Quarta-feira, 01 de novembro de 2017
A 2º edição do Simpósio Regional de Bovinocultura de Leite foi considerada por mais um ano como um evento importante para o desenvolvimento do setor leiteiro da região. O evento foi promovido pela Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite do Sindicato Rural de Guarapuava, com patrocínio e apoio de diversas entidades e empresas parceiras. O simpósio foi realizado nos dias 4, 5 e 6 de outubro. Ao todo, 150 pessoas participaram, entre produtores rurais, estudantes e profissionais da área.
A programação iniciou na noite do dia 4 de outubro, com abertura oficial, onde participaram autoridades, representantes de empresas, cooperativas e entidades do setor, produtores rurais e estudantes. O presidente do Sindicato Rural, Rodolpho Luiz Werneck Botelho, recepcionou os convidados ressaltando a importância de eventos como o simpósio, para que o setor leiteiro produza cada vez mais e com maior qualidade.
Importância do leite
O diretor financeiro da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (Faep), João Luiz Rodrigues Biscaia, também esteve presente ao evento. “É um prazer estar mais uma vez em Guarapuava e no Sindicato Rural, na abertura de um evento tão importante para o setor leiteiro da região”, exaltou em sua fala, complementando que “é conversando e discutindo os problemas que vamos desenvolver o setor. Crise? Temos sempre, não é a última e nem a primeira. Mas são em eventos como este que aprendemos mais e evoluímos para vencer as dificuldades”.
Biscaia ainda comentou sobre a importância do gerenciamento das propriedades. “Precisamos gerenciar a propriedade como uma empresa. Esquecer paixões, pois empresa não tem coração. Hoje existem diversos treinamentos para questão gerencial administrativa e precisamos urgentemente ir atrás deles”.
Além disso, o diretor da Faep ressaltou a importância que o leite representa para o Paraná: “O leite está presente em 100% dos municípios do nosso Estado. Somos o segundo maior produtor de leite do país, perdemos apenas para Minas Gerais”. A última pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2016, revelou que em 2015 a produção de leite no Paraná chegou a 4,66 bilhões de litros.
Não só no Paraná, mas em todo o Brasil o leite tem importância expressiva. A Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA) estima que a produção de leite, em 2017, será de 34,9 bilhões de litros. Segundo o IBGE, a produção de leite no país cresceu de 2010 a 2015, 12%. No mundo todo, a produção do leite proveniente de vacas, búfalas, ovelhas e cabras, chegou a 800 bilhões de litros em 2015.
Mas em contrapartida, o consumo da bebida e de seus derivados também aumentou no mesmo período, tendo alcançado o índice de 12%. E deve aumentar muito mais. Segundo informe da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o leite e os produtos lácteos têm visto um crescimento de consumo per capita, passando de 28 quilos por ano em 1964-66 para 45 quilos, atualmente. Até 2030, a entidade diz que este número deve passar para 66 quilos.
Para dar conta da demanda só há uma forma: produzir mais. E para isso, é necessário informação, tecnologia e conhecimento. Confira agora o resumo das palestras técnicas, que vieram justamente de encontro com estes objetivos:
10 Índices Zootécnicos que todo produtor de leite deveria conhecer
Prof. Dr. Rodrigo de Almeida – UFPR
“Embora tenham diferenças nos manejos de alimentação, no grupamento racial, no preço de leite, basicamente, em qualquer lugar do mundo, para um produtor de leite ter sucesso, os parâmetros são mais ou menos os mesmos. O Brasil tem um volume total de leite muito grande. Somos o 5º maior produtor mundial. Mas este alto volume só é alcançado porque temos muitas vacas. Na verdade, a produtividade é muito baixa. Mas achamos que uma das formas de melhorar esta produtividade é os produtores, cada vez mais, se atentarem para índices zootécnicos, para melhorar sua eficiência. Não adianta continuarmos a aumentar nossa produção, colocando mais vaca na propriedade. Dentro do total de vacas, ele tem que tirar mais leite, fazer as vacas emprenharem mais rápido, ter estes animais produzindo leite com mais gordura e mais proteína, com CCS baixa e assim por diante. Acho que o estudo dos índices zootécnicos é importante para buscarmos uma produção de leite que seja alta. Mas, tão importante quanto alta, é ser eficiente, lucrativa para o produtor”.
