Sexta-feira, 31 de março de 2017
Soja, milho e feijão têm hoje potenciais produtivos inimagináveis há vinte anos. Ao longo deste tempo, novidades em cultivares, manejo e maquinário, além da agricultura de precisão, trouxeram estas culturas para um patamar tecnológico digno de um verdadeiro negócio empresarial, em que as decisões locais se orientam pelo cenário global e pelo conhecimento das alternativas que devem ser aplicadas a cada caso e em cada momento. Surgiram então novas perguntas: o que fazer diante da influência do aquecimento do planeta na agricultura? Como realizar na prática o compromisso com plantios que preservem solo e água? Quais as exigências da indústria com relação à qualidade dos grãos? Como comercializar num ambiente marcado por instabilidade econômica dentro e fora do Brasil? Respostas para estas e outras questões, a Cooperativa Agrária, situada no distrito de Entre Rios, em Guarapuava (PR), buscou debater em mais uma edição de seu tradicional Dia de Campo de Verão.
Realizado dias 15 e 16 de fevereiro, nos campos da Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (FAPA), com cinco estações de pesquisadores da FAPA e estandes de 36 expositores, o evento mostrou porque, por mais um ano, se reafirmou como uma referência tecnológica não só para os agricultores do centro-sul do Paraná, que adotam rotação de culturas de verão e inverno, mas também para produtores ou profissionais do campo de outras regiões, que desejam se aprofundar nos desafios e nas soluções da pesquisa para aquela modalidade de agricultura.
Atenta à evolução das tecnologias e à situação do agronegócio no mundo, a cooperativa definiu uma programação que abrangeu os principais desafios da produção agrícola atual: da preservação do meio ambiente ao mercado internacional de commodites agrícolas, passando pela necessidade do produtor relembrar e aprender novas técnicas de plantio, colheita e manejo de doenças da lavoura. O formato já consagrado da programação foi no entanto mantido: de manhã e à tarde, palestras simultâneas do pesquisadores da FAPA; nos intervalos, apresentações de palestrantes convidados ou tempo livre para a visitação aos estandes dos expositores.
A abertura oficial ocorreu na manhã do dia 15. O diretor financeiro da Agrária, Arnaldo Stock, saudou os participantes e as autoridades presentes, como o secretário de Estado da Agricultura, Norberto Ortigara, e a secretária do Prosolo Paraná (Programa Integrado de Conservação de Solo e Água do Paraná), Débora Grimm.Ortigara destacou, entre outros assuntos, a importância dos recursos naturais para a agropecuária e enfatizou que a secretaria busca que haja uma conscientização de todos os agricultores do Estado sobre esta questão. Na sequência, a secretária do Prosolo apresentou as linhas gerais do projeto (A REVISTA DO PRODUTOR RURAL traz nesta edição entrevista com Débora Grimm na matéria sobre o 2º Rally de Uso e Conservação do Solo e da Água, realizado pela Agrária no dia anterior ao Dia de Campo de Verão).
À tarde, a palestra de destaque na programação enfocou o clima. Rodrigo Ferreira (FAPA) explicou o que são os fenômenos El Niño e La Niña e esclareceu porque o La Niña que se encerra trouxe chuvas que, para muitos produtores, pareceram maiores do que o esperado.
No segundo dia do evento, Marcos Rubin, consultor e sócio da Agroconsult, expôs o cenário de soja e milho. À tarde, a palestra ficou por conta de Marco B. Almeida, engenheiro civil e comentarista da Rádio T, enfocando virtudes necessárias para o êxito em vários aspectos da vida.
Avaliando o Dia de Campo, Arnaldo Stock considerou positiva a presença de um público de cerca de 1,9 mil pessoas e ressaltou o papel do evento: “É sempre muito importante para mostrar aos nossos cooperados, e também aos agricultores da região, o que existe de mais moderno em termos de tecnologia agrícola. Da mesma forma, é sempre interessante a participação dos nossos parceiros, clientes e fornecedores, no sentido de que possibilita à Agrária mostrar tudo o que é realizado aqui, em termos de pesquisa, inovação e resultados a campo”.Ele enfatizou que os pesquisadores e palestrantes convidados contribuem para a difusão de conhecimentos: “Tivemos também boas palestras, de convidados, com grande público, e também as importantes palestras dos nossos pesquisadores da FAPA, que nesses eventos divulgam os resultados do seu trabalho. São informações muito relevantes para os agrônomos e também para os agricultores”.
