Cigarrinha de pastagens: como identificar a praga e fazer o controle do problema

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Terça-feira, 02 de março de 2021

Cigarrinha de pastagens: como identificar a praga e fazer o controle do problema

Professor Sebastião Brasil Campos Lustosa

(Universidade Estadual do Centro-Oeste)

 

Quando se pretende intensificar a produção animal a pasto é necessário estar atento a pragas, doenças e plantas daninhas, pois estas podem reduzir muito a produção de forragem não permitindo obter os melhores resultados das pastagens. Entre as várias pragas que ocorrem em pastagens, as cigarrinhas são consideradas como a praga principal, isto devido a dificuldade de controle e também porque seu ataque pode levar a morte das plantas forrageiras.

Embora na região centro-sul do Paraná não fosse comum grandes infestações desta praga, a substituição das pastagens nativas para o cultivo de plantas forrageiras exóticas “mais produtivas”, combinadas ao desajuste climático em que vivemos, tem aumentado nos últimos vinte anos o surgimento de infestações que provocam danos econômicos.

As cigarrinhas das pastagens são insetos da ordem Hemiptera família Cercopidae sendo que os gêneros considerados como pragas de pastagem Deois, Notozulia e Mahanarva, com as espécies D. flavopicta, D. schach, N. entreriana e M. fimbriolata. Estes insetos sugam as plantas fazendo com que elas apresentem inicialmente sintomas de estrias amareladas nas folhas, evoluindo para um verde pálido, até o amarelecimento total da planta e consequente morte. As plantas quando sugadas por cigarrinha apresentam menor crescimento e geralmente com aspecto de vassoura, ou seja, com entre nós muito curtos, característica chamada de enfezamento.

Nas pastagens estes insetos aparecem de setembro a abril, com populações passíveis de danos de novembro a março, quando há aumento das temperaturas e da umidade pelas chuvas mais abundantes e frequentes. Geralmente, os ataques das cigarrinhas ocorrem em reboleiras, mas rapidamente se expandem para toda a área de pastagem. Portanto, o produtor rural deve monitorar as áreas de pastagens logo que avistar estas reboleiras ou a pastagem com aspecto amarelado.

Além do calor e umidade, fatores como espécie forrageira suscetível, plantas forrageiras debilitadas por falta de adubação, altura excessiva da pastagem e a presença de material morto, resultado da altura excessiva ou da falta de adubação, facilitam o ataque da praga.

As cigarrinhas ovipositam próximo ao solo, principalmente, na condição em que a pastagem está com altura excessiva e/ou grande quantidade de material morto. Esta condição, favorece a cigarrinha, pois lá encontra um local protegido para ovipositar e também para o desenvolvimento das ninfas. Após a oviposição a eclosão ocorre entre 10 a 25 dias, isto depende da espécie de cigarrinha e das condições ambientais.

Em ambiente seco ou frio, caso do outono e inverno na região, os ovos ficam paralisados indo a eclodir somente sob condições favoráveis de umidade e calor na primavera/verão. Após a eclosão o estádio de ninfa se desenvolve por um período de 25 a 35 dias. As ninfas ficam envoltas em uma secreção de uma espuma gosmenta e esbranquiçada que as protege do sol, dos inimigos naturais e mantém a unidade ao redor do inseto.

O estádio ninfal é o que causa maiores danos a pastagem, pois as ninfas alojadas próximas ao solo, sugam a seiva da planta, causando aqueles sintomas. As ninfas ao sugarem a planta, além de retirar a seiva e enfraquecer a planta, podem ser vetores de viroses, como por exemplo o vírus do mosaico, e também porta de entrada para outros patógenos.

Ao se transformarem em insetos adultos, habitam as folhas e colmos da pastagem e se deslocam com voos curtos, saltitando entre as plantas. O inseto adulto tem uma duração de 10 a 20 dias, com as fêmeas mais longevas que os machos. Nas condições regionais é comum duas a três infestações durante a primavera/verão, mas é possível em anos muito úmidos e quentes se ter mais de três.

Ao perceber os primeiros sinais da praga, deve-se fazer um caminhamento na pastagem, observando a revoada de insetos adultos e a presença da espuma esbranquiçada na base das plantas. Este caminhamento deve ser realizado, tomando-se pelo menos cinco pontos por hectare. Se sugere que o controle inicie quando em uma área de 1m2 for coletado pelo até 10 adultos e a presença de cinco ninfas, ou seja, em início de infestação e com a presença de poucas reboleiras, pode-se iniciar o controle biológico com o fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae.

Para que o fungo funcione eficientemente é necessário aplicá-lo com uma boa condição de umidade e preferencialmente ao final do dia, para reduzir a exposição do fungo ao sol. Quando a infestação for de 10 até 20 insetos adultos e até 10 ninfas por m2, pode-se aplicar inseticida nas reboleiras e fungo em área total. Contudo, quando tiver mais que 20 insetos adultos e mais de 10 ninfas por m2 pode-se aplicar inseticida em área total. Neste caso, após a aplicação do inseticida em área total, pode-se adotar o controle biológico cerca de sete a 14 dias após a aplicação. Quando a pastagem nunca recebeu o Metarhizium, muitas vezes é necessário duas a três aplicações, para que ocorra a inoculação da pastagem e desta forma prevenir futura infestação. Para aplicação do inseticida, seja ele biológico quanto químico, a pastagem deve ser rebaixada pelo uso de animais e depois aplicar o inseticida. Após a aplicação do inseticida, recomenda-se fazer adubação nitrogenada para recuperar rapidamente as plantas. Uma das formas de se evitar o aparecimento de cigarrinhas é o correto manejo de alturas de entrada e saída da pastagem, pois evita o acúmulo de material morto, associada a adubação nitrogenada para auxiliar a planta na manutenção de folhas verdes por mais tempo possível.

Quanto à escolha das espécies forrageiras sabe-se que elas atacam sempre as melhores espécies em termos nutricionais. Pode-se citar como muito susceptíveis a cigarrinha: Tifton 85, Jiggs, Quicuio, Decumbens, Ruziziensis, Pangola; alguns cultivares de capim elefante como por exemplo Kurumi; já capim Aries, Aruana, Massai, Zuri, Quenia, grama estrela, como moderadamente tolerantes; enquanto que Brizantão, Setária, Hemártria, Missioneira e Pesacola como tolerantes à cigarrinha.

 

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