Quarta-feira, 27 de junho de 2018
O Sindicato Rural de Guarapuava sediou no dia 9 de maio, a palestra “O que o agricultor faz pelo mundo”, com o jornalista e escritor Nicholas Vital, autor do livro “Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo.
Durante a palestra, o jornalista detalhou os dados coletados durante sua pesquisa, demonstrando que muitas notícias divulgadas pela mídia sobre os agrotóxicos, na realidade são falsas e sem embasamento técnico-científico.
Marcelo Scutti, gerente de marketing do Grupo Pitangueiras, explicou que a ideia de trazer a palestra para Guarapuava foi visando conscientizar a população urbana e incentivar o produtor rural a saber se defender das críticas que muitas vezes ele recebe. “O produtor precisa ter argumentos quando sofre críticas, porque a maioria delas tem uma explicação razoável. O produtor rural não é vilão e precisa mostrar isso”.
O evento foi organizado pelo Grupo Pitangueiras, com o apoio da Arysta, Bayer, Corteva, FMC, Ihara e Sindicato Rural de Guarapuava.
A REVISTA DO PRODUTOR RURAL DO PARANÁ conversou com Nicholas Vital, minutos antes de sua palestra. Confira o resumo deste bate-papo sobre o tema do livro:
RPR: Porque este título e porque devemos agradecer aos agrotóxicos por estarmos vivos?
NICHOLAS VITAL: "A ideia, antes de falar do nome do livro, foi de equilibrar um pouco este debate entre os alimentos orgânicos e convencionais e todas estas críticas que a gente ouve na mídia sobre os agrotóxicos. Hoje não é um debate equilibrado. O orgânico é bom e o agrotóxico é veneno, faz mal e intoxica as pessoas. Eu como jornalista agro, via que a realidade no campo era bem diferente. O agrotóxico era um insumo como outro qualquer e eu não via nenhum agricultor ou trabalhador passando mal por aplicar estes agroquímicos. Então percebi duas realidades totalmente diferentes: a que estava nos jornais e a realidade do campo. Resolvi escrever esse livro, porque eu tinha bons dados. E por que este título? Porque nós devemos agradecer sim aos agrotóxicos por estar vivo. E eu não estou falando para beber o agrotóxico que faz bem. Devemos agradecer porque se hoje há alimento suficiente para a população, é graças às tecnologias, aos agrotóxicos, aos fertilizantes, sementes melhoradas, mecanização, coisas que as pessoas da área urbana não tem muita noção".
RPR: Durante sua pesquisa o que lhe chamou mais atenção sobre os agrotóxicos, de forma positiva, confirmando que eles não fazem mal aos seres humanos ou pelo menos, não fazem tão mal assim como falam? O que sua pesquisa mostrou sobre estes produtos?
NICHOLAS VITAL: "O que me chamou atenção foi a quantidade de besteira que se fala sobre o assunto. Hoje a gente vive em uma sociedade politicamente correta. Tudo tem que ser da natureza e ambiente. Se a gente for falar em sustentabilidade, o agroquímico é um produto altamente sustentável se você pensar nisso sem preconceito. E por que isso? Porque graças a ele você consegue produzir mais, em menos espaço. Se hoje a gente consegue evitar o desmatamento, produzir mais na mesma área, é graças ao uso dessas tecnologias. As mesmas pessoas que querem um mundo mais sustentável, que lutam contra o agrotóxico, indiretamente estão fomentando uma agricultura que é menos eficiente. Que precisa de mais espaço para produzir a mesma quantidade de alimento. Outros mitos que eu abordo é, por exemplo, que cada brasileiro bebe 5,2 litros de agroquímico. Aqui no Paraná a coisa já está pior. Chegam a afirmar que são oito litros por pessoa. Isso tudo é uma grande besteira. Eles dividiram a quantidade de defensivo vendido pela população, uma conta grosseira. Eles esquecem, por exemplo, que 80% desses produtos são usados em soja, milho, cana-de-açúcar, algodão, que não são culturas diretamente alimentícias. Tem uma parte que é usada para pastagem, tem outra para floresta, flores, enfim, tudo usa agroquímico. E a parte que é usada nas hortaliças e frutas, que são alimentos do nosso dia-dia também não tem problema nenhum, porque a planta tem mecanismos de degradação. Assim como a gente toma um remédio, o agroquímico é o remédio da planta. E muitos outros mitos que eu desfaço no livro. O livro é um grande desfazedor de mitos".
RPR: Você fala sobre o uso excessivo ou incorreto dos agrotóxicos, que nesta situação eles podem fazer mal à população. Mas você acha que esse cenário se encontra no Brasil?