Editada pelo Sindicato Rural de Guarapuava, um dos apoiadores do Dia de Campo, a REVISTA DO PRODUTOR RURAL mais uma vez acompanhou o evento e traz algumas das principais informações.
Palestrantes convidados
Rodrigo Ferreira (Assistência Técnica da Agrária) – Meteorologia
“Hoje estamos encerrando o fenômeno de La Niña. Praticamente até o final do mês de fevereiro a gente teria condições de neutralidade começando a reger todos os nossos regimes de clima. Na neutralidade, temos uma forte influência de outros fenômenos. Frente fria é um deles. Temos uma conformação, no Oceano Atlântico, que hoje favorece a organização dessas frentes frias e permite que elas avancem mais adentro do Brasil, atingindo regiões como Centro-Oeste e o Sudeste também. Em termos de chuva, de temperatura, esperamos que esta nova conformação mantenha as médias de precipitação dentro da normal climatológica. Não se espera nada de frio muito cedo, que era uma preocupação de muitos produtores, principalmente na região que planta feijão”.
Perspectivas para o mercado agrícola –Consultor e sócio da Agroconsult, Marcos Rubin
“A principal mensagem aos produtores é que estamos diante de uma grande safra, tanto de soja quanto de milho. Existem alguns problemas no campo relacionados à colheita. Algumas regiões ainda não definiram completamente a safra, no Brasil. Mas de maneira geral vai ser uma boa safra, um volume grande de soja e de milho. Os produtores devem ficar atentos a isso. Apesar dos preços internacionais ainda estarem bons, mesmo diante de uma safra recorde, o câmbio não tem contribuído para os preços. Realmente é uma mudança de patamar de preços, se compararmos por exemplo, com essa mesma época do ano passado. Não vai ser fácil negociar a soja pelo menos nos patamares de preço que eles almejavam nos últimos meses”.
Marcelo B. Almeida, engenheiro civil e comentarista do programa de rádio T-News – Um pequeno tratado de grandes virtudes
“O que são as virtudes cardeais? É a pessoa ter prudência, temperança, coragem. O que é virtude? Esse poder de agir. A palestra é um cutucão nas pessoas para tentarem acreditar que podem ser diferentes, que dar amor é dar para o outro, não é receber. Saber fechar ciclos. Isso é uma virtude. Acaba o primeiro namoro, acaba a escola, acaba a vida. Acho que as pessoas vivem assim sempre querendo chegar, mas não vivem o momento. É muitomais legal a existência, essa grande travessia da vida, do que o destino. O meio é mais legal do que o final. É muito fácil você ser diferente. Só que você tem de ser virtuoso. Bater no peito e dizer: ‘Eu sei o que eu quero’. Você tem de ter educação, hábito, memória, para agir”.
Estações da FAPA
Manejo para a cultura do feijoeiro
NoemirAntoniazzi – FAPA
Eduardo StefaniPagliosa – FAPA
“Não queremos de forma nenhuma concorrer com a soja. Mas a melhor época para se plantar feijão, na minha concepção, é aquele plantio de dezembro, ou seja, após o trigo mais tardio, quando a soja (semeada depois daquela cultura de inverno) já perde um pouco do potencial de produtividade. Aí, o feijão entra como uma excelente opção para o produtor ter uma boa rentabilidade – equivalente à soja, ou às vezes, dependendo do preço, até melhor. Claro: sempre falo que o produtor de feijão tem de plantar todo ano um percentual de área”.
