Sexta-feira, 10 de maio de 2019
O Seminário Técnico da Biotrigo Genética, que teve sua oitava edição no dia 10 de abril, em Campo Mourão (PR), se mostrou novamente como um espaço para a difusão da tecnologia do trigo – do campo à indústria. O evento contou com cerca de 400 participantes de toda a cadeia produtiva do segmento – agricultores, produtores de sementes, cerealistas, técnicos e profissionais que atuam em moinhos do Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, Goiás e também do Paraguai.
De acordo com o supervisor comercial da Biotrigo Genética para o Cerrado e os Campos Gerais, agrônomo Deodato Matias Junior, o objetivo do seminário é avaliar a safra, conhecer o que os triticultores estão demandando em termos de cultivares e apresentar os lançamentos da empresa. “Aqui, conseguimos falar sobre o manejo das cultivares no campo e também ter idéia do que o produtor está precisando”, disse. Ele destacou que a empresa também leva a iniciativa a outras regiões do Brasil: “Realizamos já esse mesmo evento em São Paulo. Hoje, aqui em Campo Mourão, no Paraná; e dia 30, no Rio Grande do Sul”.
Entre as palestras técnicas, a programação abordou temas como “Impactos do processo de recepção, secagem e armazenagem na qualidade do grão”, “Nematóide no sistema produtivo: impacto do pousio sujo”, “Resgate da última safra e perspectivas do melhoramento”, “Introdução do sistema clearfield na cultura do trigo no Brasil” e “Dinâmica da formação de preço do trigo no Brasil”. A empresa também divulgou algumas de suas cultivares, como TBIO Ponteiro e TBIO Duque, e trouxe novidades, como os trigos Energix, voltado para silagem, e Lenox, para pastejo. Também foram realizados dois lançamentos: TBIO Capricho CL (nome sugerido), que permite manejo com herbicida para eliminar plantas invasoras, e TBIO Astro (nome sugerido), que segundo a Biotrigo tem alta resistência a acamamento e possui a maior força de glúten de seu portfólio.
Presente ao evento, a REVISTA DO PRODUTOR RURAL conversou com alguns dos palestrantes.
Impactos do processo de recepção, secagem e armazenagem na qualidade do grão
Bruno Moncks da Silva, gerente da produção de sementes da Biotrigo em Passo Fundo, apresentou dados de pesquisa realizada pela Biotrigo com a UPF, avaliando o uso de equipamentos, no fluxo de beneficiamento de sementes, na redução de DON (micotoxina) em trigo.
“Os principais cuidados que você deve ter quando traz o trigo para dentro da sua unidade de armazenagem são para com o que vem com ele. Você tem que eliminar tudo aquilo que não é grão. Os principais aspectos que levamos em consideração são impureza, umidade e grãos giberelados. E o produtor, o que fica para ele? A escolha de uma cultivar com resistência e um manejo eficiente é o que ele pode fazer para tentar minimizar esses impactos. A nova atualização da legislação que traz os limites de DON (micotoxinas), no grão e nas farinhas integral e branca, serve muito mais como uma fonte de informação e de extrema importância para o cerealista e para o setor moageiro. O produtor, antes de armazenar, tem que garantir que isso não vá junto para dentro do sistema de armazenagem dele. E que esse trigo esteja com uma umidade ideal, em torno de 12 a 13%, para evitar uma proliferação de fungos. Porém, tem que levar em conta a colhedora que ele está usando, se ela está colocando muita impureza para dentro da caixa de colheita”.
Os efeitos da temperatura de secagem na qualidade dos grãos e da farinha
Kênia Meneguzzi, supervisora de qualidade industrial da Biotrigo, mencionou pesquisa da Biotrigo com o Instituto Federal do Rio Grande do Sul, testando tempos e temperaturas de secagem e os efeitos na qualidade da farinha.
