Quarta-feira, 22 de abril de 2020
A Cooperativa Agrária e a Fundação de Pesquisa Agrária Agropecuária (FAPA) promoveram o Dia de Campo de Verão nos dias 4 e 5 de março, nos campos da FAPA. Durante os dois dias, mais de 1300 pessoas passaram pelo evento, que contou com palestras e visitação nos estandes. Nesta edição, o evento contou com a participação de mais de 30 empresas e entidades expondo produtos e serviços ligados à produção de culturas de verão, como soja, milho e feijão.
O presidente da Cooperativa Agrária, Jorge Karl, destacou que todos os eventos da FAPA tem o propósito de difundir as pesquisas da fundação para atender cooperados e produtores da região. “Nós percebemos que ano a ano vem melhorando o nível tecnológico do que apresentamos aqui. A FAPA está completamente em dia com as inovações que tem aparecido, tornando-se referência em termos de tecnologia agrícola não só pra região, mas para todo sul do Brasil. E para nós isso é uma satisfação e ao mesmo tempo responsabilidade, porque temos que manter esse nível. O propósito dos nossos eventos, tanto o Dia de Campo de Verão, como o Wintershow é traduzir esse material científico para os produtores aplicarem lá no campo. As culturas de verão tem um alto impacto econômico na nossa região e não poderíamos deixar de lado”, declarou.
Palestras principais
Impacto das eleições nos EUA e a guerra comercial entre China e EUA no mercado de commodities
Kellen Severo
Jornalista/Canal Rural – Natural de Uruguaiana (RS), formada em jornalismo (UNIFRA), pós-graduada pela FIPE/USP, especializada em direito do agronegócio pelo Insper (SP) e em derivativos agrícolas pela BM&FBOVESPA.
Em sua palestra, a jornalista Kellen Severo mencionou também temas como o coronavírus e sua influência na economia americana e mundial e as perspectivas para o agro brasileiro. A REVISTA DO PRODUTOR RURAL traz um resumo de alguns dos tópicos abordados.
“Neste momento, ainda há mais incertezas. Mas há uma probabilidade de que Donald Trump seja reeleito, porque a economia dos EUA vai muito bem. Trump, continuando à frente da economia dos EUA, há uma tendência de que esses atritos (entre EUA e China) continuem a ocorrer e isso pode beneficiar o Brasil no médio prazo. Consultorias brasileiras com as quais eu converso me disseram que para 2020 não são previstos grandes arroubos de demanda inferior de produto brasileiro por parte da China, porque boa parte desses negócios já foram fechados. Se houver impacto, isso deverá ser sentido com mais ênfase no ciclo 20/21. Isso não significa que os preços vão derreter. Significa que a gente volta para o patamar de demanda que já era alto antes do pior momento da guerra comercial. A peste suína africana, doença que atingiu o rebanho da China, levou ao abate milhares de suínos, gerou um incremento de demanda por proteína animal. O Brasil era um dos participantes do mercado global que estava pronto para assumir parte desta demanda. O que aconteceu: o boom das carnes em 2019. Subiu o preço do suíno, das aves, da arroba do boi. Como consequência, aumentou também internamente a demanda por grãos. Mais demanda, mais preço pago pelo produto produzido. Em qual cenário estamos inseridos neste início de 2020? Cenário em que se fala já em recuperação parcial dos plantéis na China, mas sem efeito de piora de demanda para o produto do Brasil. A demanda ainda é consistente pelo menos pelos próximos dois anos. É o que a grande parte das consultorias está dizendo neste momento. No campo das oportunidades, a gente tem um outro fator: a Argentina aumentou as taxas para a exportação de soja, de 30% para 33%. À medida que eles taxam as exportações, isso significa uma vantagem competitiva para o Brasil, que tem um produto mais barato pelo menos sem as taxas”.
