"O negócio de todos nós, agricultores, é o trabalho"

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Quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

"O negócio de todos nós, agricultores, é o trabalho"

No dia 29 de novembro, a REVISTA DO PRODUTOR RURAL esteve em Campo Mourão, para entrevistar o presidente de uma das maiores cooperativas da América Latina: a Coamo Agroindustrial.

Em sua sala, em meio a dezenas de quadros com títulos e homenagens, o presidente José Aroldo Gallassini recebeu a jornalista Luciana de Queiroga Bren, acompanhada do assessor de comunicação da Cooperativa, Ilivaldo Duarte.

Durante a entrevista, Gallassini demonstrou ser um homem dedicado e humilde no comando de uma referência mundial em cooperativismo.

 

RPR: Qual é a sua avaliação do ano com relação à cooperativa, resultados financeiros e projetos executados?

GALLASSINI: "2018 foi um dos melhores anos da Coamo. Descontando o lado político do país, corrupção e tudo mais, enquanto Coamo tivemos um ano de grande faturamento. Ainda não fechamos o balanço, que é encerrado em 31 de dezembro, mas estamos prevendo um crescimento de 25% em relação a 2017, quando fechamos com faturamento de R$ 11,7 bilhões. Esse ano pretendemos passar de R$ 14 bilhões. Isso está ligado à venda dos produtos dos cooperados. Porque só consideramos faturamento depois dele fixar o seu produto, ou seja, vender, ou comprar insumos e retirar. Se ele vende um contrato de safra, não conta no faturamento. Se ele comprar insumos para milho segunda safra e começa a plantar depois da soja, ele só vai retirar ano que vem, então não é considerado no faturamento. Por isso, só falamos de valores no fechamento do balanço. E de uns dias para cá, o cooperado pisou no freio porque o preço caiu um pouco. A soja já esteve a R$ 82,00, R$ 83,00 aqui na região (em Guarapuava, o preço é um pouco maior), mas agora está R$ 71,00, R$ 71,50, então o cooperado pisou no freio. Ele não está vendendo soja, milho ou está vendendo volume pequeno, somente para as necessidades imediatas. O cooperado está num período bom, bem capitalizado, a inadimplência é baixa, o dinheiro dele é o produto. Ele tem mais confiança no produto do que na economia brasileira. Ele deixa produto e vende quando precisa de dinheiro".

RPR: Mesmo diante uma crise no país, a cooperativa conseguiu excelentes resultados em 2018. Ao que o senhor atribui esse sucesso?

GALLASSINI: "O nosso costume aqui é fazer uma antecipação de sobras. Vamos pagar para o cooperado dia 10 de dezembro, sendo aproximadamente R$ 109 milhões, que é mais ou menos um terço das sobras totais, que serão pagas agora. O complemento será em fevereiro. Essa é uma novidade grande. Nos últimos anos, temos tido boas safras e bons preços, o que vem ao encontro da máxima que 'se tem muito, baixa, se tem pouco, sobe'. Tivemos bons preços por influência do mercado internacional. Isso é raro, mas tem sido assim. Esse ano, tivemos um ano agrícola bom. Foi o maior recebimento de produtos, principalmente soja, milho e trigo. Recebemos 3,5% da produção brasileira e 17% da produção do Paraná. No ano, recebemos 7,2 milhões de produtos, como soja, milho e trigo, além de café, aveia preta, aveia branca. Os grandes volumes são insumos (bens de produção), que significa bastante em termos de faturamento, além dos produtos industrializados (1 bilhão de reais de alimentos acabados em supermercados), mais a fiação de algodão que está dando resultado".

RPR: Como estão os investimentos no Mato Grosso do Sul?

GALLASSINI: "Aprovamos R$ 1 bilhão em 2016 para executar em três anos (2017, 2018 e 2019). São 4 entrepostos novos, reforma dos antigos e a novidade são  duas novas  indústrias em Dourados -  uma esmagadora de soja (3 mil toneladas/dia) e uma indústria de óleo refinado (refino e envase).  O investimento lá aprovado foi de R$ 650 milhões.  A construção está a todo vapor e deve ficar pronta  no segundo semestre de 2019.  É um investimento muito grande em Dourados, na beira da rodovia 163. Já temos volumes de produtos de cooperados recebidos lá e essa obra vai contribuir para o desenvolvimento daquela região".

RPR: A Coamo completou no dia 28 de novembro, 48 anos de fundação. São mais de 28 mil associados e mais de 7,5 mil funcionários.  É a maior cooperativa da América Latina, com 3,5% de toda produção nacional de grãos e fibras e 17% da safra paranaense. Como a cooperativa conseguiu, em menos de 50 anos, alcançar esses números?

GALLASSINI: "Temos falado o que dizem as revistas. Fomos classificados pela Exame como a maior empresa do Paraná. Sempre perdíamos para a Copel, ficávamos em segundo lugar. Esse ano a Renault ganhou de nós, mas ela é capital internacional. Então, ganhamos como capital nacional. Isso se deve à credibilidade do nosso quadro social na sua cooperativa. Fiz o trabalho de fundação da Coamo, fiquei gerente durante um tempo.. . Hoje temos essa credibilidade do cooperado. Estamos atuando no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Temos um grande volume de recebimento da produção e um grande fornecimento de insumos, que significa de 30 a 40% do faturamento, além de soja, milho, trigo e os produtos de menor volume. Eu acho que o segredo é o trabalho e a cooperativa tem que ter a credibilidade do quadro social".

