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Segunda-feira, 26 de abril de 2021

Com formato online, evento manteve a tradição de levar informação ao produtor rural

O Dia de Campo de Verão Agrária aconteceu de maneira diferenteesse ano, devido a pandemia do Coronavírus. A Cooperativa Agrária juntamente com a Fundação Agrária de Pesquisa Agrária (FAPA), organizadoras do evento, respeitando o Decreto Municipal, realizaram apenas a versão online do evento. As palestras foram transmitidas na tarde dos dias 3 e 4 de março, pelo site oficial e canal do Youtube da Agrária.

A Revista do Produtor Rural fez um resumo de todas as palestras técnicas apresentadas, que trataram sobre temas relacionados às principais culturas de verão da região de Guarapuava: soja, milho e feijão. Confira a seguir:

Enxofre: deposição atmosférica, teores no solo e produtividade na região Centro-Sul do Paraná

Sandra Mara Vieira Fontoura - FAPA

“O objetivo do trabalho que fazemos na FAPA há alguns anos é primeiramente avaliar a contribuição atmosférica de enxofre no suprimento desse nutriente, ver qual é o potencial de fornecimento nesse formato, qual é a dinâmica do sulfato no perfil de solo, aonde o nutriente se concentra mais, qual a profundidade nessas áreas, qual o efeito no rendimento de grãos e quais os teores médios de enxofre nos solos na nossa área de abrangência. Alguns resultados foram: se o teor de enxofre no solo for maior que 7,6, a resposta das culturas ou a probabilidade de resposta à aplicação de enxofre é 0. Se o teor de nutriente estiver alto na camada de 0 a 20 cm não há necessidade de fazer aplicação de enxofre. Se o teor for menor do que 7,6, eu tenho 50% de chance de resposta para aplicação de nutriente. Dividindo na zona climática tropical e subtropical, nós temos comportamentos distintos. Na zona subtropical, como é o nosso caso aqui na região, há 22% de chance de resposta à aplicação de enxofre. No caso de trigo, canola e soja, a probabilidade de resposta é de 9% e se for feijão ou milho, a probabilidade é de 50%. Enquanto eu tiver uma alta produtividade, necessariamente vou precisar aplicar enxofre se o teor for abaixo de 7,5. Em resumo, de modo geral, para todas as informações que foram reunidas em plantio direto no Brasil, a aplicação de S aumentou, em média, 16% no segmento de grãos e 30% nos cultivos. A dose de máxima eficiência econômica, ou seja, a quantidade de enxofre que eu preciso aplicar no solo é de 26 kg”. 

 

Manejo da cultura do feijoeiro

NoemirAntoniazzi – FAPA

“Os ensaios que nós conduzimos aqui na FAPA na área do feijão seguem as linhas de avaliação de genótipos de feijão preto e de cores e o objetivo desse trabalho é indicar as melhores cultivares, com melhor adaptação no campo e também com melhor resposta agronômica em termos de produtividade e sanidade. Também temos algo em relação a feijões especiais, que é um nicho de mercado onde a cooperativa está apostando e provavelmente nós teremos também resultados nesse sentido, tentando indicar qual a melhor opção de escolha. E o objetivo disso tudo é oferecermos uma tecnologia de cultivo com as indicações pertinentes a cultura do feijão no tocante a escolha de variedades, ao processo de condução das lavouras do campo, em relação ao todo manejo voltado ao controle de pragas, doenças e todo o processo que requer essa tecnologia empregada pelos produtores no sentido de melhorar a rentabilidade e com isso tornar a cultura do feijão mais competitiva perante o sistema de produção que o agricultor utiliza na propriedade. Teríamos três situações bem distintas: uma delas é esse feijão plantado mais no cedo, mês de setembro ou outubro, assim que o frio permita; a outra é a mais indicada e rentável, é o feijão plantado pós-cultivo de inverno; e a terceira é aquela situação pós-batata, pós-milho e pós-soja precoce”.

Eduardo StefaniPagliosa - FAPA

“A produtividade do feijão é influenciada por alguns fatores: ambiente de cultivo, manejo que se faz com densidade e semeadura e escolha da cultivar. O feijoeiro é dividido em quatro grupos de crescimento: cultivar tipo 1 ereto, que são cultivares de ciclo determinado; tipo 2 semi-ereto que é um material determinado, ou seja, ele vai crescendo e largando há algumas variedades que oscilam entre o tipo 2 e 3; e tipo 4 que é trepador, que não é cultivado. Falando em época de semeadura para nossa região, que é mais fria, a semeadura ideal éao final de setembro até final de fevereiro. O que é muito decisivo nessas épocas do ano é a questão da temperatura. Temperaturas mais baixas tendem a fazer com que o metabolismo da planta reduza e demora mais para chegar nas fases de florescimento e maturação. Isso faz com que o ciclo fique um pouco mais longo. E temperaturas mais quentes encurtam esse ciclo. O plantio de fevereiro e março é um plantio de risco na nossa região devido ao frio no final do ciclo”.

