Segunda-feira, 29 de outubro de 2018
A maioria dos produtores rurais já ouviu falar ou conhece o Sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP). Tendência no setor, o sistema visa à exploração de atividades agrícolas e pecuárias, de forma integrada, em rotação ou sucessão, na mesma área e em épocas diferentes, aumentando a eficiência no uso dos recursos naturais, com menor impacto sobre o meio-ambiente.
No entanto, para que o sistema seja de fato eficiente para o produtor rural, a integração deve ser analisada e traçada de forma estratégica e técnica, com auxílio de profissionais. O Programa Pecuária Moderna, conduzido pelo Sistema Faep/Senar, que está em andamento desde 2015 no Paraná, vem dando destaque ao assunto, além de diversas empresas e entidades do setor, que estão buscando desenvolver uma pecuária mais eficiente, moderna e produtiva.
Entre as ações, dias de campo sobre o tema vêm se destacando, como o ocorrido em Guarapuava, no dia 5 de setembro - o 2º Dia de Campo Produção Integrada, na Fazenda Capão Redondo (Candói/PR). Promovido pela Coamo, Sindicato Rural de Guarapuava, Sistema Faep/Senar, Iapar, Programa Pecuária Moderna, DSM Tortuga e Unicentro, com o apoio de diversas empresas, o evento reuniu 320 produtores rurais de Guarapuava e região, estudantes e profissionais da área.
A programação iniciou pela manhã com abertura do presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, Rodolpho Luiz Werneck Botelho e do gerente da Coamo em Guarapuava, Marino Mugnol.
Botelho, anfitrião do evento, recepcionou os participantes e ressaltou a importância da troca de informações técnicas pelos produtores rurais, profissionais e estudantes. “Fico muito feliz em ver hoje a participação expressiva das pessoas e o barracão cheio. É de fundamental importância essa busca do saber. As informações e tecnologias existem no Brasil e no mundo. O que precisamos é buscá-las, selecioná-las e adaptá-las à nossa realidade”. Ele ainda detalhou que o Paraná, mesmo com apenas 2,3% de território do Brasil, já é o maior produtor de carne do país. “Isso somando aves, suínos e gado de corte. Não somos o maior produtor de gado de corte e nunca vamos conseguir competir em quantidade com Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins, Pará e Goiás. Por isso, precisamos seguir um nicho de mercado diferente: o de carne de qualidade. Esse é o nosso diferencial e temos condições de solo e clima. E, principalmente, com o aumento de integração lavoura-pecuária, nós criamos uma condição fenomenal para ofertar ao mercado uma carne de qualidade”.
Mugnol também ressaltou que a Coamo vem se preocupando cada vez mais com a pecuária. “Às vezes, tem-se a impressão que a cooperativa se preocupa apenas com a agricultura. Mas já fazem mais de 20 anos que a Coamo realiza trabalhos e pesquisas sobre a integração lavoura-pecuária. Queremos mostrar cada vez mais aos produtores cooperados que a pecuária não deve ser empurrada e marginalizada para áreas declivosas. Ela deve estar integrada no sistema de produção, gerando uma pecuária moderna, forte, competitiva e com todos os quesitos necessários para o mercado de hoje”.
A programação seguiu durante a manhã com a palestra Opções tecnológicas para intensificação da integração lavoura-pecuária, coordenada pelo pesquisador do IAPAR, doutor Elir de Oliveira.
Em seguida, os participantes realizaram um circuito em diversos estandes, onde as empresas e entidades parceiras tiveram a oportunidade de apresentar as mais recentes tecnologias que podem contribuir para um sistema De Integração Lavoura-Pecuária cada vez mais eficiente. Após o almoço o circuito continuou com apresentações de empresas e do professor Sebastião Brasil, da Unicentro e do Programa Pecuária Moderna.
