Segunda-feira, 04 de novembro de 2019
Cinco milhões de hectares ficam em pousio todos os anos no Paraná durante o inverno, servindo apenas para cobertura de solo para a próxima safra de verão. A maioria destas áreas poderia ser aproveitada dentro da propriedade, gerando mais rentabilidade para o produtor rural.
Isso é possível por meio do Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. Por meio de plantio consorciado, em sucessão ou rotação, a ILPF contempla sistemas produtivos diversificados de grãos, carne, leite, produtos florestais, dentre outros. Além de ter maior produção na mesma área, o sistema maximiza a utilização dos ciclos biológicos das plantas, animais, e seus respectivos resíduos, assim como efeitos residuais de corretivos e nutrientes.
O sistema vem sendo disseminado cada vez mais, devido à necessidade do produtor rural produzir mais alimento sem aumentar a área. No Paraná, a ILPF está sendo debatida constantemente por meio das ações do Programa Pecuária Moderna.
Na região de Guarapuava, a o sistema de integração vem ganhando espaço também nas propriedades rurais. Pelo terceiro ano consecutivo, uma iniciativa do Sindicato Rural de Guarapuava, em parceria com a Coamo e diversas empresas, busca debater em um dia de campo, as vantagens e o manejo do sistema.
O 3º Dia de Campo Produção Integrada, neste ano, foi realizado no dia 22 de agosto, na Fazenda Capão Redondo (Candói-PR) e reuniu mais de 500 pessoas de várias regiões do Paraná e também de outros estados, como Santa Catarina e Mato Grosso.
A propriedade que sediou o evento é considerada referência neste tipo de sistema de produção. O anfitrião, Rodolpho Luiz Werneck Botelho, é coordenador do Programa Pecuária Moderna, além de presidente do Sindicato Rural de Guarapuava e da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da Faep.
Na abertura do evento, Botelho recepcionou os participantes agradecendo a presença de todos e também as parcerias na realização do evento. “Nossa ideia é mostrar o que estamos fazendo aqui na Fazenda Capão Redondo, juntamente com algumas empresas parceiras e também com a pesquisa. O sistema integrado de agricultura, pecuária e floresta é complexo e precisamos unir os conhecimentos para que a produção nesse sistema funcione. Precisamos de dedicação e de assistência técnica. E somente com diálogo e pesquisa conseguimos bons resultados”.
Marino Mugnol, gerente da Unidade Coamo – Guarapuava disse que a intenção do dia de campo é sempre buscar o que há de mais moderno em tecnologia na integração de lavoura-pecuária-floresta e debater com os agropecuaristas da região. “A gente sente que isso de fato traz um resultado muito grande. Tenho certeza que o que foi apresentado durante o dia de campo é perfeitamente aplicável”.
Planejamento Forrageiro de verão para altas produtividades
Steben Crestani – engenheiro agrônomo e coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento de Produto da Atlântica Sementes
“Há uma busca maior dos produtores para começar a tornar o sistema pecuário de produção de gado de corte mais rentável. E não há o que fazer, a não ser aumentar a intensificação, o aporte de tecnologias, tanto na parte de adubação, como nas forrageiras mais produtivas e a supervisão do sistema. Tradicionalmente, os sistemas pecuários brasileiros eram muito extensivos. Sempre foi tachado culturalmente que criar boi é fácil, que basicamente, é só largar no pasto e ele se cria sozinho. Com isso, criou-se uma cultura muito improdutiva no setor pecuário. É necessária adubação, conhecer o sistema de produção, adequar as forrageiras disponíveis no mercado com a tecnologia empregada. E dentro desse tema, falamos sobre as forrageiras da Atlântica Sementes, que são forrageiras de alto potencial produtivo, híbridas, possibilitando a produção por um longo período por terem um ciclo longo. As opções são o milheto hibrido campeiro, que tem um potencial produtivo maior que os comuns, pelo fato de demorar mais para florescer e produzir mais folhas por mais tempo; o Nugrass 900F, que é um sorgo híbrido de pastejo; e o Nugrass 800BMR, um sorgo focado em qualidade, com foco principal de romper o vazio forrageiro, que temos normalmente na estação de outono. É um material para implantação de janeiro a fevereiro, que vai fornecer pasto até maio”.