Mesa redonda: Oportunidades de mercado para o milho convencional
Celso Wobeto (pesquisador FAPA), Rudolf Gerber (coordenador industrial de farinhas da Agrária), Marina de Souza Stanham (gerente de negócios Foodchain ID Brasil), André Aguirre Ramos (agrônomo e consultor)
Rudolf Gerber - “A indústria da Agrária para milho tem capacidade para beneficiar 180 mil toneladas/ano. Ela foi construída com o conceito de conseguirmos atender todas as exigências dos nossos clientes, principalmente, em sanidade. Hoje ela é uma indústria que tem várias certificações. É uma indústria de alimentos, temos que colocar isso na nossa cabeça. Nossos principais clientes são cervejarias, indústria de alimentos, fábricas de ração e indústria de óleo. Para atender estes clientes temos que estar atentos à qualidade dos grãos: que é a dureza do grão (interessa o duro e o semiduro) e a tolerância de germe. Além disso, várias indústrias estão exigindo o milho convencional ao invés do transgênico. A transgenia foi liberada em 2003 no Brasil e desde então há uma pressão por parte dos consumidores que se preocupam se esses alimentos são prejudiciais ou não. E esta pressão fez que em 2003 houvesse um decreto que os alimentos que continham transgenia tivessem uma rotulagem declarando, que é aquele triângulo amarelo com o T preto no meio. E isso assusta um pouco o consumidor, porque a maioria não sabe o que é e acaba deixando de consumir esses alimentos. E aí nossos clientes acabam optando por não comprar o milho transgênico, querem o milho convencional, porque eles não querem criar mais um problema e colocar o símbolo de transgenia no alimento, correndo o risco do consumidor não querer. Além de optarem pelo milho convencional, temos que ter muito cuidado com a contaminação cruzada de milho transgênico e milho convencional. Por isso, fazemos análises constantes de transgenia. Para se ter uma ideia, em 2019, a Agrária gastou R$ 342 mil reais em análises desse tipo. Cada carga temos que reportar ao nosso cliente que não tem transgenia. Temos bastante desafios com o mercado do milho convencional, mas também temos muitas oportunidades. Temos que atender os requisitos de qualidade e atender esta demanda das indústrias com o milho convencional e isso depende dos nossos cooperados plantarem este tipo de milho”.
Palestras da FAPA
Comportamento e manejo de pragas e doenças na safra de verão
Heraldo Rosa Feksa
FAPA – Fitopatologia
“A ferrugem não veio com tanta intensidade na região (na safra 2010/2020), mas temos outras doenças que estão tendo tanta importância quanto a ferrugem. (Na soja) Estamos levando perda de 800 até 2.300 quilos/hectare – pensando em sclerotinia, antracnose, cercóspora kikuchii, septoria, bacteriose e míldio. Essas doenças, a gente chama de secundárias, mas elas passaram a ser primárias esse ano. Todos estamos focados na ferrugem. O produtor está focado em fazer a primeira aplicação ou faz a primeira e espera 20, talvez até 30 dias, para fazer a outra, porque não viu ferrugem. Só que neste intervalo muito longo, estão entrando outras doenças, levando o seu potencial produtivo. Claro que também vai mudar um pouco o tipo de produto que vou usar. Os produtos que eu uso para ferrugem, não necessariamente são os mesmos para estas outras doenças. Eu teria que me reorganizar no meu manejo. É importante o colega da assistência (técnica) talvez mudar um pouco o posicionamento, mas não intercalar uma aplicação da outra muito longe, porque essas doenças estão presentes”.
Alfredo Stoetzer
FAPA – Entomologia
“A gente está mostrando que existem várias pragas que atacam a cultura da soja desde o início até o final do ciclo. Normalmente, se espera aquelas pragas-chave ocorrerem, como uma falsa-medideira. Muitas vezes, ela não ocorre, como neste ano. Entretanto, tem outras, que se eu não manejar, podem comprometer o potencial produtivo da cultura. Tem um grupo, como gastrópodes, que está aumentando na região; coleópteros, que afetam o estande de plantas; e até algumas lagartas, como spodoptera, que reduzem o estande. É uma lagarta que para nós, de modo geral, entrou mais ou menos há três safras. Pela pesquisa que temos, ela causa muito dano se não é manejada. Às vezes, claro, você, manejando a praga-chave, automaticamente acaba controlando as outras também. De uma certa forma, depende da estratégia de manejo. Agora, se a praga-chave não aparecer e eu não fizer manejo, tem outras que ocupam esse espaço”.
Avaliação de híbridos de milho em regiões de transição pela metodologia de “Estudos observacionais”
Celso Wobeto
FAPA – Milho
“Sabemos que a área de atuação da cooperativa está se ampliando para outras regiões em torno de Guarapuava. São solos que ainda estão em construção da sua fertilidade, muda um pouco a altitude. Mas essa metodologia permite justamente isso: ir a esses locais e, dentro das lavouras, extrair pequenas parcelas, como se fossem um experimento, e depois comparar. No nosso caso aqui, comparamos com o ensaio que a gente vem conduzindo tradicionalmente, que chamamos de ensaio regionalizado. Os resultados mostraram que não há diferença significativas. Bem resumidamente, uma conclusão poderia ser: não há necessidade de outros trabalhos além do que a gente já vem fazendo, onde temos já um longo histórico de quatro locais e três épocas de plantio. Então, essa combinação, mais praticamente 40 híbridos todos os anos, essa base de dados, é bem robusta, suficiente para a indicação de híbridos em toda essa região de abrangência da cooperativa. É um check (verificação) que a gente fez, para tentar responder a essa pergunta: precisamos ir além do que a gente está fazendo hoje? E a resposta seria não”.