A REVISTA DO PRODUTOR RURAL DO PARANÁ esteve presente ao evento e traz agora uma cobertura completa dos temas tratados durante o dia de campo:
Opções tecnológicas para intensificação da integração lavoura-pecuária
Elir de Oliveira – pesquisador do IAPAR
“Foram mostradas várias tecnologias para intensificação da lavoura-pecuária. Pontuei 12, ao total. A primeira é manter uma palhada, pastejar o gado no inverno, mas quando for realizar a dessecação para o plantio direto da soja, que é mais comum, ter no solo um resíduo de três toneladas de matéria seca por hectare. Nossas pesquisas mostram que onde o gado pastejou, urinou e defecou e deixou a matéria seca houve um aumento crescente na produtividade da soja. Então, aquele mito de que o gado compacta o solo não existe. Compacta sim se tirar todo o resíduo e fazer plantio direto sem palha. Além disso, o consórcio de plantas forrageiras é uma opção. Por exemplo, temos ervilhaca que é uma leguminosa conhecida e fixa 120/130 kg de nitrogênio por hectare. Então, se plantar o capim aruana, que é um pasto perene de verão, no inverno o produtor pode fazer sob semeadura de ervilhaca com aveia, que não tenha um ciclo muito longo, uma aveia precoce. Outra opção é colher a soja, entrar com o capim aruana, o milheto e a aveia, principalmente nas regiões que se planta soja mais cedo. Com isso, o produtor tem um consórcio múltiplo tendo todo o inverno com pastejo, indo até a época de plantar a soja novamente na próxima safra. Uma opção também para quem faz a silagem é utilizar o guandu anão, que não é tão arbóreo. Ele cresce junto com o milho e na hora de fazer a silagem consegue fazê-la de dois produtos: 10% utilizando guandu e 90% de milho. O guandu é muito rico em proteína e com isso se tem uma silagem com pelo menos 3% a mais de teor de proteína. Ele também melhora o solo, fixa nitrogênio e consegue liberar fósforo. Cinquenta por cento das pastagens perenes no Paraná estão em áreas declivosas e são áreas que estão improdutivas, com baixa lotação, onde não se aduba, existe braquiária apenas como cobertura, produz muito pouco, no inverno então não produz nada, pois não há adubação. Nestas áreas, a pecuária produz um boi sanfona, ganha peso no verão e perde peso no inverno, chegando ao abate com quatro anos de idade. Isso faz com que seja uma pecuária insustentável. Nossas análises mostram que as áreas declivosas tem um solo excelente. A maioria delas não contém alumínio tóxico para planta, cálcio e magnésio com teores altos, saturação de base também é muito boa, potássio com níveis adequados, mas falta fósforo. Então, uma adubação com fósforo seria suficiente para triplicar a lotação bovina nessas áreas declivosas. O custo para recuperar essas áreas e torná-las produtivas é baixo e assim podem se tornar uma área para criatório de bezerros. O Paraná tem cinco milhões de hectares em áreas de pousio ou só com cobertura em plantio direto, que poderiam estar produzindo carne e leite. É muita área. E precisamos torná-las produtivas. E a integração lavoura-pecuária é uma saída, gerando renda para o produtor rural e movimentando a economia municipal, estadual e nacional. Opções tecnológicas não faltam”.
Estações
Empresas e entidades apresentaram durante o dia de campo as mais recentes tecnologias que auxiliam na integração lavoura-pecuária.
DSM Tortuga
Marcio Essert –médico veterinário DSMTortuga
“Nós mostramos no dia de campo que uma boa pastagem por si só já oferece um desempenho bom para os animais. Mas com a suplementação adequada, esse desempenho pode ser potencializado. Mostramos duas situações: fazendo semi-confinamento com ração, utilizando menos a pastagem e mais suplemento no cocho; e a outra alternativa é fazer um proteico energético com a maior utilização da pastagem, pois as duas têm desempenho e resultado econômico. E por que escolher uma ou outra? Depende da quantidade de animais que o produtor tem e da oferta de forragem. Se eu tenho muitos animais na fazenda e pouca oferta de forragem, posso optar pela ração. Se eu quero aproveitar mais a pastagem, eu posso usar o proteico energético. E também falamos sobre o creep-feeding, que é a suplementação do bezerro”.