RPR:  A gestão da Coamo é diferenciada, em relação a outras cooperativas?

GALLASSINI: "Hoje, no Paraná, não temos grandes problemas de cooperativas, mas tem maneira de ser. Nós temos o trabalho voltado para o quadro social. Isso exige cada vez mais estrutura e estamos acompanhando essa necessidade. Temos o suporte da Credicoamo há 29 anos, que fornece financiamentos de toda ordem, com grande volume de custeio e investimento, além de outros recursos de empréstimo de capital de giro, aplicações financeiras... isso dá um suporte econômico muito grande à Coamo também. Temos a corretora de seguros Via Sollus, com a função de aplicação de seguro agrícola. Temos algumas vantagens em relação a outras corretoras com aplicações de 10% de todo seguro agrícola do país. Basicamente é isso. Mas o mais importante é o trabalho voltado ao quadro social, para obtenção de maior renda do cooperado; temos também 240 agrônomos e 20 veterinários dando assistência a campo, estação experimental, então é esse conjunto de coisas que dá a credibilidade do quadro social à sua cooperativa".

RPR: Quais são as suas expectativas para 2019, com relação ao governo - temos um novo presidente, e com relação à agricultura?

GALLASINI: "O Brasil, na minha opinião, está no caminho certo. Temos uma mudança de política governamental. Tínhamos uma política, na melhor das hipóteses, populista, esquerda e agora temos uma política mais equilibrada, mais conservadora e isso faz com que o país possa ter uma política de disciplina, com mais seriedade. Porque a corrupção tomou conta do país, em todos os setores, e isso é grave. O governo populista é o pior tipo de governo, porque ele diz que tira do rico e dá para o pobre; ou então tira do governo e dá para o pobre. No entanto, isso chegou a um nível que não sobrou dinheiro para fazer infraestrutura, enfim, tudo o que precisa no país. Eu acho que o governo deve ter trabalho social, mas tudo dentro de um equilíbrio. Não como foi feito. Esperamos que o novo governo faça uma boa administração. Precisamos recuperar o que foi destruído: ensino, saúde etc. Precisamos melhorar a credibilidade da população no governo e a disciplina. Se errou, tem que pagar. Para isso, precisamos de um governo com força e credibilidade. Acho que está caminhando bem. Sobre a agricultura em 2019, já estamos com o plantio da lavoura de verão com todo o sucesso, o clima está colaborando até agora, ao contrário do que tivemos no milho segunda safra (que não tem em Guarapuava), quando tivemos uma seca muito grande, perdas, muito seguro agrícola, muito Proagro e trigo também perdido por seca. Mas temos uma lavoura implantada, em fase de floração, e a partir de 10, 15 de janeiro, na região de Campo Mourão, já começa a colheita. Até o momento, o cenário é positivo. Acredito que teremos um grande ano. Com crescimento de 25% como tivemos esse ano é um pouco difícil, porque o cooperado deixou 46 milhões de saca de soja, milho e trigo para vender e vendeu esse ano (acima do que ele colheu). Isso favoreceu o faturamento e os preços médios foram maiores do que em 2017. Para ano que vem, se der uma grande safra, vamos crescer mais, mas temos que esperar para ver. Um dos sucessos da Coamo, além de uma equipe bem preparada, é que ela se capitalizou muito ao longo dos anos. Temos uma situação um pouco invejável em relação a isso. Não ficamos tão subordinados a juros e temos aplicações financeiras de grande volume ".

 

RPR: O senhor pode deixar uma mensagem de final de ano aos produtores rurais?

GALLASSINI: " Esperamos que todos os cooperados procurem cada vez mais adotar as novas tecnologias que estão chegando, se capitalizando para depender menos de juros e para que tenham segurança no caso de um evento desfavorável que possa acontecer (pois na agricultura isso é muito  comum... a cada 3, 4, 5 anos temos um ano que não é tão bom). Desejamos um ótimo ano de 2019, um Feliz Natal e que os nossos 28 mil cooperados tenham um grande ano, com muita saúde. Porque  o negócio de todos nós, agricultores, é o trabalho. Trabalho é importante! Precisamos utilizar as novas tecnologias para ter mais produtividade e boa renda. O agricultor tem que fazer a parte dele. E assim, vamos em frente!"

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Comemoração dos 48 anos da Coamo

 

A Coamo completou 48 anos no dia 28 de novembro. Em todas as unidades, a data foi comemorada com um café da manhã para os cooperados, colaboradores e parceiros.

Em Guarapuava, não foi diferente. Na ocasião, o gerente da unidade, Marino Mugnol, lembrou que o entreposto em Guarapuava é mais jovem, com 19 anos, mas que os cooperados da região possuem o mesmo leque de serviços que a Coamo oferece em qualquer lugar. “Estamos muito gratos e queremos aproveitar o momento para agradecer tanto o apoio da equipe de colaboradores, que é dedicada para alcançarmos os objetivos, como os cooperados, pela atuação, já que são eles os grandes responsáveis pelo nosso sucesso. 2018 foi mais um ano de bom resultado para a cooperativa como um todo e Guarapuava está nesse mesmo contexto. Desenvolvemos um trabalho excelente. Nossos cooperados também  entenderam de fato como é o trabalho da Coamo e estão atuando firmes junto a cooperativa”, agradeceu Mugnol.

A unidade da Coamo em Guarapuava conta com 360 cooperados, totalizando 45 mil hectares.

 

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