Nicholas Vital: "Esse é o pior problema em relação aos agroquímicos. Eu costumo dizer que o agrotóxico não tem problema nenhum. O que tem problema é quando ele é usado de forma errada. E no Brasil, infelizmente, ele é usado de forma errada pela grande maioria dos produtores. E não é porque eles são malvados e querem envenenar as pessoas, é porque eles não têm informação. A gente tem um problema de educação de base no Brasil. Temos que lembrar que na população brasileira tem muita gente que não sabe nem ler e escrever. Aí você vai exigir do funcionário que leia a bula e interprete certinho e consiga fazer o cálculo da calda, quanto é a mistura, qual o período de carência que ele tem que esperar antes de colher... isso tudo é muito difícil. A gente precisa ter mais assistência técnica, mas o Brasil está cada vez mais falido e não tem dinheiro para investir nessas coisas. E o produtor, infelizmente, sofre com a falta de assistência. Felizmente, temos revendas e empresas que ocupam parte deste trabalho, de orientação ao produtor, de um manejo correto. Porque diferente do que as pessoas pensam, as empresas não têm interesse de vender agroquímicos em excesso para o produtor. E isso não é porque ela é boazinha, mas porque existe o problema de resistência ao produto, se utilizado em excesso. E aí eles perdem uma tecnologia. Para as empresas, é interessante que o produtor utilize sim o produto, mas de forma correta".
RPR: Qual é a sua opinião sobre os produtos orgânicos depois de toda sua pesquisa com especialistas?
Nicholas Vital: "Os orgânicos são produtos de nicho. Hoje, no Brasil eles representam 0,5% do mercado. Só que quando você lê nos jornais e revistas, parece que é uma disputa meio a meio. Mas não é. Por que isso? Porque ele custa até três vezes mais do que o convencional. Então, eu costumo dizer que é um alimento de grife. Ele está alimentando igual, só que com o status diferente. Eu brinco, dizendo que é como se fosse uma nova religião. As pessoas que consomem orgânicos usam isso para se sentirem superiores. E não se sentem satisfeitas de somente elas forem assim, querem converter todo mundo. É um mercado sustentado por meias verdades. Eles contam a história até um ponto, onde ela é bonita, mas não contam toda a realidade. Dizem, por exemplo, que os orgânicos são mais saudáveis. Pesquisas mostram que não são. Eles não possuem mais nutrientes que os convencionais. Falam que é mais gostoso. Testes de laboratório mostram que não são mais gostosos. A questão do gosto é muito do método de produção. O alface, por exemplo, pode ser produzido ao ar livre, dentro de uma estufa ou de forma hidropônica. Ele vai ter gosto diferente, mas não tem nada a ver com ser orgânico ou convencional. São muitas lendas que sustentam esse mercado. E isso interessa o varejista. O supermercado não vai fazer você almoçar duas vezes, mas ele pode fazer seu almoço custar duas vezes mais. E é isso que está por traz do mercado de orgânicos. São produtos com maior valor agregado para fazer o consumidor gastar mais".
RPR: O que devemos fazer para mostrar à sociedade urbana que o produtor rural não é o vilão da história?
Nicholas Vital: Eu acho que o agronegócio como um todo se comunica muito mal. O agro sofre muitos ataques e ele rebate muito pouco essas acusações, que na maioria das vezes são infundadas. O agronegócio tem sim problemas, só que temos muitas coisas positivas. O Brasil até pouco tempo atrás era importador de alimentos, graças às tecnologias, a gente se desenvolveu e hoje o Brasil é autossuficiente, visto como o celeiro do mundo. O Brasil é quem vai garantir a segurança alimentar do mundo daqui um tempo, porque muitos países desenvolvidos não tem mais como expandir lavoura. Nós temos. O agronegócio hoje é o motor da economia do Brasil. Não estamos numa crise pior porque o agro está muito bem. Ele representa quase um terço do PIB brasileiro. Só que essas notícias não chegam à população urbana. Isso porque as matérias são feitas por repórteres urbanos. Eu falo isso porque sou urbano. Eu cresci ouvindo esses mitos e só aprendi na prática quando fui a campo. Isso aconteceu quando trabalhei em uma revista e tive a oportunidade de ir a muitas fazendas. Só então percebi que a realidade é muito diferente. Que no campo, as pessoas são simples, mas muito determinadas, que elas estão na atividade por muito amor mesmo. A atividade é de risco todo ano, se chover demais dá problema, se chover pouco também, se cair granizo dá problema, se o preço variar muito também. O produtor enfrenta muitos problemas para produzir o alimento do cara lá na cidade, que não reconhece o produtor. Então eu acho que tudo passa pela comunicação. O setor se comunica muito mal, não leva as boas histórias para o público urbano. O que deve ser mudado".