Sexta-feira, 27 de abril de 2018
A Cooperaliança Carnes Nobres, com o objetivo de oferecer informação aos cooperados do Projeto Ovinos e para produtores de ovinos em geral, realizou mais uma edição da Ovinotec no dia 4 de abril, no anfiteatro do Sindicato Rural de Guarapuava.
Com um público de, aproximadamente, 200 pessoas, a 6ª Ovinotec contou com programação técnica durante todo o dia sobre diversos temas da ovinocultura.
“A ovinocultura está ocupando um espaço importante, não só no nosso estado, mas em todo o Brasil. Temos visto o crescimento da ovinocultura em números e de uma forma mais profissional. Ficamos felizes por ter um auditório lotado na Ovinotec, porque esse é o caminho: buscar ferramentas para profissionalizar a atividade, buscar conhecimento para que ela se torne uma atividade rentável. Ela é rentável, mas precisa ser trabalhada de forma profissional e eficiente”, destacou a vice-presidente da Cooperaliança, Adriane Thives Araújo Azevedo, coordenadora do Projeto Ovinos.
Adriane agradeceu a presença dos participantes que vieram de outros municípios, citando cada um deles: “Temos pessoas de vários municípios da região e estamos muito honrados por isso. São pessoas de Pitanga, General Carneiro, Imbituva, Prudentópolis, Ponta Grossa, Candói, Curitiba, Turvo, Cruz Machado, Dois Vizinhos, Pinhão, Nova Prata do Iguaçu, Irati, Santa Maria do Oeste, Cruzeiro do Iguaçu e Manoel Ribas”.
O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO), Paulo Afonso Schwab esteve presente ao evento. Ele parabenizou a atuação da Cooperaliança, afirmando que tem sido fundamental o trabalho da cooperativa para o desenvolvimento da ovinocultura na região. “Hoje vim ao evento não só como presidente da Arco, mas também como presidente da Câmara Setorial de Caprinos e Ovinos do Ministério da Agricultura. Existem duas atividades ainda no setor da pecuária que não tem uma organização da cadeia: ovinos e caprinos. E esse é o nosso grande desafio: organizar essas atividade. Nós vemos o exemplo aqui de Guarapuava aonde está sendo feito um trabalho extraordinário da cooperativa e agora ainda construindo um frigorifico para abate de ovinos. É um investimento grande e com isso se organiza todo o ciclo da cadeia produtiva”.
Schwab citou projetos do Ministério de Agricultura que incentivam o desenvolvimento da ovinocultura no país, como o Ovino Sul, Rota do Cordeiro e Agro+.“Na parte de ovinos hoje nós importamos tudo. Só ano passado nós trouxemos 15 mil toneladas de carne ovina do Uruguai. Será que nós não conseguimos produzir?”, indagou o presidente da Arco.
Confira o resumo das palestras técnicas que aconteceram durante a Ovinotec:
Ovinocultura (Pós)Moderna: Por onde começar?
Marcos Borba – médico veterinário, mestre em Ciências Veterinárias e doutor em sociologia, agroecologia e desenvolvimento sustentável. Pesquisador da Embrapa
“Há uma tendência de consumo de alimentos e da carne, em especial, que apontam para a necessidade de algumas mudanças. Eu creio que o produtor primeiro deve estar informado sobre estas tendências. Além disso, ele deve zelar, em minha opinião, e cada vez mais dar demonstrações claras sobre seu empenho em conservar seus recursos e atender os padrões de qualidade. Um fator decisivo é fortalecer o processo coletivo em torno da cooperativa para que os produtores da região possam ocupar e aproveitar as oportunidades do momento que a ovinocultura está vivendo. Felizmente é o que já acontece na região de Guarapuava. É fundamental também que o ovinocultor pense além da porteira. Ele precisa vincular a carne do campo ao prato. E esse é um papel da cooperativa também. É preciso promover a educação, no sentido de que o consumidor possa identificar melhor a carne, aprender a preparar, saber o que é uma qualidade na hora de escolher o corte. E, obviamente, se a cooperativa puder contribuir na elaboração de produtos mais elaborados, como presuntos, copas, entre outros, ou cortes mais nobres, tudo que seja um agregador de valor, é válido também. Eu reforço que, através da cooperativa, a região de Guarapuava e grande parte do Paraná estão pelo caminho certo. Essa relação dos produtores de forma organizada, por meio do cooperativismo, é o melhor caminho para a ovinocultura”.
