Segunda-feira, 05 de março de 2018
Estamos na reta final de safra de verão e próximos da época de implantação das culturas de inverno no Rio Grande do Sul, período em que voltam as dúvidas sobre o cultivo do trigo. Os benefícios para o solo e para as culturas subsequentes são bem conhecidos, mas afinal, o produtor realmente sabe quem é o seu comprador? Que qualidade o mercado exige? E, a liquidez do trigo, como alcançar?
Pensando na qualidade industrial do produto final, a Biotrigo Genética orienta os triticultores durante a Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque/RS. As palestras serão realizadas ao longo da feira, entre 5 e 9 de março, na estação de qualidade industrial, no estande da empresa, localizado na Avenida B – área de produção vegetal do parque de exposições.
Há 30 anos, a qualidade da farinha de trigo não tinha uma grande importância quando o agricultor escolhia o trigo para semear, pois o objetivo era produtividade. Historicamente, o estado do Rio Grande do Sul semeava a maior parte da área com trigos com características de qualidade Branda. Há alguns anos o mercado era essencialmente voltado para a panificação e muito do consumo era doméstico, ou seja, as famílias se preocupavam em fazer o tradicional “pão de casa”, tipo caseiro. Para fazer este pão, a qualidade da farinha já tinha uma importância relevante, porém o que se semeava eram trigos com pouca aptidão para panificação. Hoje a maioria das famílias compra seu pão na padaria ou no supermercado e, para produzir esse novo pão, os processos de produção mudaram e muito e a exigência pela qualidade industrial se elevou. O principal avanço aconteceu através do melhoramento genético das cultivares, criando sementes de trigo específicas para os diversos nichos hoje existentes no mercado. Essa evolução na genética do trigo que aconteceu nos últimos anos, tem que ser acompanhada por perto pelos triticultores para estarem dentro das demandas de mercado.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (ABITRIGO), a demanda no Brasil hoje está distribuída da seguinte forma: 56% das cultivares semeadas no campo tem como destino a panificação; 15% são destinados para a fabricação de massas; outros 10% são para produção de biscoito; 10% para uso doméstico e 9% para outros fins.
A supervisora de Qualidade Industrial da Biotrigo Genética, Kênia Meneguzzi, explica que existem hoje no mercado diversas cultivares no mercado, cada uma com especificações diferentes: de cor de farinha; força de glúten; estabilidade, absorção. “Por exemplo, no uso da farinha para massas, a exigência do mercado é de uma farinha mais tenaz (relação de tenacidade e extensibilidade obtida através do teste de alveografia); para biscoito, mais extensível e, para panificação, é mais equilibrada”.
Assim, surge um novo questionamento: será que existe uma farinha certa para atender a demanda e desempenho que o mercado busca? A resposta é sim. Mas, em seguida vem outra questão: como saber qual é a farinha que meu mercado mais próximo quer comprar? Pois a resposta está no planejamento da safra, conforme explica Kênia. “O primeiro passo é conhecer a realidade de demandas do moinho da região antes da semeadura do grão. O segundo, é escolher uma cultivar aprovada pelos moinhos pela sua qualidade industrial. O terceiro, é fazer o dever de casa: cuidar bem da sua lavoura e o quarto passo e um dos mais importantes, é o armazenamento, onde inclui cuidados na secagem, limpeza e a segregação por grupos de cultivares. Seguindo esses passos, é possível aumentar a rentabilidade e obter maior desempenho no mercado”.
Produto aprovado = maior liquidez
Como existem trigos com diferentes indicações e destinos, eles também têm valores distintos no mercado. Por isso, a importância de testar o desempenho industrial de cada cultivar no produto final. “Hoje é essencial a realização de testes de panificação, pois nem sempre a cultivar que passa nos testes de laboratório possui o mesmo desempenho quando é usada na panificação, por exemplo. Esse trabalho, a Biotrigo realiza internamente, testando as cultivares até cinco anos antes de seu lançamento através de sua padaria experimental, inaugurada em 2015. É esse investimento que garante segurança para o produtor que optar por cultivares TBIO”, acrescenta.
Nos últimos anos, a empresa tem enviado amostras dos trigos para mais de 80 moinhos do país, onde elas são avaliadas de acordo com a metodologia de cada um, o que vem comprovando a evolução na performance de panificação ocorrida. “Houve uma grande evolução em parâmetros como W (força de glúten) e estabilidade, como o produtor já sabe. O que ele ainda não sabe é que evoluímos também em testes e performance de panificação, e é isto que queremos demonstrar. Com melhor performance, os moinhos vão se interessar menos pelo importado e o trigo brasileiro poderá ter mais liquidez”, finaliza.