Lavoura de Carne 12 meses do ano
Eduardo Madruga – médico veterinário e gerente técnico de Pecuária de Corte DSM Tortuga
“A pecuária é uma atividade que emprega apenas de 10 a 20% de investimento, se comparado à agricultura. O projeto Lavoura de Carne 12 meses do ano busca mudar esse cenário e aumentar o investimento na pecuária. Ao invés de investir R$ 300 ou R$ 400 por hectare, trabalhamos com hectare de lavoura de carne de R$ 1.200,00 a R$ 1.500,00 por hectare. Nisso estão todos os custos: mão-de-obra, operacional, suplementação, adubação, nitrogênio, dessecante, semente, preparo, enfim, todos os custos que são contabilizados. Porém, ao invés de trabalhar com 200 kg produzidos por hectare em um período de seis meses, temos gerado receitas brutas de R$ 3 mil a R$ 4 mil. Com isso, nós conseguimos ter margens líquidas de R$ 1.500,00 até R$ 2.000,00 em seis meses. Diferentes das margens líquidas de R$ 300,00, o tradicional da pecuária mediamente levada a sério. A pecuária carece de estratégia. Então a lavoura de carne desafia o produtor a mudar o conceito de investimento. Com isso, ela gera uma colheita de 5 a 8 vezes maior que a média. O pecuarista também deve se atentar a algumas coisas: primeiro, a escolha da área, se é uma área fixa ou uma área de integração; aptidão do solo, para que a forrageira a ser escolhida seja de acordo com a aptidão do solo; a questão de clima, de janela de utilização. Não adianta utilizar uma forrageira que dá 180 dias de pastoreio, se ele só tem 90 ou 100 dias dentro de uma janela de uso. É preciso passar por uma escolha de sementes, por um preparo ou uma dessecação de solo, ou por um plantio na sequência de colheita; escolha ideal de sementes; adubação. Essa adubação pode ser exclusivamente para pecuária ou pode ser uma adubação de sistema, que beneficie a pecuária ou também a próxima lavoura. No projeto, trabalhamos com 200 a 400 kg de ureia em um ciclo de quatro a seis meses de pastejo, fracionado em aplicações de 80 kg/hectare. Isso alonga o ciclo de planta, nos dá qualidade. E aí chegamos na questão diferencial do projeto lavoura de carne da Tortuga, que é o adubo de rúmem, a suplementação. O Fosbovi Aveia-Azevém é um suplemento de 0,1% de consumo do peso vivo que vai adubar o rúmem, modular a fermentação ruminal para potencializar o desempenho em cima de uma pastagem já de qualidade. Assim, animais em pastagens que teriam desempenhos médios de 700 a 800gr de GMD, com suplementação e incremento de 300 a 350gr em média no GMD podem superar 1kg de GMD durante todo o período, isso em um indivíduo, e, quando falamos de cinco a sete cabeças, essa adubação de rúmen com suplementação 0,1% representa um ganho adicional de 1,5 a 2,5kg por dia por hectare, isto é muito impacto em desempenho zootécnico e financeiro”.
Estações no campo
Estação Unicentro
Sebastião Brasil – professor Unicentro
“Falamos sobre o consórcio de milho com forrageiras durante o período de verão, para termos palha e forragem para o pastejo outonal. O objetivo do nosso experimento era ter uma cobertura viva durante o período de outono, que servisse como cobertura de solo para plantio direto e também para alimentação dos animais. Mostramos que não houve comprometimento da produção do milho. A cultura produziu até melhor com as forrageiras. Com elas, dá para gerar uma rentabilidade maior pela entrada dos animais. E depois de tudo isso, a gente dessecou e plantou trigo. O trigo nesse consórcio teve menos risco e menos custo de produção. Esse consórcio é muito comum em regiões quentes, mas aqui na região fria é a primeira vez que fizemos e tivemos bons resultados”.