“Trouxemos dois temas que consideramos muito importantes e que impactam na comercialização dos lotes (de trigo), que foram giberela e grão queimado por temperatura de secagem. É necessário termos uma umidade de 13% para armazenar o grão. Observamos que, acima dos 75 graus, já começamos a ter um comprometimento da qualidade da proteína. Se eu tivesse que falar em uma temperatura de segurança, utilizaria a temperatura de segurança de secagem para semente de trigo. A armazenagem é uma etapa super importante, porque se eu armazenar com umidade, vou ter o desenvolvimento de fungos, perda de qualidade. Se eu secar mal, se queimar esse grão, vou perder totalmente as suas características e ele não vai ter valor comercial. É nesse sentido que desenvolvemos o trabalho: não só pensando em trazer cultivares cada vez mais resistentes, cada vez mais produtivas, com qualidades distintas para atender o mercado, mas também em auxiliar, nortear o trabalho de armazenagem, de segregação e de beneficiamento, buscando sempre uma qualidade superior. Uma maior liquidez também”.
Nematóide no sistema produtivo: diagnóstico e impacto do pousio sujo
Ana Paula Mendes Lopes – Agrônoma, com mestrado em proteção de plantas (ênfase em nematologia), responsável pelas análises nematológicas em um laboratório de análises agronômicas.
“Os nematóides ficam nas raízes, no solo. O primeiro passo, sempre, é fazer a análise nematológica. Os danos na cultura da soja estão estimados em R$ 16,2 milhões por ano, segundo dados da Sociedade Brasileira de Nematologia. A presença de nematóide prejudica a absorção de água, de nutrientes. Os sintomas são menor produtividade, intenso abortamento de vagens, durante o período vegetativo, o que com certeza reflete na produção. No milho, os sintomas, nas raízes, na parte aérea, são menos evidentes do que na soja. O trigo é uma cultura em que, infelizmente, os dados na literatura ainda são escassos. Temos algumas cultivares que são mais resistentes. No manejo, temos o pousio limpo – pode diminuir nematóide? Até pode, mas o produtor tem que pensar que ele pode estar perdendo, e muito, com esta prática. O pousio limpo está sujeito à erosão, sem contar que nesse período, o produtor está deixando de ganhar, tanto em matéria orgânica, quanto em produção, plantando outra cultura de interesse econômico. E no pousio sujo, vimos que, com a presença de plantas daninhas, pode ocorrer aumento de nematóides, porque várias espécies têm a capacidade de multiplicar nematóide. E algumas multiplicam muito mais do que o milho”.
Lançamento do TBIO Capricho CL
André Rosa – Agrônomo, melhorista e um dos diretores da Biotrigo.
“Ele tem 75% da genética de um irmão do Sinuelo e 25% de um trigo estrangeiro, que trouxe essa característica de resistência a herbicida. É um trigo de qualidade melhorador, a princípio. Para a safra 2021, vai estar disponível, junto com o herbicida. É importante que seja esse herbicida, selecionado pela BASF, que é a nossa parceira, entre muitas opções, porque era o que tinha o melhor controle de azevém, aveia. É importante que o agricultor tome cuidado para nunca errar e botar esse herbicida numa lavoura não CL. Temos de manejar com o mesmo cuidado com que se manejou a soja RR assim que ela entrou”.
Lançamento do TBIO Astro
Ottoni Rosa Filho – Agrônomo, melhorista e um dos diretores da Biotrigo.
“Estamos muito contentes com a geração desse novo material e realmente acreditamos que vai ser bastante importante. É o nosso material mais resistente ao acamamento. Uma outra característica, que nos chama muito a atenção, é a parte de qualidade. Dentro do nosso ranking, é o trigo mais forte, em termos de resposta dentro do processo de Força de Glúten. A média está em valores de 550. Neste ano, está sendo produzida a semente básica desse material. Ano que vem, será distribuída para os produtores de sementes aqui do Paraná. No ano seguinte, vai chegar ao agricultor”.