Quarta-feira, 29 de agosto de 2018
Se no campo, muitas vezes, os produtores decidem diversificar, para reduzir a dependência de uma atividade, ou ter uma renda extra, na hora de mudar o sistema produtivo, muitos recorrem à criatividade, a novos conhecimentos ou ao espírito de equipe. O casal de agropecuaristas Joair Mendes Pereira Junior e Estela Martim Pereira, de Guarapuava, optou pelas três alternativas ao mesmo tempo. Sem medo de seguir novos caminhos, eles transformaram o perfil de suas atividades. Antes focada só na bovinocultura de corte, trazida da tradição de família, a fazenda adotou uma rotina de remanejamento de local para aqueles animais, iniciou também com a pecuária leiteira e ainda criou mais uma fonte de receita, liberando uma parte da área para ser arrendada ao cultivo da soja.
Para conhecer esta história, a REVISTA DO PRODUTOR RURAL foi até a propriedade, na região do distrito de Palmeirinha, dia 13 de julho. O casal relatou que resultado deste novo quadro, a diversificação, é uma caminhada que, de um lado, é gratificante, mas de outro exige muita disposição para aprender dia após dia e para realizar projetos em etapas.
Além da antiga lida do gado de corte, conforme assinalou Junior, ele decidiu, há cerca de seis anos, começar também com a criação extensiva de vacas holandesas. Porém, há aproximadamente um ano e meio, veio a decisão de implantar o sistema intensivo. Em seu caso, a escolha possibilitaria remanejar uma parte da fazenda para a agricultura. “A área que eu tinha de manter era de mais ou menos 40 hectares, para mantê-las lá fora”, recordou, acrescentando que, hoje, existe um outro calendário de atividades, estações do ano e locais de produção. No verão, o antigo pasto das vacas agora é arrendado para soja; ainda durante a estação quente, o gado de corte, por sua vez, é mantido em áreas que o produtor arrenda, em propriedades próximas, além de Marquinho e Palmital. No inverno, ele traz seu plantel extensivo de volta para a fazenda. No campo em que a soja já foi colhida, os animais são engordados a pasto. Em paralelo, Estela divide com ele as tarefas, com foco no gado leiteiro.
Mas para implantar aquela atividade, para eles inédita, Junior contou que o primeiro passo foi buscar informação na região de Castro, referência no setor do leite no Paraná e no Brasil, sobre o espaço em si e sobre o manejo. Para o local, ele conta que montou uma estrutura que já possuía: “Era um barracão que eu tinha comprado de um amigo meu”. Ali, completou, entre freestall e compost barn, duas alternativas que disse considerar boas, sua opção foi pelo compost barn. O sistema, em sua avaliação, permite uma movimentação maior dos animais. Contudo, o produtor reconhece que o barracão não é uma instalação projetada especificamente para este uso. Segundo exemplificou, uma das diferenças está no teto, que normalmente teria de ser mais alto e possuir ventiladores. Mas Junior pondera: “Quando você faz um barracão muito alto e venta, a tendência da água é entrar cada vez mais e molhar a cama. A gente não tem este problema”. A ventilação ainda está em estudo: “Em Castro, fui em um compost barn que não tinha ventilador. Mas ainda a gente está avaliando para ver se há necessidade ou não de colocar”.
Uma adaptação foi feita para a formação da chamada “cama” dos animais: em vez de maravalha, cujo custo ele considera muito alto, o sistema utiliza serragem, numa camada de 45cm diretamente sobre o solo: “A cama está com um ano e oito meses e a gente repôs uns três caminhões só”. Ainda segundo detalhou, um funcionário, utilizando um trator dentro do barracão, revolve o material duas vezes por dia. Junior destacou que, no mesmo espaço, decidiu colocar o bezerreiro, cercado; a sala de ordenha, separada por parede e com piso de concreto; e um escritório, num mezanino. Na hora da transição de um espaço aberto para um fechado, observou, os animais, no entanto, apresentaram, durante cerca de 30 dias, um quadro de estresse, superado desde então.
Porém, o produtor afirma que o compost barn tem igualmente desafios e aponta o maior deles, a seu ver: “É você conseguir acertar uma dieta ou um nutricionista bom. Esse é o ponto. A alimentação delas tem de estar muito bem balanceada. Senão, não tem sucesso”. Além de silagem feita com milho produzido na fazenda, numa área em torno de oito hectares (ano passado), e pré-secado (acondicionado em bags), o manejo inclui agora também o farelo de soja. Na captação do leite, durante a instalação da ordenhadeira, Junior e Estela enfatizam que também tiveram um aprendizado, descobrindo que, para o animal fornecer todo seu potencial, é preciso, pouco antes, ser estimulado adequadamente. O colaborador do barracão, assinalaram, foi treinado pelo técnico que instalou o equipamento. Com ordenha duas vezes por dia (às 5h e às 16h), a média de produtividade no sistema atual, estimaram, gira em torno de 26 litros de leite por animal por dia.
Para Junior, este é um patamar que poderia ser mais elevado, mas ele enfatiza que ainda está ajustando a dieta do plantel. Já o período de lactação, como completou, situa-se entre 200 a 360 dias, dependendo do animal. O leite produzido é todo destinado a um laticínio de um município da região.
Numa avaliação geral, ele considera que a atividade está correspondendo às expectativas. “Para mim, está dando resultado. O leite, hoje, com esse preço, melhorou. Tomara que fique nesse preço, não é?”, comentou, num tom bem humorado.
Mas o produtor sabe que o aprendizado continua e que é necessário evoluir constantemente. Se hoje o manejo reprodutivo é feito com repasse a um touro da propriedade (vacas em torno de dois anos), Junior pensa em avanços: “A idéia é partir para a inseminação, trabalhar talvez com IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo)”, antecipa. Outra cogitação é sobre a reposição de novilhas, hoje obtidas na própria fazenda: “Em vez de criar bezerros, penso em comprar animais prontos, para irem direto para o composto”.
Existe em paralelo o desejo de aumentar o rebanho, atualmente de 47 vacas em lactação, para melhorar o aproveitamento da estrutura do compost barn, que está em torno de 50%: “A meta que a gente tem, se tudo correr bem, é de chegar a aproximadamente uns 80 animais”, disse o produtor, estimando que o volume se elevaria de 36 mil litros por mês para algo entre 75 e 80 mil por mês.
Já na outra vertente da bovinocultura, no gado de corte, as novilhas também são a opção do casal de produtores: animais nelore e de cruza industrial conduzidos a pasto, na modalidade de recria e terminação. Alimentadas no verão com brizantão e no inverno com aveia e azevém, as novilhas são mantidas no sistema até a idade de dois anos a dois anos e meio, quando já atingiram cerca de 430kg. Se alguma não alcança o peso no período previsto, recebe então outra alimentação, em confinamento, de 60 a 90 dias – uma alternativa que, segundo o produtor, eleva o investimento. Junior avalia que, naquele tipo de sistema, a rentabilidade é menor, preferindo a recria no pasto: “A campo, sim, porque a campo o custo é mínimo”. Com base neste sistema, a fazenda tem comercializado em torno de 100% daquele rebanho no Norte do Paraná.
Com três atividades, Junior e Estela, tendo assistência técnica de um veterinário, seguem buscando eficiência cada vez melhor nos animais de corte, mantendo o arrendamento para soja, como uma receita importante, e buscando aprender mais e mais na produção leiteira – onde, independente da modalidade (pasto, compost barn ou freestall) eficiência, técnica e de qualidade, é também uma palavra de ordem.