Estação DSM Tortuga
Rogerio Semchechem – assistente técnico comercial DSM Tortuga
“Na nossa estação, falamos sobre as estratégias que podem potencializar o desempenho de animais em pastagens de alta qualidade. Foi comentado sobre produtos que servem de “adubo” para o rúmen, que podem aumentar até 50% do desempenho dos animais. No caso de pastagem de inverno, o Fosbovi Aveia-Azevém e no caso de pastagem de verão o Fosbovi Proteico 30 com Monensina. Estes produtos promovem um ganho adicional de até 350 gramas no desempenho dos animais, sobre o que normalmente já ganham apenas com um suplemento mineral, isso muitas vezes pode significar em aumentar 50% o ganho do peso diário. E se a gente fazer uma conta simples, multiplicando pelo número de dias do ano, pode ter um ganho de peso maior que 120 kg por ano, que pode ser traduzido em dinheiro para o bolso do produtor. E o investimento é baixo, porque muitas vezes custa metade disso. Também falamos sobre as estruturas de cocho de alto consumo, que estão sendo utilizados na Fazenda Capão Redondo. Estes cochos têm um sistema de armazenamento que elimina a necessidade de reposição do suplemento diariamente, podendo ser usado por vários dias no mesmo cocho, com os animais tendo um consumo voluntário e auto limitante. Para isso utiliza-se produtos prontos para uso ou formulações feitas para o animal consumir somente o necessário, assim o suplemento limita a quantidade definida para o animal consumir”.
Estação Atlântica Sementes
Ederson Antunes – engenheiro agrônomo Atlântica Sementes
“Nós apresentamos opções de forrageiras de inverno, que são azevém de ciclo longo e centeio forrageiro, opções que são utilizadas largamente na região de Guarapuava como alternativa de alimentação de inverno pelo alto rendimento, ciclo longo e alta qualidade. Enfim, materiais que produzem uma alta quantidade de carne e tem sido utilizados com muito sucesso na região”.
Avaliação dos participantes
“Eu fiquei surpreso com esse dia de campo, tanto pela qualidade das informações geradas dentro de uma propriedade particular, onde está associada à pesquisa via universidades, quanto à disponibilidade desse produtor em repassar para todos o conhecimento que sabidamente pode também ser utilizado por outros produtores, trazendo melhores resultados econômicos, ambientais e sociais”.
Anibal de Moraes – professor da UFPR
“Foi fantástico. Um evento muito focado e objetivo. A palestra do Madruga foi ótima. É a terceira vez que assisto, mas a gente sempre acaba aprendendo mais. Na parte de campo, os temas também foram essenciais para os pecuaristas, trabalhando exatamente aquilo que precisamos evoluir. Além disso, a própria integração que eventos assim trazem é demais. Por exemplo, em conversa informal com alguns técnicos, durante o evento, já desenhamos um projeto para a região de Ponta Grossa. Nesses encontros, a rede de conhecimento que nos é proporcionada é bárbara. Com certeza, o que ouvi e aprendi vou utilizar na minha propriedade”.
Sandra Queiroz, pecuarista de Teixeira Soares
“Os assuntos abordados foram bem pertinentes para o que a gente precisa. Inclusive, nós estamos passando por um momento de transição nas propriedades que administramos, definindo a forma, o manejo, a atividade que vamos desenvolver e acredito que isso atendeu bem várias dúvidas que a gente tinha e nos ajudou a tomar algumas decisões bem importantes de uma maneira mais abrangente e eficiente”.
Fabricio Lustosa Araújo – pecuarista Foz do Jordão
“Iniciativas como essa são essenciais, porque vemos o que tem dado certo nos lugares e principalmente o que não tem dado tão certo assim. A maioria dos produtores rurais da região no inverno trabalha com a integração lavoura-pecuária, a gente sempre fez isso de uma maneira muito tradicional. Conseguimos visualizar que existem tecnologias que podemos trazer para dentro do negócio, para obter ganhos muito bons. Momentos como esse ajudam a todos a crescerem em seus respectivos negócios”.
Lauro Manhães – pecuarista Guarapuava