de Guarapuava, Bituruna, Pinhão, Laranjeiras do Sul, Turvo, Prudentópolis, Irati, além de autoridades, acadêmicos de Agronomia/Veterinária e representantes de cooperativas e empresas ligadas ao meio rural.
O presidente do Núcleo dos Sindicatos Rurais do Centro do Paraná, Anton Gora, recepcionou os participantes e ressaltou que "os produtores precisam ter a consciência da importância de contribuir financeiramente e participar das entidades, se quiserem manter a defesa de seus interesses. Diz um ditado que quem não cuida do que é seu, não merece tê-lo. As entidades são nossas e precisamos mantê-las, para sermos ouvidos e representados”.
O presidente do Sistema FAEP/SENAR, Ágide Meneguette falou sobre as conquistas do Sistema para o produtor rural e também sobre o futuro da representatividade. Ele citou algumas delas, como a isenção de pagamento pelo uso da água, a isenção de ICMS na energia elétrica, a Tarifa Rural Noturna, avanços garantidos no Código Florestal e em questões fundiárias. “Juntos vamos conseguir lutar por mais conquistas e por condições melhores para nossa atividade. Não podemos esperar uma nova legislação. Precisamos nos organizar para que o nosso sindicato seja importante, tenha representatividade e participação ativa”, disse, referindo-se à queda da Contribuição Sindical obrigatória, decidida na Reforma Trabalhista.
A programação continuou ainda com mais duas palestras que visaram complementar a importância da formação de lideranças e da representatividade.
O presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, Rodolpho Luiz Werneck Botelho, encerrou o evento agradecendo a presença dos sócios e parceiros da entidade, destacando a importância da participação de todos para uma representatividade rural forte e atuante, em especial das mulheres e dos jovens.
Confira o resumo das palestras:
O poder de influência do produtor rural na sociedade 4.0
Celso Garcia (consultor Sebrae)
“A sociedade vem sofrendo muitas mudanças, com velocidade e novos modelos de negócios, de gestão e de pensamentos. As gerações novas são muito mais rápidas, mais conectadas e a gente tem que se preparar para lidar com novas formas de pensar. Não é certo, nem errado, é diferente. E lidar com o diferente não é simples. Existem muitas propriedades rurais que são tradicionais, familiares e precisam se adaptar muito rápido, porque, caso contrário, não terão sucessão. Daqui a pouco não teremos mais gente ocupando esse lugar. E o produtor rural é muito importante, pois ele alimenta esse país. Então a ideia é justamente fortalecer esse produtor para que ele saiba liderar de forma mais consistente essa transição, essa sociedade nova, esses novos modelos de enxergar a realidade, de enxergar a vida, o propósito, a propriedade rural e o sindicato, que o representa. O produtor precisa entender que a colaboração é fundamental no cenário que vivemos hoje. Ele não é diferente de outros profissionais, do mercado em geral. Tem uma série de empresas sólidas por aí que tem 40, 50 anos de mercado e não tem sucessor. Os filhos não querem tocar o negócio dos pais. Isso não é um problema só do homem do campo. É um problema da nossa sociedade, da construção de valores”.
Inovações para o fortalecimento na representatividade no agronegócio
Claudinei Alves (consultor Faep)
“Falamos sobre a importância da representatividade para o produtor rural. Além disso, mostramos ao produtor que ele tem poder de influenciar os poderes que tomam decisão - os poderes legislativo e executivo, tanto em âmbito local, municipal, estadual e nacional. O produtor é representado por uma instituição chamada Sistema CNA, que inclui uma confederação, federação e os sindicatos rurais. O que a gente está abordando é a importância do produtor rural se integrar ao seu sindicato na base, no seu município, para que ele possa ter voz, no sentido de defender seus interesses, falar das suas necessidades e de seus objetivos e isso chegar até às instâncias de poder que tomam decisões. O que acontece é que o sistema de representatividade no nosso país vem sofrendo algumas ameaças por conta de mudanças na legislação e se o produtor rural não estiver atento a isso e não se organizar na sua base, ele pode perder esse sistema de representatividade e isso significa abrir mão da sua possibilidade de dar opinião, de dizer o que é importante para o setor. A única forma que a gente enxerga de mostrar ao produtor que a representatividade é importante e temos ouvido do próprio produtor, é que para entender, eu preciso conhecer. Está claro para nós, hoje, que há uma necessidade de comunicar de uma forma mais eficaz, de levar ao produtor o que é esse sistema, para que ele compreenda. Infelizmente, o produtor rural foi vocacionado e estimulado a produzir. Ninguém o estimulou a participar politicamente da sociedade. Pelo contrário, houve uma época que teve um movimento que desestimulava o produtor a participar politicamente. Existia um chavão no período militar que dizia assim: “Plante, que o João garante!”. Por trás dessa frase tem um elemento que é pernicioso para a classe produtora. Significa que é para ele apenas cuidar da lavoura e dos animais, porque todo o resto tem o João que garante, ou seja, não precisa se preocupar com comercialização, aspectos políticos, aspectos legais, trabalhista, pois isso o governo vai resolver para ele. De certa forma, a mensagem que estava implícita é de adestrar o produtor a fazer só o processo produtivo, que é o que ele mais gosta de fazer. Então qual é o nosso grande desafio? É dizer ao produtor: não adianta só produzir! Você tem que ter um processo de participação ativa para garantir que seus direitos e interesses sejam válidos”.