Fatores nutricionais que afetam a LINA - Leite Instável Não Ácido
Zootecnista Leopoldo Los – Frisia
“O leite instável não ácido é um problema que acomete o produtor, impedindo-o de comercializar o leite produzido na fazenda. É um problema multifatorial. Podem ser vários os fatores. Entre os principais, estão o ‘desbalanço’ nutricional e o estresse térmico causado nos animais. Há outros fatores que provocam também LINA, mas os dados mais frequentes que temos vêm de origem nutricional – falta de comida para os animais também agravada pelo estresse térmico. O grande impacto de LINA na produtividade é que o leite é impedido de ser coletado. O teste é trabalhado no Brasil por legislação. Todo laticínio deve fazer o teste do álcool. As cooperativas têm um programa intensivo de qualidade do leite e uma preocupação grande com o leite instável não ácido. É importante o departamento técnico ou os técnicos da cooperativa ficarem atentos, juntamente com o produtor, para não ter nenhum período do ano com escassez de alimento ou ‘desbalanço’ nutricional (dos rebanhos), que possam gerar LINA”.
Compost Barn
Zootecnista Edgar Moser Neto – DSM Tortuga
“Tratamos do assunto do compost barn, uma estratégia de confinar vacas em camas de maravalha, onde se vai gerar uma compostagem deste material. Eu trouxe algumas informações sobre o que pode dar errado e o que pode dar certo. No sistema de compostagem, a vaca tem maior liberdade para escolher o lugar em que vai deitar. Temos hoje resultados mostrando que uma vaca em compost barn fica de duas a quatro horas a mais de tempo deitada do que vacas em freestall de camas de borracha. Acreditamos que existem três pilares extremamente importantes para o sucesso: ambiente, nutrição e vacas com alto potencial genético. Com estes três pilares, juntos, e bem feitos, vou conseguir ter excelentes produções por indivíduo. Mas se eu achar que o confinamento vai resolver meus problemas, posso estar me enganando: se não fizer o confinamento de forma adequada, se não tiver um bom técnico, auxiliando na parte de balanceamento de dieta, não vou conseguir tirar do meu investimento a maior produção”.
Case de sucesso
Produtora rural Marlene Kaiut, de Carambeí (PR)
(Campeã do Prêmio SEBRAE Mulher de Negócios PR e vice-campeã nacional 2015)
“Quando meu marido decidiu acabar com a produção de leite, devido às dívidas que tinham sido acumuladas, eu pedi uma chance para fazer do meu jeito. Pela minha formação, que é em administração, eu sabia que fazendo uma gestão melhor, poderíamos conseguir bons resultados. No começo foi difícil, porque eu não sabia nada sobre como produzir leite. Nunca tinha colocado uma bota de borracha e ido até a leiteria. Precisei aprender tudo do zero. No momento, ninguém acreditou que eu seria capaz. Para começar, mudei toda a administração da atividade, comecei a trabalhar em cima da gestão, colocando tudo no papel, o que entrava e saía, para conseguir ter um controle maior e verificar o que estava dando errado. Descobrindo o erro, consegui melhorar e os bons resultados começaram a vir. Tecnicamente, mudei toda a nutrição dos animais, com apoio técnico, é claro. Meu rebanho atualmente é de 110 animais em lactação, com uma média de 22l/animal. Desde quando assumi, venho fazendo investimentos, reformei toda a estrutura, pois acredito que é necessário e dá resultado. Hoje me sinto muito feliz e aprendi a fazer de tudo, faço chifre, casco, dirijo trator, trato dos animais, tiro leite. Minha mensagem aos produtores de leite é que não se deve desistir. Temos que pensar que tudo que depositamos na nossa produção é para nós mesmos, é para o crescimento da nossa atividade e para nossa própria rentabilidade. Tem que insistir”.