Comportamento e manejo das doenças na safra de verão

Uso do controle biológico no manejo do Mofo Branco

Cristiane G. Gardino Link – FAPA

“Os principais agentes de controle biológico no Mofo Branco seriam o Trichoderma spp. e o Bacillus spp., que é uma bactéria. O mecanismo de ação do Trichoderma seria por competição de nutrientes ou espaço, onde ele invade o lugar do patógeno e chega antes do fitopatógeno, assim não deixa que ele se estabeleça na planta  e provoque a doença; por antibiose que seria a produção de enzimas tóxicas que vão destruir a parede celular do fitopatógeno e matá-lo; ou então pelo parasitismo, onde ele vai parasitar diretamente esses fungos que causam doenças, produzindo enzimas tóxicas. O Trichodermaharziunum é a principal espécie que tem para o controle do mofo branco. O momento ideal de aplicação do Trichodermaé na dessecação e pós-colheita. OsBacillus são bactérias do controle de crescimento de planta. Elas agem tanto no crescimento da planta, quanto no controle de doença. Elas possuem capacidade de formar os endósporos, que são estruturas de sobrevivência para que elas permaneçam no ambiente mesmo se não tiver o agente que ela vai controlar e também driblar defesas contra estes fitopatógenos que possam estar querendo se defender contra elas. Elas utilizam o mecanismo de antibiose também, que seria a produção dos metabólicos, substâncias tóxicas que impedem o desenvolvimento do fungo fitopatogênico. Os principaisbacillus utilizados como biocontrole, seriam: osubtilis e o pumilus. Os cuidados que se devem ter na aplicação de biocontroles de uma forma geral seriam temperaturas amenas, entre 20 e 25°; a umidade relativa do ar deve estar acima de 65%; e ter uma menor radiação de luz ultravioleta, ou seja, no final do dia ou a noite ou em dias nublados”.

Complexos de manejo da cultura da soja e milho (Heraldo)

Heraldo R. Feksa - FAPA

“As duas doenças iniciais da soja são o oídio e a mancha parda.Elas podem levar uma perda de até 40 a 50%, conforme o material genético. Existe outra doença que é a antracnose, que afeta a formação do número de vagens sob condições de alta umidade e temperatura. Ela pode comprometer até 70% do potencial produtivo. O manejo para essa doença é extremamente importante na fase inicial. O míldio e a bacteriose são doenças secundárias, mas também acabam levando quase seis sacas de soja por hectare se não houver o controle. O manejo dessas doenças é feito com fosfitos e cobre. A ferrugem neste ano entrou um pouco mais tarde, ela produziu esporos em grande quantidade em fevereiro e passa a ser importante no cultivo mais tardio.A cercaspora também pode levar potencial produtivo, em torno de 30%, da soja e ocorre mais no final do ciclo. Se não manejarmos a partir do R6, a perda pode ser de, em torno, 80kg/dia a partir de R5.5. Já no milho, o que chamou atenção neste ano foi a cigarrinha. Ela ocorreu nos estágios de V2 a V12 e estavam contaminadas por viroses, chamados fitoplasmas. Neste ano, ocorreram três citoplasmas: o enfezamento vermelho, enfezamento pálido e a risca do milho. Ocorreu depois o ataque do Fusariumverticilioides e Fusariumgraminearum. Pensamos em quatro formas de manejo para estas doenças, falando em controle químico:1 – foco: proteção do colmo – triazól + strobilurina ou strobilurina e protetores/indutores;  2 – foco: proteção das folhas - Triazól + strobilurina + carboxamida  e protetores/indutores; 3 – aplicação estratégica – feosféria e grãos ardidos – triazól+ strobilurina e carbendazim e protetores; 4 – aplicação: triazól + strobilurina e triazóis e protetores”.