Manejo de cultivares de feijão visando altas produtividades
Eduardo S. Pagliosa
Noemir Antoniazzi
Antoniazzi - “O cultivo de feijão na área de abrangência da Cooperativa Agrária sempre esteve à mercê de uma área marginal ou em uma área insignificante. Mas nos últimos anos essa área tem aumentado significativamente e o que impulsionou o aumento de área, principalmente nos últimos dois anos, foi a possibilidade de uma safrinha de feijão, após uma soja ou milho precoce. É um risco que o produtor tem que calcular e levar em consideração o que ele pode investir na lavoura, qual a probabilidade de risco e o quanto ele está sujeito a arcar com ele, devido ao nosso clima frio e a possibilidade de ter uma geada durante o desenvolvimento da cultura. Algumas variedades tem uma melhor adaptabilidade a essa situação e isso nós estudamos dentro da FAPA em um trabalho de zoneamento em épocas de plantio das diferentes variedades e temos a possibilidade de identificar alguns materiais que vão melhor. Na cultura do feijão existem algumas particularidades que necessitam de atenção e cuidados para que haja o máximo de produtividade. O principal cuidado é o monitoramento das doenças, pois elas são muito mais agressivas e muito mais rápidas no feijoeiro. Por exemplo, não dá pra ir uma vez por semana na lavoura e achar que está tudo bem. O monitoramento tem que ser muito mais intensivo e é melhor fazer um controle preventivo do que após a manifestação da doença. Às vezes um ou dois dias é o que basta para separar o sucesso do fracasso”.
Maximização do potencial produtivo da soja
Sandra Mara Vieira Fontoura
Vitor Spader
Spader - “Queremos mostrar ao produtor que na maioria das vezes é possível aperfeiçoar o sistema para melhorar as condições e se chegar mais próximo do potencial máximo produtivo das cultivares, sem incrementar custo ou incrementando muito pouco. Isso é muito importante porque você melhora o rendimento e rentabilidade. As principais ações são a melhoria de solo, tanto a parte física, quanto química. Tendo atenção na fitosanidade, com doenças, pragas e plantas daninhas, arranjo de plantas, manejo de densidade, época de semeadura, ajustes fitotécnicos, enfim, aquilo que deveria ser muito comum de se fazer no dia-dia, mas infelizmente muitos produtores acabam não fazendo e isso dá um impacto negativo no resultado final”.
Sindicato Rural: patrocinador bronze
O Sindicato Rural de Guarapuava além de ser patrocinador do Dia de Campo de Verão Agrária 2020, participou por mais um ano com estande no evento, com apoio do Sistema Faep/Senar. Além de proporcionar um ponto de encontro para os produtores rurais associados e parceiros, a entidade reforçou durante os dois dias seu papel de representatividade e divulgou seus serviços, agenda de eventos e de cursos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
A assessoria jurídica da entidade também esteve presente divulgando a ação coletiva de associados do Sindicato Rural na questão do Funrural e Gilrard.
Além disso, foram entregues brindes a associados e parceiros e também realizados sorteios de alevinos e do livro “Guarapuava, seu território, sua gente, seus caminhos, sua história”, do ex-prefeito de Guarapuava, o escritor Nivaldo Krüger. Os associados ganhadores foram Ernst Jungerd, Karin Milla Detlinger, Wilfried Spieler e Rainer Leh.
A equipe da Revista do Produtor Rural, veículo editado pela entidade também esteve presente divulgando a revista e visitando parceiros no evento.
Poloneses também passaram pelo estande do Sindicato Rural
Entre os vários visitantes do Dia de Campo de Verão da Agrária que passaram pelo estande do Sindicato Rural de Guarapuava, estiveram também dois executivos de uma empresa da Polônia focada em rações para frangos, suínos e bovinos, além de carne de frango. Os poloneses conversaram com a REVISTA DO PRODUTOR RURAL e contaram que estavam realizando um giro pelo Paraná, para conhecer a agricultura brasileira. O roteiro incluiu Ponta Grossa, Carambeí, Palmeira e Guarapuava. “Nosso principal interesse aqui (no Brasil) é aprender, conhecer tudo sobre a produção de soja, porque cerca de 25% de nossas receitas de rações animais são com farelo de soja. Isso (o farelo) vem principalmente do Brasil e da Argentina. Estamos focados em especial no teor de proteína”, comentou Ireneusz Stromski, vice-presidente e diretor de compra e produção. Ao lado dele, Mateusz Palejko, analista de marketing, se disse feliz com a viagem, que ajudou a dar uma visão mais ampla do agro no país: “Todos os dias temos pelo menos dois encontros, com cooperativas ou produtores, visitamos suas propriedades e conversamos muito. Agora sabemos muito mais sobre o mercado agrícola brasileiro, em particular o de soja”.