Quarta-feira, 18 de dezembro de 2019
Mais um ano termina. Neste período, o agro avançou? E o que se poderia antever neste segmento? Para trazer perspectivas sobre esta questão na virada de 2019 para 2020, a REVISTA DO PRODUTOR RURAL conversou com membros de algumas das comissões técnicas do Sistema FAEP ou do Sindicato Rural de Guarapuava. Eles abordam o passado recente e as possibilidades de alguns dos setores da produção agropecuária.
Setor leiteiro
Ronei Volpi
Presidente da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite da FAEP e presidente do Conseleite (formado por representantes dos produtores e das indústrias de laticínios do Paraná).
“Com relação a preços, temos uma curva anormal. Em outubro, novembro, tínhamos quedas de preço. O Conseleite apontou, na reunião de 19 de novembro, uma recuperação. Isso beneficia o produtor mais profissionalizado. Este ano se caracterizou também pelo grande desafio que foi a implantação das novas Instruções Normativas 76 e 77, que trabalham a melhoria de qualidade do leite. Gostaria também de deixar uma mensagem: o Sistema FAEP está trabalhando diuturnamente para os produtores”.
Anton Egles
Diretor do Sindicato Rural de Guarapuava, representante da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite da FAEP, veterinário e produtor de leite em Guarapuava (PR).
“Em relação ao Brasil, foram implementadas novas Instruções Normativas 76 e 77, que regulamentam boas práticas de produção e qualidade do leite. Também tivemos aberturas de mercado externo – que pode ser que para o futuro sejam importantes – como a China e o Egito para produtos lácteos. Mais recentemente, tivemos o Paraná Livre de Febre Aftosa sem Vacinação, o que também pode ser que para 2020, venha a gerar frutos”.
Bovinocultura de corte
Rodolpho Luiz Werneck Botelho
Presidente do Comitê Gestor do Programa Pecuária Moderna; da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da FAEP; e do Sindicato Rural de Guarapuava; agrônomo e agropecuarista em Candói (PR).
“Os mercados interno e externo descobriram que o Brasil também é produtor de carne de qualidade e com um preço relativamente baixo perante o mercado internacional. Rússia voltando a comprar do Brasil, Oriente Médio comprando com mais força do Brasil. Um grande mercado que se abriu, além de Hong-Kong, foi a China. O Paraná conquistou esse processo de produtor de carne com sanidade, com a área livre de aftosa sem vacinação. No final de ano, tivemos um aumento muito rápido na valorização da carne. Mas temos que lembrar que o preço da arroba estava praticamente estável nos últimos 7 ou 8 anos. A perspectiva para 2020 é de um aumento de investimento no setor produtivo, conquistando alguns espaços a mais”.
Agricultura
Nelson Paludo
Presidente da Comissão Técnica de Cereais, Fibras e Oleaginosas da FAEP e produtor na região Oeste do Paraná
“Este ano (2019/2020), a gente está saindo de um plantio de soja complicado, com falta de chuva, atraso de plantio. A colheita da soja vai atrasar e vamos plantar o milho safrinha mais tarde. O produtor, já sabendo deste problema, não vai investir tanto. Na soja, o atraso no plantio não significa colheita menor. Mas dependemos do tempo daqui para frente. Não estamos vendo tempo muito favorável para o desenvolvimento da cultura. Vemos várias regiões do Paraná com problemas. Em todas as culturas, temos que realmente tentar algum meio de baixar os custos de produção, porque o preço de venda é o mercado que dita”.
Hortifruti
Elisangeles Baptista de Souza
Agrônoma e membro da Comissão Técnica de Hortifruticultura da FAEP
“Dois pontos foram trabalhados em 2019, que chamamos desafios do setor de hortifruti. O primeiro: a Instrução Normativa conjunta MAPA e Anvisa (INC 2/2018), que é a implementação da rastreabilidade da cadeia produtiva de frutas e hortaliças (in natura). E a ampliação de registros (de produtos fitossanitários) para pequenas culturas (INC1/2014). A continuidade do trabalho de integração e articulação das ações de produtores, técnicos, governo, pesquisa e indústria para agilizar esse registro. Dessa forma, será possível que os engenheiros agrônomos recomendem esses produtos, proporcionando a produção de alimentos seguros, com a garantia de um produto que foi analisado pelo Mapa, Anvisa e pelo Ibama”.