Estratégias alimentares para bovinos leiteiros, com enfoque nas culturas de inverno
Pesquisador Elir de Oliveira – IAPAR
“Focando nas variabilidades da aveia, uma importante forragem de inverno, cito duas delas: a Iapar 61, uma aveia preta de ciclo longo, que hoje é um material bastante conhecido e importante para o produtor porque ele pode dar oito pastejos; e a aveia IPR Suprema, entre suas características, ela possui muitas folhas, rica em proteína, tem mais raiz e o ciclo dela é ainda mais longo, podendo dar 10 pastejos. A aveia precoce pode ajudar com a adubação. Mas para que seja benéfica é necessário um manejo correto, como por exemplo, uma cultivar de ciclo longo, fazer uma adubação de base com MAP e também usar 150 quilos de nitrogênio parcelado em três vezes. Além disso, são necessários alguns cuidados com a aveia. Muitos produtores cometem o erro de rapar demais a aveia, deixando o gado superpastejar, deixando o animal decapitar o tecido meristemático. É muito importante o produtor ter atenção com o momento da retirada dos animais. Quanto à entrada, o ideal é quando se tem 1 kg de matéria verde fresca por m², isso vale para azevém, aveia ou qualquer outra forrageira”.
Período de transição – como preparar sua vaca para o parto
Veterinário Alceu Miguel Jr Draszevski – DSM Tortuga
“Dentro do famoso período de transição, preparar a vaca para o parto é primordial. Porque dentro desse período, ela passa por várias mudanças metabólicas e fisiológicas e consequentemente a exigência de energia e calorias mais que dobra. Então o que precisamos nesse período? Precisamos otimizar a parte de matéria seca, trabalhar com uma dieta aniônica, preparando essa vaca e reduzindo os impactos de uma eventual hipocalcemia ou uma cetose tanto clínica, quanto subclínica. E dentro desses fatores teóricos, o manejo básico é primordial, que é trabalhar com conforto e fazer com que a vaca ingira o máximo de comida possível. Dando conforto, ela vai comer melhor e comendo melhor, reduz-se os impactos negativos desses eventos metabólicos que acontece com o animal. Assim, buscamos o sucesso da lactação subsequente, que é onde a gente procura minimizar descarte, maximizar produção e a saúde do animal”.
O Leite na Prática
Produtor Eduardo Pletz – Fazenda Jersey Pletz – Guarapuava (PR)
(Sistema freestall)
“Iniciamos o projeto em 9 de dezembro de 2014. As instalações novas, dia 13 de agosto de 2015. O primeiro passo foi a busca de recursos não próprios, porque eu não tinha dinheiro para fazer este investimento. E começar do zero é assim: você desenha o projeto da forma como quer. Você busca exemplos, mas faz do seu jeito. Não há erros grotescos dentro da obra. Ao começar do zero uma atividade, não tem emenda, não tem a famosa ‘gambiarra’. Você tem um projeto estrutural, desenhado para aquela atividade. Na região de Guarapuava, o valor da terra é altíssimo. Hoje, tenho uma capacidade de concentração de 90 animais em 900 metros quadrados. Para ter este mesmo número de animais a pasto, eu teria que ter algo em torno de 30 hectares. Aqui tenho uma concentração, então produzo muito mais leite por hectare. Mas estamos lidando com seres vivos, é uma surpresa diária. Temos que ter atenção e dedicação integral ao serviço. É preciso estar junto, olhando os animais todo dia, acompanhando, para ter sucesso na atividade. O leite, hoje, está iniciando sua rentabilidade. Não que esteja sobrando dinheiro para dizer: ‘estamos muito felizes com isso’. Nós temos a parte de fluxo de caixa pronto. Dentro dos prazos estabelecidos de financiamentos e tudo mais, estamos dentro do acordado. Para obter êxito, tem que ter principalmente amor à atividade, porque é 365 dias por ano; persistência, como comentei aqui na palestra. Tem que ser dedicado, senão o negócio não funciona”.
