Cerveja Rosemary auxilia no controle de diabetes

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Quinta-feira, 04 de novembro de 2021

Cerveja Rosemary auxilia no controle de diabetes

Pesquisa surgiu no Departamento de Farmácia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), em Guarapuava.

As pessoas diagnosticadas com diabetes, doença crônica caracterizada pelo aumento dos níveis de açúcar no sangue, precisam fazer um tratamento adequado, buscando controlar a doença.

O Diabetes Mellitus acontece porque a insulina, hormônio que transporta a glicose do sangue para o interior das células, não é produzida ou não funciona corretamente, fazendo com que o açúcar vá se acumulando no sangue, ao invés de ser gasto nas células do corpo.

A maioria dos casos diagnosticados surge ao longo da vida e estão relacionados, principalmente a maus hábitos alimentares. Alguns casos, em exceção, se apresentam desde o nascimento. Portanto, após o diagnóstico, o cuidado com a alimentação aliado à aplicação de insulina são o caminho para o diabético obter uma boa manutenção da saúde.

Dentro das recomendações alimentares, as principais proibições para o diabético são: doces em geral, bebidas açucaradas e bebidas alcóolicas.

Mas e se alguém te contasse que existe uma cerveja, com teor alcóolico, que o diabético pode consumir (com moderação) e que além de não trazer malefícios para sua saúde, ainda pode ajudar no controle da diabetes. Você acreditaria?

Pois saiba que isso já é uma realidade e prestes a ser disponibilizada no mercado de cervejas. A chamada Rosemary, que nasceu na Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Departamento de Farmácia, no campus Cedeteg, em Guarapuava - considerada a capital da Cevada e do Malte, tem na sua formulação um componente que, por meio de pesquisas científicas se mostrou eficiente no controle de diabetes: o extrato de Baccharis dracunculifolia, conhecido popularmente como Alecrim Dourado ou Alecrim-do-campo.

O biomédico e professor da Unicentro, um dos responsáveis pela pesquisa e um dos sócios da patente, Carlos Ricardo Maneck Malfatti, conta que as pesquisas foram acontecendo de forma ocasional. “Iniciamos uma pesquisa em 2009, com uma desconfiança que a planta Baccharis dracunculifolia fosse benéfica para obesidade. Como uma espécie de acidente científico, acabamos vendo nesse modelo de obesidade, inicialmente utilizado em ratinhos obesos, observando alguns efeitos que eram a favor dos sintomas de diabetes. A planta regulava sintomas de obesidade, regulava a glicemia, reduzia resistência à insulina e a própria redução da gordura visceral”.

Malfatti explica que a partir destes resultados, a pesquisa foi conduzida com modelos de diabetes in vitro, isolando células de pâncreas e ilhotas pancreáticas. “Estudamos isoladamente essas células especializadas em produzir insulina, por exemplo, que é muito importante para o diabético, tanto aquele que não produz, quanto aquele que tem a resistência a esse hormônio. Percebemos que o extrato tinha realmente uma efetividade no sentido de proteger essas células e até mesmo no funcionamento dessas células”. Nesta etapa foram, aproximadamente, cinco anos de pesquisa.

Após os resultados, Malfatti juntamente com outros alunos de graduação, mestrado e doutorado começaram a acreditar no potencial do extrato de Alecrim Dourado. “Conseguimos uma tecnologia barata e de rápida extração, que poderia ser competitiva no mercado com outros produtos que também oferecem efeitos similares, como os próprios fármacos. É importante frisar que a nossa tecnologia não é fármaco, não pretende ser um fármaco, nem pretende um rigor científico do fitoterápico. A nossa tecnologia mostra que tem efeitos benéficos por diferentes formas, com testes in vitro, ratos e em humanos, tanto saudáveis, como com diabetes. Mas a gente pretende lançar algo no mercado para ter a promoção de saúde, como forma de prevenção e não de tratamento. Como uma espécie de controle coadjuvante”, explica.

Extrato de Baccharis dracunculifolia na cerveja: nasce a Rosemary

A ideia de colocar o extrato de Baccharis dracunculifolia nasceu mais recentemente. O doutorando Ricardo P. Silva, do Instituto Federal do Paraná (IFPR), campus de Palmas, é apaixonado pela produção de cervejas e propôs à Malfatti o estudo da bebida. Ao longo das pesquisas, que no início não tinham um foco definido, foi pensado na possibilidade de colocar o extrato nas cervejas para tornar a ingestão mais atrativa. “Tivemos essa sacada. Começamos a produzir aqui e lá em Palmas. Eu focado mais no extrato e o Ricardo mais focado na produção e estilos de cerveja, tentando harmonizar este extrato, que tem sabor e textura fortes, para ter uma experiência sensorial favorável”, conta.

Vinte pessoas participaram incialmente das pesquisas. Todas diabéticas, buscavam a cerveja no laboratório e depois de ingerir a bebida por certo tempo faziam exames de controle da doença. “Observamos que nossos pacientes acabaram nos trazendo relatos de controle, mediante seus exames periódicos. Houve uma melhora de praticamente todos os indicadores bioquímicos. Melhorias do tipo regular, da glicemia em longo prazo. Inclusive algumas pessoas, após consumirem a cerveja regularmente, conseguiram a redução dos remédios, por conta de um novo controle glicêmico implementado”, conta o pesquisador.

Levar a ideia de comercialização da cerveja Rosemary a frente não foi por acaso. Atualmente, o Brasil é o terceiro país no mundo a consumir cerveja e tem indicativos de que metade da população é obesa ou tem sobrepeso, um dos fatores principais para o desencadeamento do diabetes.

A Rosemary já tem patente registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e já está em negociação com investidores, inclusive internacional. “Temos um interessado internacional, italiano, diretor de uma empresa de produtos naturais, que vai estar bem alinhado a nossa proposta de planta medicinal. Ele está em reunião com o doutorando Ricardo, que vai fazer seu doutorado sanduíche, com parte na Itália. Temos essa prospecção de exportação. E também temos uma empresa nacional, que é a Insana, cervejaria localizada em Palmas (PR) que irá produzir em grande escala a Rosemary”, revela Malfatti.

Rosemary conquistou o Prêmio Prime

A cerveja Rosemary foi um dos 17 projetos que participaram da primeira edição do programa Propriedade Intelectual com Foco no Mercado (Prime), conquistando a primeira colocação em agosto de 2021.

O prêmio foi realizado pelas superintendências estaduais de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e de Inovação, a Fundação Araucária e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Paraná (Sebrae/PR).

“O Prime é uma proposta governamental da Secretaria de Estado de Ensino, Tecnologia e Ensino Superior, por meio da Fundação Araucária e Sebrae, para promover pesquisas que já tivessem patentes depositadas, para que elas saíssem dos laboratórios e ganhassem espaço fora dos muros da universidade. Então o Prime foi um acelerador de ideias. Tivemos mentorias, cursos, capacitações, workshops e tarefas semanais muito intensas, a fim de selecionar estes pesquisadores”, detalha o líder da pesquisa, Malfatti.

Como reconhecimento, os cinco primeiros colocados ganharam uma mentoria de seis meses do Sebrae, com o objetivo de alcançar um crescimento e reconhecimento de mercado.

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