Manejo de soja para altas produtividades de grãos

Vitor Spader - FAPA

“O começo de um manejo focado em altas produtividades de grãos se inicia em identificar as características de cada cultivar de soja, porque cada uma tem características particulares que vão ter uma resposta diferente de acordo com o manejo aplicado sobre elas. O ajuste do manejo também tem que levar em consideração o sistema de produção. Temos que lembrar que não cultivamos só soja nos campos. E com isso entra a rotação de culturas, que é importante. Além disso, o ajuste num ambiente de produção envolve uma série de variáveis, principalmente, solo, com variáveis químicas e físicas. Os produtores sempre falam que querem as variedades mais produtivas, mas precisamos ter ciência que as variedades mais produtivas só vão responder com o melhor potencial delas se também dermos o que ela precisa. Então, quando se faz o ajuste fitotécnico depende das características de cada planta, como: potencial de ramificação, estatura da planta, Índice de Área Foliar (IAF), orientação foliar, ciclo, condições de ambiente da produção e respostas das cultivares aos recursos do meio, como, por exemplo, fertilidade do solo, disponibilidade de água, nutrientes, etc. Para a região de Guarapuava a época de semeadura ideal, de modo geral, na maioria das cultivares é outubro e novembro e cai este potencial em dezembro. É preciso conhecer também a densidade de cada cultivar para não errar no campo. Importante conhecer também os componentes de rendimentos. No caso da soja, os principais são: número de vagens por planta (por m²), peso dos grãos e número de grãos vagens (menos interfere na produção final). A semeadura e a distribuição de plantas também são importantes. O ideal é que a distribuição seja uniforme, com espaçamento de 10 cm”.

A microbiologia do solo e a produtividade agrícola

Fernando DiniAndreote – ESALQ/USP

“O primeiro grupo de funções do microbioma do solo se refere à decomposição de material orgânico. O processo de decomposição de qualquer resíduo orgânico, de uma palhada, vai ser essa mineralização, onde o carbono orgânico vira carbono húmico. E tem outros elementos orgânicos (nitrogênio, fósforo, enxofre, etc), que vão virando formas minerais – o que a gente sabe que é um processo fundamental de disponibilidade de nutriente. O item 2 (a segunda função) vai tratar exatamente da qualidade física do solo. E aí, quando a gente vai tentar ligar a qualidade física de solo com a qualidade biológica, se depara com dois processos distintos, onde, em um, temos a presença dos macrorganismos (insetos, minhocas), fazendo incorporação de matéria orgânica, formação de poros no solo, mas também não podemos esquecer que os microrganismos têm papel importante nisso. Então, em conjunto, esses dois elementos aqui respondem pela relação ótima do solo, que permite duas coisas: entrada e acúmulo de água e a permeabilidade de oxigênio. Dois elementos fundamentais no enraizamento das plantas. E a última função é a interação com as plantas. Se eu somar rizosfera, questões relacionadas à nutrição, enraizmento das plantas, fisiologia, vou entender que essa interação das plantas com os microrganismos vai resultar em processo de proteção vegetal, onde as plantam usam esses recursos biológicos para se defenderem contra estresses bióticos ou abióticos. E resulta também em processo de promoção de crescimento, onde a simples atividade desse microbioma gera produtos, nutrientes, hormônios, que vão mudar a fisiologia vegetal, estimulam a planta a crescer”.

 

Complexo de enfezamentos em milho: identificação, danos e manejo

Alfredo Stoetzer – FAPA

Basicamente, hoje, a gente tem quatro grandes áreas de atuação do manejo. Eliminação de milho voluntário: a única cultura que consegue multiplicar hoje a cigarrinha é o milho. A sincronização do plantio: se eu conseguir concentrar a semeadura do milho numa única época, o meu dano vai ser menor, porque não vou ter essa dispersão, essa multiplicação da cigarrinha dentro dessas áreas. E aí vamos para a questão de tolerância genética. Vale lembrar que não temos resistência genética ao enfezamento. A gente tem tolerância. Então, um híbrido, mesmo estando verde, vai sofrer com o ataque do enfezamento se eu não adotar nenhuma estratégia de manejo. Mas é importante considerar que o material tolerante sofre muito menos do que um material sensível. Temos ainda a última estratégia de manejo, que é controle químico ou biológico. Aí vem a parte de tratamento de sementes, por primeiro, e depois a complementação de inseticida em parte aérea. Essas estratégias estão baseadas no manejo do vetor. E dentro dessas estratégias, tenho que considerar o seguinte: que o período com maior dano do complexo de enfezamento vai até V6. Normalmente até V6, V7, tenho 70% dos danos. Também tenho que considerar o residual do produto. A cada três, quatro dias, tenho uma folha nova. Essa folha nova tem pouco inseticida. Então minha estratégia de manejo de produto químico ou biológico também tem que considerar isso. Sempre tenho que garantir que tenho produto ciclando dentro desta planta”.