Efeito do arranjo espacial no rendimento de grãos e outras variáveis na cultura do milho / Rotação de culturas com diferentes participaçãoes do milho
Juliano Almeida – FAPA
Celso Wobeto – FAPA
“A principal mensagem que estou trazendo é a comparação entre os sistemas de rotação de cultura e a monocultura. Na rotação, estou mostrando resultados de participação do milho de 25%, 33%, 50% e 100%, que é um tratamento testemunha. Existe uma resposta positiva em produtividade de cevada, canola e soja quando você faz rotação. No resultado deste experimento, que já tem 16 anos, foi comprovado que os sistemas de rotação de 33% e 50% têm sido os dois melhores quando a gente pensa em produtividade de cevada, canola e soja”
Impacto do arranjo espacial de plantas e a preservação do stand em soja e milho
Alfredo Stoetzer – FAPA
Paulo Alba – FAPA
“Em parceria com o departamento de Entomologia da FAPA, estamos levando ao produtor a importância de ele manter um stand de qualidade. Sem perdas por ataque de pragas ou por uso inadequado da máquina. Isso vai acarretar que, lá no final do ciclo da cultura, o produtor terá maior quantidade de plantas, mais homogeneidade nessas plantas, um melhor perfil de produtividade. Antes de começar o plantio de uma safra, o produtor tem fazer regulagens adequadas.A regulagem das máquinas é o primeiro passo”.
Estratégias de controle de doenças em soja
Heraldo Rosa Feksa – FAPA
Cristiane Gonçalves Gardiano – FAPA
“Mostramos uma retrospectiva da ocorrência de ferrugem nos últimos anos. Este ano, a doença entrou um pouco mais tarde. Depois, a sua curva de progresso cresceu praticamente vertical, nessas sojas plantadas a partir do dia 20 de novembro. Produtos que davam 21 dias de residual foram para 18 dias e os que davam 18 foram para 15. Nos plantios de setembro e outubro, a ocorrência da ferrugem retardou. A evolução foi baixa, os residuais foram longos”. (Heraldo Rosa Feksa)
Soja convencional e adubação de cultivares
Sandra Mara Vieira Fontoura, Vitor Spader e Everton Ivan Makuch – FAPA
“Trouxemos um assunto bem atual, que é a resposta das cultivares de soja à adubação. Separamos duas situações, que são solos de fertilidade corrigida, onde posso – em vez de adubar a cultura da soja – adubar o sistema, inverno mais soja; e solos de fertilidade baixa, que ainda preciso corrigir, onde preciso adubar a cultura de inverno e fazer uma adubação na soja. Em função da resposta da soja à adubação, insistimos para que – se o solo ainda não for bom – se faça essa adubação na cultura da soja também”.
(Sandra Mara Vieira Fontoura)
“O tema que trouxemos este ano é o da soja convencional. Qual o objetivo disso? Buscar nichos de mercado, no mundo, principalmente na Europa, que estão dispostos a pagar mais para ter acesso a grãos de soja sem transformação genética. A gente trouxe esse assunto porque os produtores hoje não estão mais habituados a trabalhar com convencional. A realidade hoje é totalmente diferente. Temos cultivaresconvencionais tão produtivas quanto as transgênicas, eventualmente até superiores”.
(Vitor Spader)
Apoiadores
O Dia de Campo de Verão 2017 da Agrária contou com o patrocínio de DuPont/Pioneer (patrocinador diamante), ORO AGRI (patrocinador ouro), Dow Agrosciences (patrocinador prata), IHARA, Sindicato Rural de Guarapuava e FAEP (patrocinadores bronze).
Sindicato Rural de Guarapuava e FAEP: destaque no Dia de Campo de Verão!
Mais uma vez, o Sindicato Rural de Guarapuava e o Sistema FAEP estiveram entre os apoiadores do Dia de Campo de Verão da Agrária. O sindicato divulgou seus serviços aos produtores rurais e o SENAR-PR apresentou seus cursos aos visitantes. Representou o sindicato, na ocasião, os vices presidentes Anton Gora e Josef Pfann Filho, os diretores João Arthur Barbosa Lima, Gibran Thives Araújo, Roberto Cunha e Alexandre Seitz; e o SENAR-PR, o supervisor regional para Guarapuava, Aparecido Grosse.
O estande novamente se tornou um ponto de encontro de lideranças rurais, de agropecuaristas, parceiros comerciais, profissionais e estudantes de cursos ligados ao agronegócio. Um espaço de amizade e de troca de experiências.Houve ainda sorteio de alevinos e de três cestas de produtos importados entre os associados que assinaram a lista de presença.