Quinta-feira, 01 de junho de 2017
Diego Guterres*
A definição do alto potencial produtivo de uma cultura começa no estabelecimento, que é o momento de assentamento da lavoura. Muitos fatores podem impactar esta etapa, interferindo positivamente no desenvolvimento e na produtividade na lavoura. Um manejo nutricional que favoreça o crescimento inicial das raízes de trigo pode fazer toda a diferença a favor do desempenho da triticultura.
Um fator fundamental para o trigo é a máxima redução de alumínio tóxico do solo, pois esse elemento pode danificar os tecidos radiculares, que são responsáveis pela formação da primeira raiz da planta, causando sérios problemas como menor desenvolvimento radicular. Nesse sentido, deve-se realizar um intenso trabalho de correção da acidez aplicando calcário, para eliminação do efeito desse nutriente na camada explorada pelas raízes. Também é necessário dar preferência a fertilizantes com baixo potencial de acidificação do solo, principalmente com fontes de nitrogênio e de enxofre.
O nitrogênio é, sem dúvidas, o nutriente mais importante para a produtividade e qualidade de grãos de trigo, já desde o início do desenvolvimento da planta. Dependendo da forma do elemento encontrado, a planta pode ter diversas maneiras de aproveitamento. A presença de nitrogênio na forma amoniacal favorece o crescimento das raízes, levando a maior produção de citocininas, hormônio responsável pelo crescimento e pela arquitetura do sistema radicular.
Por outro lado, se a cultura anterior for uma gramínea com palhada de alta relação, como o milho, podemos ter imobilização de nitrogênio pela microbiota do solo. Por isso, a aplicação equilibrada deste nutriente nas formas combinadas (nítrica e amoniacal) se encaixa perfeitamente para a produtividade da lavoura.
Outro elemento fundamental para o desenvolvimento radicular é o fósforo, importante na transferência de energia da célula, na respiração e na fotossíntese. A disponibilidade do elemento nas fases iniciais também é essencial para a recuperação do efeito subletal de temperatura baixa, razão pela qual se recomenda sempre o uso de uma dose de fósforo no sulco da semeadura, mesmo que o solo tenha alta concentração desse nutriente.
Já o potássio, por sua vez, atua no controle das concentrações de sais nos tecidos ou nas células, o que determina a pressão de água interna celular, forçando a célula a se expandir. A carência de potássio, portanto, no início do desenvolvimento, pode retardar o crescimento radicular. Vários motivos, principalmente a questão operacional, têm levado parte dos agricultores a optar pela aplicação de toda a dose de potássio em superfície. Para isso, o primeiro aspecto a ser considerado é a disponibilidade do nutriente no solo. A aplicação do elemento deve ser feita obrigatoriamente próximo ao sulco de semeadura, a não ser que a disponibilidade de potássio no solo seja alta. Mesmo assim, a temperatura elevada do solo pode dificultar o processo de absorção do potássio pelo solo.
Em trabalhos de campo, uma equipe de agrônomos observou um incremento médio de 6,9 sc/ha em comparação da aplicação de fertilizante NPK (com as duas formas de nitrogênio) em relação a produtos convencionais na adubação de base do trigo. Por fim, em micronutrientes, o zinco merece grande destaque para o estabelecimento da lavoura de trigo. Dentre as suas funções, destaca-se a importância na síntese de triptofano, aminoácido precursor das auxinas, hormônios que regulam o crescimento das plantas. Porém, vários fatores podem provocar indisponibilidade desse nutriente, como a elevada alcalinidade e aplicação de altas doses de fósforo no sulco da semeadura.
Nesse contexto, o ótimo estabelecimento da lavoura de trigo é fundamental para lavouras produtivas, lucrativas e de menor risco. Plantas com maior desenvolvimento radicular suportam melhor os períodos de estiagem, sofrendo muito menos estresse. Esse é um dos aspectos do manejo da lavoura e parte importante do programa nutricional desenvolvido para a triticultura, que envolve a combinação de produtos que auxiliam o produtor a escolher a melhor fonte de nutrientes, aplicação na dose, época e local corretos para elevar os níveis de produtividade e proporcionar um produto final melhor e de mais qualidade.
*Diego Guterres é engenheiro agrônomo e especialista nas culturas de Trigo e Soja da Yara Brasil
Fonte: Yara
(Imagem: trigo - Foto ilustrativa/Sindicato Rural de Guarapuava/Arquivo)