Dinâmica – Ao final do evento, os participantes do encontro realizaram uma atividade de integração onde deveriam propor soluções para uma representatividade mais forte no meio rural. Representantes de cada grupo foram eleitos e puderam apresentar suas propostas
Opiniões
A produtora rural Andreia Mariotti, associada ao Sindicato Rural de Guarapuava, comentou sobre a importância do evento. “Estamos precisando de novos líderes, pessoas com sangue novo, determinação para ajudar a desenvolver mais a nossa atividade. O caminho ainda é desenvolver as habilidades dos jovens. A família rural se integrar mais, estimular os jovens a participarem mais da atividade rural, para que eles entendam a importância do produtor rural, dessa profissão, da atividade como um todo, o que sua família criou e que tenham orgulho da sua origem”. Para ela, só assim a classe estará bem representada no futuro.
Outra participante do encontro, Geny de Lacerda Roseira Lima enxerga que a ação do Sistema FAEP/SENAR foi importante para despertar questões essenciais para o produtor rural. “Esse encontro deu uma mexida, chacoalhada na gente. Muitas vezes, ficamos na zona de conforto e achamos que é suficiente o que já estamos fazendo. Mas como foi falado, temos que nos conhecer melhor, nos capacitar ainda mais na atividade e despertar essa liderança como produtores rurais”.
Já Rui Carlos Pereira Lima pensa que um das sugestões mais importantes debatidas durante o encontro foi a de como alcançar e conscientizar os jovens do meio rural. “Esse tipo de debate deve ser iniciado já dentro da escola, por meio de programas, de conteúdos. É preciso levar aos jovens o conhecimento do que é a representatividade, por meio da federação, dos sindicatos, para que mais tarde eles possam desenvolver essa parte no meio rural. Isso é essencial para que haja um futuro no agronegócio, com disseminação de tecnologia e informação sobre o agro em para todas a sociedade”. Lima afirma que enquanto produtor rural tem consciência da importância da representatividade, mas sabe que muitos ainda não conseguem enxergar isso. “Nós, enquanto produtores, conseguimos visualizar isso porque temos muita informação. Recebemos os Boletins da FAEP, as revistas do Sindicato Rural de Guarapuava, que trazem esse conhecimento que a gente não obtém no nosso dia-dia. Então nós sabemos disso. Mas tem muito produtor rural que não tem esse acesso. E o único caminho é a informação”.
Programa Liderança Rural
O Sistema FAEP/SENAR, em parceria com o SEBRAE, está com uma nova iniciativa: o Programa Liderança Rural, que visa desenvolver nos líderes a sua capacidade de coordenar equipes, trabalhar em cooperação com parceiros e demais instituições empresariais e governamentais.
A formação terá dois módulos, totalizando uma carga horária de 24 horas. O módulo 1 discutirá o seguintes temas: autoconhecimento, líder empreendedor, engajamento e autorresponsabilidade e desempenho interpessoal; já no módulo 2 serão: perspectivas de sustentabilidade e fortalecimento, oportunidades inovadoras e estratégias pessoais de atuação.
As inscrições devem ser feitas no Sindicato Rural de Guarapuava. Outras informações pelo: (42) 3623-1115.