Fazenda Sol Nascente – Campina do Simão (PR)
Proprietária e produtora: Suzana Rickli e filhos
(Rebanho holandês – Sistema Compost Barn)
“Estamos na atividade leiteira há três anos e há um ano e meio começamos com o sistema compost barn. Nossa média é 25l/animal/dia no sistema atual. Quando os animais estavam a pasto, a média era de 16l/animal/dia no verão e ainda tínhamos uma grande dificuldade no manejo, porque demanda trabalho fazer cerca, levar água, entre outros serviços. E nossa propriedade não tem só a atividade de leite. Quando começamos com o leite, já pensamos no confinamento. No início, ficamos sete meses com balde ao pé, até construirmos a leiteria. Hoje, já trocamos a ordenhadeira, tínhamos só seis conjuntos, hoje estamos com dez para agilizar a ordenha. Sempre tentamos simplificar tudo. O composto está com capacidade para 100 vacas, com o tamanho de 1125 m². Mas hoje temos apenas 80 vacas. No barracão foi pago cerca de R$ 100,00 o metro. Fazendo a conta, o custo do confinamento, com barracão e composto, por vaca, foi de R$ 450,00. Foi um custo alto, mas que dá para se pagar com o tempo e hoje temos muito menos mão de obra com o manejo. A gente já chegou a ter 12 funcionários, hoje estamos com apenas três. Estamos fazendo a reposição da cama, com maravalha, de acordo com a disponibilidade da serraria, porque nem sempre eles têm em grande quantidade. Hoje, estamos com 14 m² de cama por vaca. Além do sistema contribuir para nossa produção, acredito que a grande diferença que fez o leite funcionar, foi nossa presença como proprietários. Estamos sempre juntos, acompanhando. É uma atividade tranquila e na minha opinião, muito rentável, se for bem cuidada”.
Avaliação positiva
Osni Granemann, produtor leiteiro de Palmital, avaliou positivamente o Simpósio. “O evento foi bom em todos os aspectos, em relação à qualidade, organização, palestras. Cada vez que você tem a oportunidade de assistir uma palestra com a presença do Edgar Moser Neto (compost barn) é muito importante. A palestra com o pesquisador Elir Oliveira me ajudou bastante também. Ouvi algumas coisas que eu não sabia sobre forragicultura e no próximo ano, não vou repetir o mesmo erro. Eu já participei de uma série de encontros e palestras e em todas elas, acrescentamos alguma coisa ao nosso conhecimento.”
Para o produtor e participante do Simpósio, Alexandre Leite, todas as palestras foram bastante vantajosas e de qualidade, mas para ele a que mais agregou foi a que tratou sobre forragens de inverno. “A vaca só dá um bom leite, se comer bem. E a pastagem é uma das formas mais baratas para fazer a alimentação para o animal, mas muitas vezes, o produtor não investe no pasto. Na nossa propriedade, nós não temos muita área de pastagem e esse é um dos principais déficits. Mas com alguns manejos que o Dr. Elir indicou durante a palestra, nós podemos melhorar. Com certeza, é algo que iremos levar para dentro da nossa propriedade”.
Sobre as visitas técnicas, a produtora de leite Juliana Przepiorski acredita que agregou ainda mais conhecimento para o produtor. “Na minha opinião, o ser humano é totalmente visual. Quando você fala é uma coisa, mas quando ele vê, ele consegue fixar ainda mais. Então visualizando estruturas com altas tecnologias, detalhes que fazem toda a diferença, é muito melhor. Você consegue absorver mais e levar de uma maneira correta dentro da propriedade, mudando alguma coisa na estrutura física, no manejo ou em outra área que vai impactar na produção”.
O agente de captação de uma empresa do setor leiteiro, Giovano Gilberto Alves de Abreu, veio do sudoeste do Paraná, do município de Enéas Marques, para assistir o simpósio e não se arrependeu. “Foi muito produtivo o evento. Foram tratados assuntos importantes direcionados ao produtor e a nós, técnicos, também. Todo conhecimento é bem-vindo. Cada ano que passa, existem novas tecnologias e não podemos parar no tempo”.
Show de Magia
Após a cerimônia de abertura do simpósio, adultos e crianças se divertiram assistindo o show de mágica e humor, com o paranaense Andrey Mandrake. O mágico que ficou conhecido nacionalmente por suas mágicas com moradores de rua, em Curitiba, interagiu e arrancou boas risadas do público presente.