Yara
A Yara apresentou aos produtores dois produtos para a pastagem: Yara Milla que traz o Nitrogênio, Fósforo e Potássio, tudo em um único grano, na concentração de 16-16-16; e o YaraBela, que é o nitrogênio da Yara dividido em forma nítrica e amoniacal e traz na composição também cálcio e enxofre, trabalhando tanto a parte de crescimento vegetativo, estrutural e também o teor de proteína na pastagem.
Atlântica Sementes
Ederson Antunes – engenheiro agrônomo
“Apresentamos sobre forrageiras. Mostramos as forrageiras de inverno que estão sendo utilizadas na Fazenda Capão Redondo, comentamos a respeito dos manejos e cuidados necessários com esse material. Além das novidades que temos em questão de forrageiras”.
Unicentro
Sebastião Brasil – professor do departamento de Agronomia da Unicentro
“Apresentamos, pela manhã, a área de integração lavoura-pecuária com área de azevem e suplementação animal a pasto. No período da tarde, os acadêmicos da disciplina de Comunicação Rural do curso de Engenharia Agronômica falaram sobre a importância da adubação de pastagens perenes e anuais de verão. A adubação de pastagens é propícia nesse inicio de Primavera. Todo sucesso da produção animal está baseado na produção da planta e a planta sem fertilizante não vai produzir e, consequentemente, não vai ter animal produzindo nessa condição de pasto sem estar adubado. Trazer os acadêmicos para a realidade do campo é algo que a Unicentro já vem fazendo há algum tempo. É importante trazê-los para o dia a dia que terão como profissionais. Ter contato com pessoas, organização, perder o medo de falar em público. Nós temos uma abertura muito grande na região, em parceria com o Sindicato Rural e diversos produtores que abrem suas porteiras para estes acadêmicos, que serão os futuros profissionais do campo”.
DuPont Pioneer
Sergio Fernando Rovedo – engenheiro agrônomo DuPont Pioneer
“Falamos sobre os três pilares para recomendar um híbrido para silagem, o que o produtor deve atentar para milho de silagem. Também falamos dos principais materiais recomendados para região, as principais tecnologias existentes nos milhos da nossa empresa e também mostramos dois inoculantes novos que estarão disponíveis para esta safra de verão”.
Ipacol
Paulo Sergio– demonstrador técnico
“Nós apresentamos o equipamento VFTM Vertical. Qual é a diferença de um vertical para um misturador convencional? Ele trabalha com silagem e ração como os outros equipamentos, mas trabalha também com fibra longa. Tem uma opção de triturar a fibra longa ou não. Pode pegar fibras de 30 a 40 cm ou pode jogar bolas de pré-secado dentro, que ele tritura, mistura com a ração e distribui no cocho para o gado. Fazendo uma dieta total dentro da máquina, garantimos até 8% de aumento na produção do gado devido à mistura. Todos os nossos equipamentos estão disponíveis para demonstração para o produtor. Basta agendar em uma revenda e também temos parceria com a Coamo”.
Corteva
A Corteva abordou o manejo de plantas daninhas e invasoras na cultura da pastagem. Além disso, apresentou o portfolio de herbicidas de pastagens, que controlam desde plantas de fácil controle até plantas de difícil de controle.
AG Metal
O Distribuidor a Sopro AG foi apresentado durante o dia de campo. A máquina produzida pela AG Metal vem sendo demonstrada em todo o Paraná, visando auxiliar pecuaristas que possuem áreas declivosas (áreas de relevo acidentado). Trata-se de um implemento agrícola acoplado a um trator que lança calcário, gesso, adubo orgânico (cama aviária) ou químico e sementes de forrageiras em áreas declivosas.
