Precocidade sexual nos machos: qual a vantagem?

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Segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Precocidade sexual nos machos: qual a vantagem?

Por Eliane Vianna da Costa e Silva e Luiz Carlos Cesar da Costa Filho*

Quando se busca precocidade sexual em machos bovinos, o primeiro objetivo que vem à cabeça do criador é a seleção indireta para precocidade sexual das fêmeas. Mas qual seria a vantagem para os machos? 

Considerando que um macho, normalmente, passa a primeira estação de monta pós-nascimento (EM1) ao pé da mãe, a segunda (EM2) na recria e entra em reprodução na terceira estação de monta pós-nascimento (EM3), a perspectiva demonstra que um tourinho que entra em puberdade precocemente pode alcançar sua maturidade sexual em tempo de ser utilizado para reprodução ainda na EM2. Obviamente que a melhor perspectiva para um touro nessa idade será ter o sêmen coletado e criopreservado, possibilitando que, aos 24 meses, esse animal já tenha filhos nascidos, diminuindo o intervalo entre gerações. 

Um touro que entra em puberdade após os 15 meses já diminui bastante a possibilidade de sua utilização na mesma EM, uma vez que a maturidade sexual, muito provavelmente, será alcançada ao final da EM2; portanto, mesmo que emprenhe fêmeas nesse período, seriam as mais tardias do rebanho e o número de filhos prováveis, muito menor. Já um animal que entra em puberdade após os 17 meses só poderá ser utilizado na EM3, tendo filhos nascidos apenas após os 36 meses de idade. A possibilidade de eliminar a fase de recria de um touro gera uma economia substancial na produção de touros, além de acelerar o processo de melhoramento genético.

Para os machos, o principal critério reprodutivo utilizado em programas de melhoramento genético tem sido o perímetro escrotal (PE) aos 365 dias ou 480 dias. Biologicamente, a puberdade pode ser definida no macho quando o ejaculado alcança 50 milhões de espermatozoides totais e 10% de motilidade, segundo especialistas. 

Todavia, embora a correlação do PE com a alteração dos parâmetros seminais seja alta a partir da puberdade, isso não retrata a realidade do parênquima testicular, não garantindo, desta forma, que um animal com bom PE em idade precoce terá boa qualidade seminal no período de maturidade sexual. Temos observado no campo vários touros da raça Nelore, dentro da mesma idade e tamanho testicular, que apresentam motilidade espermática diferente, estando alguns púberes e outros, não. Essa variação mostrou que os testículos com tamanhos iguais podem produzir sêmen tanto de baixa como de alta motilidade. 

Portanto, essa produção de sêmen se deve à funcionalidade testicular do animal, e não somente ao tamanho do PE. As classes de precocidade sexual não diferem significativamente quanto ao PE. A curva de crescimento testicular e peso inicia-se de médias semelhantes, havendo uma distinção para os animais mais tardios, a partir da segunda coleta, feita no mês de outubro.

Observa-se que touros superprecoces, que apresentaram perímetro escrotal à desmama um pouco mais baixos que os precoces, tiveram um ganho maior, mas ainda assim apresentaram em média PE 1 cm menor à puberdade. Na última medida, o PE médio de precoces e superprecoces apresenta-se superior aos dos animais mais tardios.

 

Nos últimos 30 anos, o ganho de PE dos touros da raça e a queda da idade à puberdade foram significativos, mas estávamos estagnados numa idade à puberdade que não nos permitia suprimir a recria, como já vínhamos fazendo nos desafios de precocinhas das fêmeas. O desafio estava lançado. Mas a pergunta era como fazer isso? Como identificar? O Grupo de Pesquisa em Reprodução Animal de Mato Grosso do Sul desenvolve pesquisas nessa área há 10 anos e os frutos desse trabalho começam a aparecer nos Programas de Melhoramento Genético do país. Ao longo desse tempo, aumentamos de 4% para 22% a classe de touros superprecoces (púberes com menos de 14 meses identificados no primeiro ano), enquanto a de animais precoces cresceu de 25% para 45%. Este ano, já identificamos um primeiro touro Nelore púbere aos nove meses e maturo sexualmente aos 12 meses.