Conservação de Forragem: Ferramenta Estratégica na Ovinocultura
João Ricardo A. Pereira – zootecnista, mestre em Nutrição Animal e Pastagens (Esalq/USP) e doutor em Zootecnia (UNESP/Jaboticabal). Professor na UEPG, atuando na área de Nutrição de Ruminantes, com ênfase nas áreas de conservação de forragens
“A primeira coisa que o produtor tem que ter é um planejamento forrageiro. Ele tem que ter uma estimativa de quanto vai precisar de forragem na atividade, durante um ano. Por exemplo, se o produtor vai fazer silagem de milho no verão e pré-secado no inverno, precisa planejar qual área ele vai ocupar para fazer isso. Tendo esse planejamento, o foco dele tem que ser qualidade. Quanto mais efetivo ele for, mais eficiente em produzir qualidade dentro de casa, menor é a dependência dele em comprar na rua. Então imagina um produtor que tenha 100 ovelhas e não tem um volumoso de qualidade. Vai ter que dar um quilo de concentrado por animal/dia. Ele vai gastar 150kg por dia pelo fato de não ter uma forragem de boa qualidade. Se eu tenho produtividade e qualidade, meu custo de suplementação é menor. A possibilidade de eu ter um rebanho maior na mesma área é maior. Essa região é referência nacional em produtividade de grãos. As melhores produtividades de milho do Brasil estão aqui. Portanto, a tecnologia já existe. Basta o produtor aplicar e aproveitar o bom potencial de agricultura da região, transformando isso em melhor produção forrageira”.
Manejo Intensivo das Pastagens na Ovinocultura
Rodolfo Carletto – engenheiro agrônomo, mestre em produção vegetal pela Unicentro. Atua na área de produção forrageira e alimentos conservados para ruminantes na Cooperaliança
“O planejamento forrageiro deve começar primeiro com o produtor conhecendo a área que tem, o tipo de relevo, proximidade de água, disposição desse piquete, se vai receber insolação no início da manhã ou no final da tarde. Tudo isso tem que ser levado em conta. É preciso conhecer o ciclo da forrageira também, para que ela não atrapalhe a agricultura, que geralmente é trabalhada simultaneamente com a pecuária. E, por fim, distribuir isso da melhor forma pra que ele tenha alimento durante todo o período que ele deseja. Para nossa região, eu tenho bons olhos para a cultura do centeio, que resiste muito bem às geadas. Ano passado, a gente teve uma sequência de mais de oito geadas e ele se saiu muito bem. Quanto as doenças, nas pastagens de inverno o que a gente nota no início do ciclo é o ataque de lagartas, principalmente em aveias. Na fase de pastejo, a praga que mais causa problemas é o percevejo raspador de cereais, que reduz a área de folha e acaba diminuindo a produção de matéria-seca da área. Mas é uma praga de fácil controle. O que precisa ser feito é um monitoramento para que a gente possa tomar as medidas cabíveis antes da praga realizar os danos”.
Aprendizado real em fazendas reais
Paul Crick – diretor do Taratahi, Centro de Treinamento Agrícola (Nova Zelândia)
Um autodidata do campo, Paul Crick, começou do zero na agropecuária. Não veio de uma família do meio rural e esteve apenas por dois anos na universidade. Hoje, Crick é diretor do Taratahi, um centro de treinamento agrícola na Nova Zelândia, além de ter vários papéis importantes na pecuária do país, como ser presidente da Eastern East Island Beefand Lamb Farmer Council. Durante sua palestra, Paul contou um pouco sobre o Taratahi, afirmando que o centro possui uma metodologia de ensino extremamente prática, detalhando que os estudantes não ficam sentados atrás de carteiras e sim “colocam a mão na massa”, ou melhor, nos animais. No centro de ensino, são trabalhadas as atividades de bovinos de leite e de corte, ovinos, horticultura e equinos, espalhadas nos seis mil hectares que pertencem ao Taratahi. São várias fazendas em diversas regiões da Nova Zelândia. Atualmente, o centro de treinamento possui 2000 estudantes.
Depois de contar um pouco sobre seu local de trabalho, Crick falou sobre a realidade da ovinocultura em seu país. Atualmente, a Nova Zelândia é a maior exportadora de carne de cordeiro do mundo. Isso em um ambiente completamente hostil e com um clima totalmente instável. O boom da ovinocultura neozelandesa se deu a partir de 1984 e por um fato não muito positivo. Isso porque foi neste ano que os agropecuaristas do país perderam um subsídio do governo que correspondia a 40% da renda das propriedades. Antes disso, a carne era apenas um subproduto dos ovinocultores e a lã era o produto principal.