Reposta de híbridos de milho à população de plantas, em diferentes altitudes, na região de atuação da Cooperativa Agrária

Celso Wobeto – FAPA

“Observem o que acontece num trabalho que fizemos aqui na FAPA. Com relação a tamanho de espiga: são dois híbridos – vejam que com 70 mil plantas, dá pra ver nitidamente que o número de grãos por fileira vai diminuindo à medida que aumento a população de 70 para 130 mil. E pela espessura da espiga, também o número de fileiras vai diminuindo. Os locais foram: um no Pinhão, dois em Guarapuava. A época de plantio é dentro da ideal do milho (12 a 15 de setembro). As safras utilizadas foram de 16/17, 17/18 e 18/19. Entre Rios (17.608 kg/ha) e Murakami (17.468 kg/ha) foram mais produtivos do que Pinhão (16.554 kg/ha), para uma média de 17 mil kg/hectare. Entre as populações, a de 100 mil (17.849 kg/ha) e a de 90 mil (17.450 kg/ha), não houve diferença entre elas. A de 70 mil (16.264 kg/ha) ficou inferior e a de 80 mil (16.976 kg/ha) então ficou no meio dos demais. Para peso de mil grãos segue a mesma resposta do que para o rendimento de grãos. E entre as populações, agora inverteu: há uma queda significativa à medida que a gente aumenta a população de plantas (70 mil, 410 g; 80 mil, 400 g; 90 mil, 390 g; e 100 mil, 378 g). Grãos ardidos: não houve diferença nem para local, nem população, nem para a interação. Agora, as considerações finais: não houve interação significativa local e população. Por isso, a melhor população em um local, a gente espera que ela seja também a melhor nos demais locais. Na prática (em Guarapuava e região), populações de 90 mil e 100 mil têm um risco maior de acamamento, de quebramento, então é necessário ter um cuidado então quando a gente passa a ter essas populações muito elevadas”.

 

Inteligência artificial e modelos computacionais aplicados à agricultura

Rodrigo Ferreira – FAPA

“Algoritmo é uma sequência de regras, instruções, procedimentos, como fazer alguma coisa. Quando a gente vai para um modelo computacional, especificamente, está falando de uma representação de uma coisa real na natureza ou de um processo. E simplifico isso para um modelo de computador através dos algoritmos. A inteligência artificial vai agrupar os modelos, os algoritmos, e vai tentar solucionar o problema da mesma forma que uma pessoa faria. Programas que reconhecem o que são pragas, doenças, plantas daninhas, para fazer a intervenção localizada; programas de colheita na estufa – você parametriza: ‘eu quero que ele colha os tomates que estão com 95%, 90% de maturação’ – O programa lê, mede, aí vem um braço robótico e vai colher só o que está com aquele parâmetro. Em silvicultura, a gente já tem visto algumas coisas. Esses ‘camaradas’ (robôs) aqui ficaram bem famosos: eles fazem toda a gestão dentro da estufa ou dentro do viveiro, de forma autônoma. Carregam os vasos, transportam as mudas, ligam irrigação, desligam, abrem estufa, fecham, tudo programado aqui dentro desses computadores móveis. E tem, obviamente, o irmão maior (trator autônomo). É bem conhecida, essa máquina. Está operando há pelo menos dois anos no campo, já em áreas comerciais. Outras empresas também apostaram nisso aqui. Começaram a desenvolver máquinas maiores, com grande capacidade de trabalho para fazer de forma autônoma, todas configuradas por computador”.

Webinar Clima – Condições climáticas para verão/outono 2021

Marco Antônio dos Santos – Rural Clima Serviços de Engenharia Agronômica

“Quando a gente olha a Região 1+2 (do Oceano Pacífico, entre 10 de dezembro e 4 de março), que é essa região aqui que banha o Peru e o Equador, observa que as temperaturas chegaram a ficar num estágio positivo entre o final de janeiro e fevereiro, depois caíram, ficaram dentro de uma normalidade. No final de fevereiro e início de março, sofreram uma queda muito brusca. Essa região tem muito mais influência (no Brasil) do que a 3+4. Agora, (1+2) está se aquecendo novamente. As chuvas tendem a voltar para o Sul (brasileiro). Com relação a La Niña, se você pegar o modelo australiano – esse é para mim um dos melhores, que tem essa tendência de pegar bem esse efeito La Niña/El Niño –, estamos indo para uma neutralidade climática, já dentro praticamente de uma neutralidade. Esse outono-inverno será muito mais marcado por um clima muito mais próximo à neutralidade, muito mais voltado às condições normais de clima aí para vocês (Guarapuava e região). O inverno deve ser também marcado por uma transição um pouquinho mais quente para depois voltar a se esfriar, mais para o começo da próxima safra. Vocês vão ter um outono-inverno úmido e com quedas bruscas das temperaturas em alguns momentos. Não dá para falar se vai ou não ter geada, porque geada a gente só fala com cinco dias de antecedência, mas há uma probabilidade grande de frios mais intensos tanto no outono quanto no inverno. E até mesmo podendo ter algumas entradas de frio em setembro, por conta desse clima mais dentro da normalidade”.

 

 

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