Quarta-feira, 01 de novembro de 2017
O grupo Tropeiros dos Campos de Guarapuava mostrou, mais uma vez, que o equilíbrio entre experiência e juventude vem dando fôlego e alegria à cultura das tropeadas – uma forma de recordar o ciclo do tropeirismo no Brasil, quando por campos e serras do país as chamadas “tropas” cruzaram os séculos XVIII, XIX e início do XX, levando animais e mercadorias entre o Sul e o Sudeste. Ao abrir de novo espaço para que crianças e jovens acompanhassem seus pais e avós em seus dois dias de jornada por rincões guarapuavanos, a VI Tropeada Tiro Longo não só reafirmou o valor de reverenciar aquele passado, mas colocou as rédeas da tradição nas mãos de meninas e meninos, para que a conduzam ao futuro. Confiança que os pequenos retribuíram à altura, com destreza e entusiasmo, deixando entrever que descendem de quem outrora se aventurou a escrever história através caminhos cheios de desafios.
O roteiro desta que foi a 6ª tropeada do grupo começou com recepção, dia 13 de setembro, na Fazenda Cerro Verde. Na tarde do dia seguinte, teve início o trajeto, com pouso na Cabanha Rio das Pedras. A programação prosseguiu, dia 15, com Sesteada na Igreja Afonso Camargo e pouso na Associação Aprovale (Associação dos Produtores Rurais do Vale do Jordão). No último dia, 16, a programação finalizou com Sesteada na Fazenda Junqueira e pouso na Fazenda Águas Belas.
Seguindo o costume de reverenciar tropeiros da região e/ou seus descendentes, o grupo ressaltou dois nomes: amigos e ambos com um passado ligado ao tropeirismo, Antônio Armstrong (Fazenda Junqueira), conhecido como “Campina” e já falecido, e Davi Klüber (Fazenda Águas Belas), aos 89 anos no momento do evento, adquiriram, em 1961, suas propriedades, situadas na região de Entre Rios, tornando-se também vizinhos de cerca.
A homenagem a Armstrong foi realizada na propriedade da família, diante dos tropeiros, solenemente perfilados num semi círculo. Sua filha e integrante dos Tropeiros dos Campos de Guarapuava, Gelci Armstrong de Araújo, a entregou ao irmão Jeferson. Klüber recebeu sua homenagem à noite, em sua fazenda, numa recepção que encerrou a tropeada com um toque de emoção: a característica flâmula de couro clara dos Tropeiros dos Campos de Guarapuava, com dizeres alusivos à tropeada, lhe foi entregue das mãos da neta Mariana, que havia completado quatro anos no dia anterior.
Presente ao evento, a REVISTA DO PRODUTOR RURAL conversou com familiares dos homenageados. Neta de Armstrong, a médica Andressa Armstrong de Araújo contou que mantém sua identidade rural. Após anunciar no berrante o início de cada etapa da tropeada, com a naturalidade de quem participa destes passeios desde os cinco anos de idade, ela enalteceu a tradição como forma de divulgar valores. “A gente vê amizade, respeito pelas mulheres, pelos idosos. Hoje em dia, vemos as crianças o dia inteiro no computador, fechadas dentro de casa. É raridade elas comerem uma quirera com feijão, sentarem-se embaixo de uma árvore para descansar. É um orgulho proporcionar isso aos nossos filhos, para que também eles relembrem qual é esta herança que veio dos nossos antepassados”, resumiu.
A família de Davi Klüber compartilhava a mesma alegria. A esposa, Leni, se disse honrada: “É muito gratificante e emocionante também, porque é uma homenagem que acho muito justa”. Seu filho e anfitrião da última etapa da tropeada, Mário Klüber, sublinhou que o mais importante, para ele, foi ver o pai receber, ainda em vida, o reconhecimento dos Tropeiros dos Campos de Guarapuava. “Ele é neto de tropeiros, tem toda uma tradição com a agropecuária. Foi muito pertinente fazermos esta homenagem a uma pessoa que está viva”. Mário também se disse feliz de ver a tradição mantida pelas novas gerações: “Tenho a satisfação de hoje, perto dos meus cinquenta anos, ter minha filha, tropeando, e meu pai, aqui, quase um centenário”.
Um dos responsáveis pela organização da tropeada, o produtor rural e tradicionalista José Ernani Lustosa, lembrou que Armstrong ainda tropeava gado, em Entre Rios, mesmo após o final daquele ciclo histórico no país. A amizade, destacou, era marcante entre os dois produtores homenageados. “São estas as famílias que homenageamos. A gente as reverencia fazendo o que elas faziam”, finalizou.
Estiveram também presentes à tropeada autoridades como o prefeito de Guarapuava, Cesar Silvestri Filho, a deputada estadual Cristina Silvestri e o secretário chefe da Casa Civil do Paraná, Cezar Silvestri. Em pronunciamento no final do evento, eles também elogiaram as tropeadas como forma de relembrar a história de Guarapuava e do Paraná, exaltando ainda os valores daquela manifestação cultural, como o respeito à família.