Com a perda do subsídio, o rebanho pecuário do país baixou drasticamente. Só o rebanho ovino teve uma redução de 50%. Mas, surpreendentemente, os que continuaram na atividade perceberam que a fazenda é um negócio e que eles precisavam fazer dar certo. Não possuíam alternativa, já que, para a maioria dos produtores, essa era a única atividade. Um dos fatores que Crick enfatizou todo o tempo em sua palestra foi que “os ovinocultores da Nova Zelândia perceberam que acima de tudo eles eram produtores de pasto e não produtores de ovinos”. Com isso, e outros fatores, a produção da carne de cordeiro do país baixou apenas 11% (lembrando que o rebanho caiu 50%).
Entre outras diversas particularidades da produção de ovinos da Nova Zelândia, Crick citou que os ovinocultores de lá prezam pela genética e o ambiente. No ambiente, incluem o manejo dos ovinos e se atentam a três fatores da produção: o pasto, o animal e as pessoas que trabalham com os animais. “A gente investe no animal, investe na tecnologia, investe no pasto. Por que não investir nas pessoas que realizam o manejo da sua produção? Não há muitas pessoas na Nova Zelândia, por isso precisamos investir nos nossos colaboradores, para que eles fiquem nas fazendas. Na minha passagem pelo Brasil, eu vi que isso não é comum, infelizmente”, disse ele.
Crick encerrou sua palestra deixando três sugestões aos ovinocultores brasileiros: “Primeiro: agora é a hora de fazer a parte de vocês - produzir cordeiro. A cooperativa alavanca vocês, agora é a hora de vocês aproveitarem o incrível momento da carne de cordeiro e produzirem mais e com qualidade. Segundo: vocês não são simplesmente ovinocultores, vocês são produtores de pasto. Tem que medir, tem que saber quanto foi produzido, quanto entrou, quanto eu dei para o animal e quanto saiu, quanto precisa ser produzido. E quem faz suplementação tem que medir também. Se não sabemos onde estamos, como saberemos para onde ir? Última coisa é: invista no pessoal. Invista no capital humano. Eu sei que vocês vão falar que aqui não funciona, que a realidade do país é outra. Mas alguém tem que começar. Porque se a gente continuar fazendo a mesma coisa sempre, como vamos ter um resultado diferente?”. Ele ainda complementou: “estou falando como alguém que vem de fora, que está fora do Brasil. Quando eu vim há 13 anos, já vi o potencial do país de vocês. Eu, sinceramente, estava com medo que vocês organizassem a produção de vocês. E se vocês fizerem isso, organizar a cadeia de produção, vocês vão dominar o agronegócio mundial”.
Eficiência produtiva via seleção
Dayanne Almeida – Zootecnista na Wairere Sheep Genetics (Nova Zelândia)
“O cenário de muitas fazendas que possuem ovinocultura é esse: um monte de matriz comendo de graça na fazenda, porque elas não estão produzindo. E aquelas que estão produzindo, estão competindo comida com as que comem de graça. Mas tem produtor que estufa o peito e diz: eu tenho 200 cabeças. Como funciona a eficiência? Eu quero aumentar a minha produção de cordeiros. Quais são as minhas opções? Comprar mais matrizes, que muitas vezes vem com todos os problemas possíveis, cheio de vermes, com problemas no casco? Não seria melhor melhorar a eficiência com o que já temos? Primeira coisa: comida. Melhorar nosso pasto é fundamental. Temos que alimentar nossas matrizes bem. Só assim o produtor vai conseguir explorar e saber o que realmente essa matriz tem de potencial. Matriz não pode passar fome em nenhum momento no ano. Se ela perder peso, ela vai ser ineficiente e vai precisar de quatro vezes mais energia para ganhar peso de volta. Depois de nutrição, eu preciso trabalhar a sanidade. O produtor precisa ter um programa de manejo sanitário, seguindo um calendário sanitário, com vacinas e vermifugação, tudo certinho. Depois disso, melhoramento genético. Melhoramento genético é número. É preciso mensurar carneiro com números bons. Um bom carneiro não é um carneiro bonito, aquele que você vê em feiras, com o pêlo lindo. É aquele com bons números e boas características produtivas, como taxa de crescimento, rendimento de carcaça, peso ao desmame, fertilidade da cordeira e resistência à verminose. São índices produtivos que pesam no bolso. Isso é eficiência. É controlar o que se pode controlar dentro da porteira”.