Participantes de várias regiões
Produtores rurais de diversas regiões do Paraná estiveram presentes ao dia de campo, vindos de cidade como, Turvo, Pitanga, Cascavel, Toledo, Pato Branco, Catanduvas, Laranjeiras do Sul, Candói, Reserva do Iguaçu, Mangueirinha, Londrina, Curitiba, Ponta Grossa, Rio Bonito do Iguaçu, Carambeí, Pinhão, Campina do Simão, União da Vitória, Cantagalo, Dois Vizinhos, Campo Mourão, Palmital, entre outras.
O produtor rural Isonel Rosin veio de Pato Branco (PR) para participar do dia de campo e avaliou positivamente o evento. “Faço parte de uma cooperativa de carnes e, na nossa região, a gente vem buscando conhecimento em vários dias de campo para implementar a lavoura-pecuária. Lá, este sistema vem ficando um pouco de lado, devido ao formato anterior, onde era usada muita aveia e deixava-se degradar o solo. Não era feita de uma forma muito harmônica com a agricultura. E aqui, neste dia de campo, encontramos muitas opções, apesar de que precisam ser adaptadas à nossa região. Foram expostas informações técnicas de qualidade, que nos incentiva a buscar cada vez mais uma integração lavoura-pecuária produtiva. Tivemos contato com profissionais e pesquisadores realmente de referência no setor e, com ajuda deles, vamos conseguir melhores resultados".
Andrea Morschbacher, produtora Rural de Toledo (PR), disse que achou interessante conhecer como outros produtores vêm implantando a ILP. “Como eu sou da região oeste do Paraná, têm certas características diferentes, mas é muito interessante como cada produtor consegue fazer seu manejo com maior rentabilidade e melhor condição técnica para ter sucesso na integração lavoura-pecuária”. Para ela, a palestra principal reforçou suas convicções sobre o sistema integrado. “O doutor Elir é renomado no assunto e ele deixou bem claro que independente do local do Paraná em que se esteja, independente da sua condição de solo ou financeira, nós estamos numa região muito propícia para usar a ILP e isso nos dá uma responsabilidade maior para tentar produzir cada vez mais e com melhor rentabilidade”.
Miguel Luiz Severino Alves, produtor rural e presidente do Sindicato Rural de Laranjeiras do Sul, destacou a organização do evento. “A gente fica muito feliz de participar e receber o convite. A organização do evento é um exemplo a ser seguido. Os produtores que vieram com a gente também gostaram muito”. Alves comentou a necessidade de levar à sua região informações técnicas sobre a integração lavoura-pecuária. “Na região de Laranjeiras existe a integração lavoura-pecuária, mas tem muita coisa que estamos fazendo da maneira errada. Então, os aspectos técnicos discutidos neste dia de campo nos abriram os olhos. Inclusive, queremos levar para os produtores de lá uma palestra nesse sentido”.
Outro participante, Moises Vial, além de produtor faz parte de uma empresa de sementes em Catanduvas. “Nós temos um projeto muito forte na questão de produção de sementes de aveia. E o que podemos ver aqui foi essa tecnologia que o Iapar vem desenvolvendo em semente de aveia e outros obtentores também, sendo aplicada no campo, na realidade do produtor com um grande destaque e grande ganho de produtividade. Observamos as tecnologias que as empresas estão gerando sendo aplicadas em fazendas modelo e isso sendo transmitido a todos os técnicos e produtores rurais. Essa cadeia de transmissão de tecnologia que acontece em eventos como este é de fundamental importância”.
O produtor rural de Guarapuava, Edson Bastos, que também é presidente da Coamig, elogiou o dia de campo. “Foi muito bom, debatendo assuntos importantes. Centenas de produtores participaram, não só da nossa região, como de outras. Foi nota 10 tanto nos assuntos técnicos, como na organização. Temos que continuar realizando eventos deste porte e gênero, pois é assim que conseguimos disseminar informações de qualidade para o produtor poder cresc