Treinamento do Programa Pecuária Moderna alavanca bovinocultura de corte nos Campos Gerais

Site de notícias vinculado ao Sindicato Rural de Guarapuava

Quinta-feira, 03 de maio de 2018

Treinamento do Programa Pecuária Moderna alavanca bovinocultura de corte nos Campos Gerais

Técnicos formados na turma de Ponta Grossa levaram conhecimento para propriedades e mostram que o Paraná tem potencial para produzir carne de elite

“Eu sou do tempo em que pecuária se fazia colocando os bois em metade da terra e esquecia-se deles no pasto”, lembra Lilian Busato, com praticamente seis décadas de experiência na atividade agropecuária. Nesse tempo, a pecuarista viu a criação de bovinos perder espaço nos negócios da família. Mas no que depender dela e de um movimento que vem tomando corpo nos Campos Gerais a atividade irá retomar a importância na propriedade em Tibagi, assim como em outros pontos do Estado.

“Eu acredito que a pecuária moderna é um negócio altamente produtivo. Meus vizinhos e parentes dizem que isso não dá dinheiro. Eu discordo. A margem é justa. Mas sendo realista, anotando tudo e levando à risca, é possível ganhar dinheiro com boi”, crava Lilian. “Claro que é preciso ter uma administração precisa, com estrutura enxuta, planejamento, usando recursos ao máximo sem desperdício e seguindo uma gestão de alto nível”, complementa. Por enquanto, Lilian está longe de ser a maior criadora de bois do Estado. A propriedade de 50 hectares conta com 78 cabeças nas modalidades recria e terminação.

Mas essa não é o propósito final da pecuarista e também da pecuária de corte paranaense, que representa 5% do rebanho nacional e apenas 2,3% do território brasileiro. O que acontece na propriedade em Tibagi e em diversas outras no Estado é que pecuaristas têm investido em inteligência, no que há de mais moderno em termos de eficiência na criação de bovinos. O resultado é a transformação do boi commodity em um produto gourmet, que ganha espaço dia após dia no gosto do consumidor.

“Nos últimos três anos eu tenho investido em reformas, criação de piquetes, num plano de pastagem para cada área pré-definida, tudo mapeado no computador. Hoje já consigo ter sobra de pastagem. Tenho integração Lavoura-Pecuária, o que ajuda a manter a oferta de alimento e maior ganho de peso diário pelos animais”, orgulha-se a pecuarista, que faz questão de revelar suas táticas e números.

Cultura compartilhada

Lilian não é uma voz isolada na região. Um reforço de peso para mudar a visão de que pecuária é um negócio sem resultado aconteceu por meio dos 26 técnicos participantes do curso na turma de Ponta Grossa que integra o Programa Pecuária Moderna. Os profissionais começaram o treinamento em 2017 e agora estão finalizando seus trabalhos de conclusão.

Assim que passarem pela criteriosa banca de avaliação estarão aptos e com a chancela do SENAR-PR para levar exemplos como os que saem da propriedade de Lilian para outros pecuaristas do Estado.

É o caso do zootecnista Marcelo Ailton Vschornack, de Apucarana, um dos integrantes da turma realizada nos Campos Gerais. Para ele, participar do curso proporcionou um período intenso de aprendizado para elevar os negócios dos pecuaristas a outro patamar. “Essa necessidade de investir em uma gestão eficiente é algo fundamental para desenvolver a pecuária do Estado, muitas vezes os produtores não têm dados para gerar indicadores e tomar decisões que elevem a eficiência”, comenta.

Há seis anos Vschornack trabalha em uma propriedade em Ortigueira. Nesse tempo, ele e o proprietário passaram a adotar técnicas mais modernas de gestão. O zootecnista é franco em assumir que o curso ajudou a abrir novos horizontes, além de agregar conhecimento na sua capacidade profissional. “Adotei o projeto nessa propriedade na qual trabalho e refiz toda a parte técnica. Estamos com ações em andamento para melhorar o manejo da parte da pastagem, benfeitorias no semiconfinamento e no confinamento e, futuramente, na construção de uma minifábrica de ração para reduzir os custos”, projeta.

A propriedade em questão tem 732 cabeças no ciclo completo, com um total de 350 matrizes. A área de 437 hectares contabiliza 1,4 unidade animal por hectare (já descontando áreas de preservação). “O curso é muito interessante, com professores experientes que proporcionam atividades práticas. E a troca de experiência entre os participantes permite abrir a mente para várias coisas diferentes”, salienta o zootecnista.

Endrigo Antônio de Carvalho, que trabalha na Emater Cascavel, também foi um dos participantes do curso do Pecuária Moderna nos Campos Gerais. Como atua no Oeste, uma região diferente, em uma parte do Estado na qual a pecuária é realizada praticamente toda em terrenos acidentados onde cultivar grãos não é viável, os desafios levados aos debates enriqueceram a troca de experiências.

“Algo que me chamou a atenção é que os professores são profissionais renomados no mercado. Foi muito proveitoso e serviu como uma atualização e contato com o que há de mais novo na área”, relata.

A propriedade na qual Carvalho realizou seu projeto fica em Lindoeste, em uma região com geomorfologia pouco propícia à agricultura. “A proposta foi mudar o maquinário utilizado para promover melhorias nas pastagens e, consequentemente, na média diária de ganho de peso. Agora estamos desmamando bezerros mais pesados e com índices de engorda mais eficazes. A meta é dobra o ganho, de 350 gramas/dia para 700 gramas/dia. No fim desse ano já vamos ter como medir resultados, pois desde 2017 já tivemos melhoras significativas no local”, revela.

O primeiro passo para chegar à conclusão do que seria necessário fazer na propriedade foi uma análise visual das áreas com pasto. Depois, os nutrientes que precisavam de reposição, onde era possível recuperar e onde implantar nova pastagem. “A máquina utilizada para isso é uma adaptação de um equipamento que se usa em plantação de bananeira, que lança as sementes e nutrientes por meio de um canhão de ar”, descreve.

Carvalho, junto com o pecuarista, trabalha para promover uma gestão com maior controle de gastos, para potencializar o rendimento. “Pela experiência que tenho no meu dia a dia, vejo que muitos pecuaristas não sabem se a atividade está sendo rentável. Em alguns casos, do modo como é conduzida a criação, o produtor está até perdendo dinheiro. É preciso calcular, levar o negócio como uma empresa de alto rendimento, com o cálculo de tudo o que impacta no custo de produção de modo a fazer da atividade lucrativa e sustentável”, ensina.

Texto e foto: Faep

Comentários

Todos os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Você pode denunciar algo que viole os termos de uso.