Franceses visitam propriedades rurais em Guarapuava

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Segunda-feira, 25 de março de 2019

Franceses visitam propriedades rurais em Guarapuava

Guarapuava recebeu nos dias 13 e 14 de fevereiro, um grupo de produtores rurais da França, sob a organização da TNT Turismo. Todos vindos do sudoeste francês, os 39 produtores eram integrantes da Association Centrale des Laiteries Coopératives des Charentset du Poitou (Associação Central de cooperativas de laticínios de Charents e Poitou).

Os franceses desembarcaram em São Paulo e seguiram para Curitiba. A primeira visita técnica do grupo no Brasil foi em Carambeí na Cooperativa Frísia, na Fazenda Frankana e na Fazenda Frísia, propriedades leiteiras.

Na região de Guarapuava, com o apoio do Sindicato Rural de Guarapuava, o grupo visitou a Fazenda Capão Redondo (Candói), propriedade do presidente da entidade, Rodolpho Luiz Werneck Botelho. Na propriedade, puderam observar o Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).

Durante a visita, Botelho apresentou um breve panorama sobre como a pecuária do Paraná tem se tornado referência em carne de qualidade, por meio de cooperativas que visam oferecer uma carne melhor ao mercado. Além disso, comentou alguns aspectos técnicos e de mercado da produção agropecuária do estado.

Joseph Giraud, da associação leiteira da França explicou que a cooperativa costuma realizar frequentemente viagens técnicas a outros países. A última viagem, segundo ele, foi para Israel. “Escolhemos o Brasil dessa vez porque é um país muito maior que a França e queríamos observar o sistema de organização de produção”, observou.

Sobre suas impressões técnicas, Giraud disse ter ficado impressionado com a produção agropecuária. “Em Carambeí, encontramos um cooperativismo forte. Uma cooperativa jovem e coordenada por jovens, que teve um desenvolvimento rápido, eficiente, com técnica, qualidade e volume de produção impressionante. Percebemos também que o Brasil tem uma acolhida de imigrantes muito bonita e eficiente. Que se organizaram em cooperativas e tiveram esse crescimento coletivo, mas também individual”.

Sobre a pecuária de corte visualizada na região de Guarapuava, ele disse que a qualidade também é surpreendente. “Animais impressionantes e como comentado pelo proprietário Rodolpho, os índices de crescimento quando os produtores começaram a se organizar por meio de cooperativas, focando na qualidade da carne, são animadores. O cooperativismo funciona em qualquer lugar do mundo”.  O nível de tecnologia implantado na agropecuária, segundo ele, é muito semelhante com o da França.

De modo geral, Giraud disse que encontrou um país completamente diferente da imagem que ele tinha. “É um país amável e percebemos que as pessoas trabalham com amor e com um sorriso no rosto. Trabalham com vontade. Falavam muito que o Brasil era um país de risco, mas a acolhida que tivemos tirou toda essa imagem”.

Ao final da visita, Botelho deixou uma mensagem aos franceses: “A agricultura tem que alimentar mais de sete bilhões de pessoas no mundo. E cada vez mais países estão saindo da miséria e mudando seu sistema de mercado, como a África, que está faminta por alimento de qualidade. E acho que quando se diz em alimentos de qualidade, a França é uma das campeãs. O Brasil, por enquanto, é um fornecedor de commodities e tem que aprender muito com os países desenvolvidos, principalmente a sobre segurança alimentar”. 

 

Erva-mate

 

No segundo dia de visita em Guarapuava, o grupo de produtores franceses observou a produção de uma planta tipicamente brasileira: a erva-mate. No distrito de Palmeirinha, a visita foi na Keller Bio-Mate uma propriedade de 490 hectares de erva-mate, que também abriga uma agroindústria.

“Eu nunca tinha visto a planta e nem consumido. Com certeza, foi uma nova descoberta no Brasil. Vou procurar saber mais, já que explicaram que tem muitas propriedades boas e fornece muito energia. É bom experimentar coisas novas”, disse a francesa Regina Charbonneau.

O erval próprio da empresa é orgânico e nativo. Mas a empresa possui uma cadeia de 66 produtores que fornecem a matéria-prima, nativa e cultivada.

Raimund Keller, proprietário da agroindústria, explicou que a propriedade foi adquirida há cinco anos. “Há três anos começamos o projeto da agroindústria, que está em operação há um ano e meio”. Assim que a propriedade foi adquirida, já foi certificada como orgânica. Segundo Keller, o processo foi feito para se ter um diferencial de mercado, já que a exportação já era um foco. Com muito trabalho e organização, a empresa conquistou compradores nos Estados Unidos. O preço pago pela erva-mate orgânica oscila de 5% a 50% a mais, comparada à convencional, dependendo do mercado”.

Holgel Gutfreund, responsável pelo setor comercial da empresa, complementou que além do mercado orgânico, a Keller Bio-Mate também tem trabalhado com o mercado justo, conhecido como fair trade. “Este tipo de mercado funciona da seguinte maneira: supomos que a gente tenha um faturamento de R$ 1 milhão, Deste valor, retorna R$ 50 mil para a empresa investir na sociedade. Eu preciso fazer uma pesquisa na comunidade onde estou inserido, para ver qual é a maior necessidade dela e apresentar o projeto”.

Cleber Lima, do setor administrativo, complementa que no fair trade é pago geralmente 5% acima do valor do mercado. “Na região da empresa, constatamos, através de pesquisas, que há uma deficiência de pontos de ônibus. Por isso, no primeiro ano, pretendemos construir pontos de ônibus na comunidade com o dinheiro que retornar”.

A Keller Bio-Mate exporta atualmente erva-mate para chá e extrato para bebidas, para países como Estados Unidos, Alemanha e França. A média, segundo o proprietário, chegou a 2,5 milhões de quilos no primeiro ano. “Superou a expectativa de mercado que tínhamos. Mas o primeiro ano foi muito difícil. Precisamos aprender muito, principalmente na adequação do produto, porque sempre temos que mandar amostras para os clientes e, se não estiver a contento, elas retornam e precisamos mandar com as características necessárias. Isso custa, muitas vezes, dois meses, três meses”, comentou Keller.

A abertura de mercado para erva-mate é complicada porque ainda não existe, no Brasil, tanto estudo e conhecimento do produto, como a soja, por exemplo. "E como o produto final da Keller Bio-Mate não é o chimarrão, ainda é mais difícil".

O objetivo da empresa nos próximos anos é conquistar mais mercado, principalmente na Europa. “Vimos uma oportunidade muito boa no mercado lá fora e não podemos desperdiçar. A erva-mate é mais conhecida em outros países do que no Brasil, onde somos os maiores produtores do mundo. Lá fora o mercado está se expandido muito, porque no Brasil, a erva-mate tem qualidade e quantidade”, finalizou Keller.

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