Erva-mate
Waldemar Geteski
Produtor rural voltado à erva-mate na região de Guarapuava e membro da Comissão Técnica de Erva Mate do Sindicato Rural no município.
“Para nós (de Guarapuava e região), o grande destaque foi que tivemos dois cursos do SENAR-PR que capacitaram em poda e um curso que capacitou no sistema produtivo. Os mesmos produtores estiveram, dias 12 e 13 de novembro, na Embrapa Floresta, em Colombo (região de Curitiba-PR), recebendo treinamento completo sobre o sistema produtivo. Concluímos que temos que treinar o trabalhador rural, para que faça uma boa poda em nossos ervais. No aspecto financeiro, nem todos os produtores conseguiram vender 100% de sua produção. Não pela falta de demanda e sim pela escassez de mão-de-obra. Mas foi um ano altamente positivo”.
Suinocultura
Reny Gerardi
Presidente da Comissão Técnica de Suinocultura da FAEP
“Realmente a suinocultura (brasileira) está vivendo um bom momento. O ano de 2019 foi diferenciado para o setor, haja vista que a partir de março os preços começaram a subir em virtude de uma série de fatores. Um deles é o que está acontecendo hoje nos países asiáticos, onde foram abatidos milhares de animais em virtude da DSA. Consequentemente, a exportação (brasileira) aumentou bastante e o setor (nacional) passou a ser melhor remunerado. E o mercado interno também começou a reagir, em função de aquecimento dos empregos. Tudo isso contribuiu para que o preço aquecesse e remunerasse o produtor. As perspectivas para 2020: acreditamos – e pelos dados que a gente já possui – que os preços continuarão aquecidos. Não que o preço hoje esteja extraordinariamente alto, mas é um preço que remunera o produtor, principalmente o produtor independente”.
Ovinocultura
Adriane Thives Araújo Azevedo
Presidente da Comissão Técnica de Caprinocultura e Ovinocultura da FAEP e produtora de ovinos na região de Guarapuava
“2019 foi um ano de crescimento. Vimos uma movimentação bem maior de novos produtores, olhando a atividade de uma maneira mais empresarial, vendo as possibilidades, a rentabilidade. Isso é reflexo desta questão de organização das cooperativas no estado, que estão colocando um produto de qualidade no mercado e mostrando que existe demanda. Vejo que é uma atividade que depende muito do associativismo. Você não abre um mercado, não coloca o seu produto sozinho. Mas ela precisa, sim, ser uma atividade vista como importante na rentabilidade. Talvez não a única, mas que venha a somar com alguma outra atividade também na propriedade”.
Meio ambiente
Gustavo Ribas Netto
Presidente da Comissão Técnica de Meio Ambiente da FAEP e presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa
“Foi um ano com muitos altos e baixos. Mas altos e baixos que permitiram que as pessoas entendessem a importância do agronegócio na questão ambiental. Se nosso país tem mais de 60% da sua área preservada, podem ter certeza de que isso é um trabalho do produtor rural. Este ano tivemos um embate muito forte com a questão das Unidades de Conservação. Tivemos uma questão da Escarpa Devoniana, que ainda não terminou. Ainda continuamos trabalhando neste processo”.
Hildegard Abt
Engenheira florestal e representante do Sindicato Rural de Guarapuava na Comissão Técnica de Meio Ambiente da FAEP
“Na reunião da comissão do dia 19 de junho (na FAEP), o secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Turismo, Márcio Nunes, falou dos desafios de sua secretaria. Pelo secretário Especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura (MAPA), Nabhan Garcia, foi apresentado um panorama das questões fundiárias em regularização no estado. Em relação a outra questão, o CAR, caiu a data limite para a inscrição. Mas o prazo do PRA foi mantido para final de 2020”.