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Sexta-feira, 27 de abril de 2018

Profissionalização no cultivo do morango

O cultivo do morango tem despertado o interesse de pequenos produtores rurais de Guarapuava e região. Segundo a Prefeitura Municipal, anualmente são colhidas cerca de 60 toneladas da fruta, movimentando de R$ 800 mil a R$ 1 milhão.

O morango pode ser cultivado de duas maneiras: tradicional no solo ou suspenso, onde são plantados em pequenos “pacotes” com um substrato específico.

Com o interesse dos produtores, surgem as dúvidas. Visando esclarecê-las, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e o Sindicato Rural de Guarapuava realizaram em abril o curso Trabalhador no cultivo de espécies frutíferas rasteiras - morangueiro - cultivo em substrato.

A instrutora Karina Calil Caparroz explica que o curso tem uma abordagem tanto para produtores que estão iniciando a produção no morango com substrato, como para aqueles que já tem mais conhecimento. “Esse curso é bem completo. A gente aborda desde o plantio até a comercialização do morango em substrato. São várias as vantagens do morango em substrato em relação ao de solo, até porque hoje está cada vez mais difícil a mão-de-obra. É muito mais fácil de se conduzir morango em substrato,devido a ergonomia de trabalho”.

Vários são os conteúdos trabalhados ao longo dos dias, temas que interferem o dia-dia da produção na propriedade. “No curso passamos todos os detalhes sobre como montar a estufa, o sistema de irrigação, como irrigar, como fazer a solução nutritiva, controle de pragas e doenças e também aspectos de comercialização, que hoje é um desafio para o produtor. Como fazer a pesquisa de mercado, as formas de comercialização, já que é uma fruta extremamente rentável e muito palatável”, detalha a instrutora.

Karina ressalta que se houver produção de qualidade, a venda é garantida o ano todo. Ela explica que existem cultivares que permitem produzir morango todos os dias. Para isso, o produtor deve buscar cultivares de dia neutro.“Mas não é só isso. O produtor precisa se atentar a alguns detalhes como a poda, que deve ser bem feita, a adubação para não ter queda de produção, e saber manejar as mudas e os estolões adequadamente. Além disso, controlar de forma eficaz as pragas e doenças”.

O investimento para produzir o morango suspenso em substrato é alto, mas pode ser recompensado em pouco tempo se o produtor souber conduzir a atividade. Para isso, Karina dá algumas dicas: “Eu costumo dizer que o passo tem que ser do tamanho da perna. Para começar, deve ser feita uma estufa pequena, com uma quantidade de plantas que o produtor consiga cuidar, para num primeiro momento ele aprender como trabalhar com as plantas, manejar esse ciclo produtivo. À medida que ele vá conhecendo mais o cultivo e tendo retorno, pode ir ampliando suas áreas. Acredito também que o associativismo é o caminho. Quanto mais os produtores estiverem unidos, mais sucesso e colocação no mercado eles vão conseguir”.

Renan Carlos de Mello produz morango na terra há 10 meses e agora investe em uma estufa para começar a produção de forma suspensa. “O curso foi muito bom e veio a calhar, pois não tinha muito conhecimento neste tipo de produção, principalmente sobre como fazer o substrato e cuidar dele. Aprendi dicas valiosas sobre o manejo e sobre como aumentar a produtividade, que é a nossa intenção”. 

Ele conta que o investimento vai custar, em média, R$ 12 mil reais, mas que pretende ter o retorno em um ano. Hoje, com 1000 plantas no chão, Mello conta que tem uma produção de 10 quilos a cada dois dias e um lucro de R$ 400,00 por semana. A venda é feita principalmente para panificadoras. Com o morango suspenso no substrato, serão 3 mil pés e a expectativa é que a produção aumente para 40 quilos a cada dois dias. “Vai valer a pena”, calcula.

Mello diz que em sua propriedade, a Chácara Dona Chica, o morango virou a atividade principal. “Deixamos a pecuária de corte para cuidar do morango. É uma cultura que responde muito. A gente faz a poda e no outro dia já tem flor saindo. Quanto mais cuidar, mais ele rende e isso é de forma rápida”.

 

Novas cultivares tipicamente brasileiras

 

As cultivares utilizadas pelos produtores de morango no Brasil são todas espécies vindas de outros países, como Estados Unidos, Japão, Espanha, Itália e Chile. Não existe nenhuma cultivar da fruta produzida no Brasil e isso gera um custo alto para produção, já que é necessário pagar royalties por essas cultivares. Mas essa realidade pode mudar e logo.

O Núcleo de Pesquisa e Extensão de Hortaliças da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) tem desenvolvido, há quatro anos, uma pesquisa de melhoramento de morango, para produção de novas cultivares. “Os produtores de morango tem a necessidade de cultivares novas, específicas do Brasil. A maioria das mudas vêm do Chile, mas são produzidas nos EUA e multiplicadas no Chile. Essa muda chega aqui com o preço de, em média, R$ 870,00 o milheiro. Então, imagina trabalhar com 60 mil plantas por hectare. Só nas mudas o produtor precisa investir em torno de R$ R$ 50 mil por hectare. Isso corresponde a mais de 50% do custo de produção de uma lavoura”, explica o coordenador da pesquisa, professor Juliano Vilela Resende .

O projeto, chamado Pronex, é coordenado pela Unicentro, em parceria com a Universidade Federal de Lavras (UFLA) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR). Dentro deste projeto estão sendo desenvolvidas pesquisas em melhoramento de tomate também.“A ideia é produzir cultivares mais adaptadas e produtivas”, explica Resende.

O professor conta que a pesquisa sobre as cultivares de morango já completou sua primeira fase. “Como não tínhamos material genético, pegamos algumas cultivares de morango americanas, espanholas e japonesas, cruzamos uma com a outra e obtivemos uma população. Dentro dessa população, selecionamos quatro híbridos com produtividades bem acima das cultivares padrões. Enquanto uma cultivar produz, em média, um quilo por planta, conseguimos selecionar materiais  produzindo 1 quilo e meio até dois quilos por planta”.

Com os quatro híbridos selecionados, o próximo passo é cruzar novamente com outras espécies, para resultar em cultivares de foto período neutro e foto período curto. “Pegamos quatro cultivares plantadas, Camarosa, Caminho Real de dia curto, Aldo e Monte Rei de dia curto e cruzamos com os quatro híbridos que já tínhamos selecionados para ter um viés de foto período curto e outro de foto período neutro. Assim, ao invés de lançar uma cultivar só, lançamos duas: uma para dia curto e uma para dia neutro”.

Como explica Resende, esse processo de cruzamentos não é rápido e com isso a pesquisa ainda vai se prolongar por mais um tempo. “Mas acreditamos que em até três anos já vamos lançar duas cultivares de morango brasileiras. Lembrando que essas cultivares não vão levar só em consideração características agronômicas, mas também o pós-colheita, como um morango mais doce, firme, coloração melhor, conservação, resistência a doença, pragas, etc.  E as cultivares não serão adaptadas só para região de Guarapuava, mas poderão ser plantadas em várias regiões do Brasil”, finaliza.

 

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