 

Aliadas à nutrição equilibrada desde a desmama, que permita aos animais expressarem a característica da precocidade e manterem o desenvolvimento corporal adequado, são realizadas avaliações periódicas de ultrassonografia testicular, coleta sanguínea para dosagem do Hormônio anti-Mülleriano (AMH) e coletas de sêmen para identificar a idade à puberdade.

 

O AMH tem auxiliado na identificação no sentido de permitir prever a precocidade sexual dos animais quando medido à desmama. Observa-se que touros com níveis de AMH baixos à desmama são mais precoces, sugerindo uma possibilidade de seleção quanto à precocidade.

 

Médias (± desvio padrão) das variáveis Hormônio anti-Mülleriano (AMH) e testosterona (T) de machos Nelore de acordo com a classe de precocidade futura do animal (P < 0,05)

  

SP

P

Td

AMH (ng/mL)

6,13 ± 0,64a

12,14 ± 2,63b

47,64 ± 5,74c

T (ng/mL)

3,10 ± 0,92a

1,93 ± 0,22b

1,80 ± 0,43b

PE (cm)

25,93 ± 1,17a

23,08 ± 0,53b

20,83 ± 0,67c

Vol. testicular (mm3)

543,55 ± 70,31a

402,38 ± 34,13b

257,60 ±37,20c

ECOt (pixel/cm2)

128,69 ± 6,64a

125,64 ± 4,57b

118,95 ± 5,58c

Letras diferentes na linha indicam diferença significativa (P<0,05) para teste t de Student: SP – superprecoces; P – precoce; Td – tardios; HAM – hormônio anti-Mülleriano; T – testosterona; PE – perímetro escrotal; Vol. Testicular – volume testicular; ECOt – ecotextura testicular.

 

É importante dizer que no primeiro ano de análise de um universo de 360 animais apenas um animal foi identificado como superprecoce, na coleta de outubro. No ano seguinte, iniciou-se, então, um trabalho por toda a safra, vista no gráfico como safra 1. A última safra de bezerros trabalhada mostra a evolução da característica no rebanho, em que obtivemos 22% de tourinhos superprecoces e 44% de precoces, mostrando que a pressão de seleção tem dado resultados. Observa-se que alguns touros apresentam um percentual muito maior de animais superprecoces e precoces. O efeito de fazenda pode ser notado comparando-se os touros utilizados nas duas propriedades, apresentando expressões diferentes.

Obviamente que a expressão da característica de precocidade sexual demanda uma estratégia de manejo nutricional elaborada, mas, mesmo em fazendas com estratégias diferentes de nutrição, nota-se o efeito da linhagem paterna de forma evidente. Observa-se que o touro dois, na propriedade A, que aplica melhor estratégia nutricional, supera a dos touros oito e três. Na propriedade B, o touro oito apresenta desempenho superior e os filhos do touro três já não apresentam o mesmo desempenho.

 

Importante mostrar que, mesmo numa raça identificada como mais tardia como a Nelore, podemos, com as ferramentas corretas de seleção, identificar animais na população com características de precocidade sexual e, em algumas gerações, dar um salto na característica, melhorando a eficiência reprodutiva e econômica.

Desta feita, o produtor pode estabelecer uma estratégia de melhoramento genético a fim de identificar animais mais precoces no seu rebanho, mas, para tanto, deve primeiro oferecer uma nutrição adequada para que os animais expressem a característica. Além disso, a busca de touros ou sêmen de animais de rebanhos precoces para o acasalamento com fêmeas do rebanho agiliza o ganho genético.

"Eliane Vianna da Costa e Silva: Doutora em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), é professora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (FAMEZ/UFMS) e integra o Grupo de Estudos em Reprodução Animal no Mato Grosso do Sul (GERA-MS/CNPq).

"Luiz Carlos Cesar da Costa Filho: Doutor em Ciência Animal pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (FAMEZ/UFMS), atua na Procriar Assistência Veterinária, em Campo Grande (MS).

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