Site de notícias vinculado ao Sindicato Rural de Guarapuava

Sexta-feira, 31 de março de 2017

Muito além do plantio direto

Paraná desenvolve Programa Integrado de Conservação de Solo e Água do Paraná (Prosolo), visando promover a conservação de recursos naturais, com suporte ao produtor rural, ações de treinamento e pesquisa.

O solo e a água são matérias-primas primordiais na produção de alimentos. Sendo assim, são grandes aliados dos produtores rurais e ao mesmo tempo de toda a sociedade. Não são recursos privados e devem ser utilizados como patrimônio coletivo.

Um estudo divulgado no ano passado, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que teve como parceira a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), revelou que mais de 30% dos solos de todo o mundo está degradado em decorrência de diversos fatores. Os resultados da pesquisa estão no relatório ‘Estado da Arte do Recurso Solo no Mundo’ (Status of the world´s soil resources).

A pesquisadora da Embrapa Solos, Maria de Lourdes Mendonça Santos Brefin, que fez parte do conselho editorial do estudo, afirma que os resultados não são nada satisfatórios. “No relatório, a maioria dos solos do mundo foram classificados como estando em condições razoáveis, pobres ou muito pobres. Os solos, como se sabe, são a base para a produção de alimentos, fibras e energia. Além de serem responsáveis pela produção de serviços ecossistêmicos, sustentação da biodiversidade, desempenham papel importante na mitigação de efeitos das mudanças climáticas. Com os resultados obtidos, não há motivos para otimismo. Até mesmo a  segurança alimentar do mundo fica comprometida”.

Esse fato é preocupante já que outro estudo da FAO afirma que até 2050 a produção de alimentos deverá aumentar cerca de 60% para atender a demanda de toda a população global. Ao mesmo tempo, o estudo sobre solos estima perdas anuais de 0,3% da produção de culturas, isto devido à erosão. Se o problema continuar nesse ritmo, uma redução total de mais de 10% poderá acontecer até 2050. Ou seja, pessoas demais e alimento de menos.

No Brasil, especificamente, a situação não é diferente, já que a pesquisadora ressalta que a maioria dos solos encontra-se degradada, sendo a erosão a principal causa dessa degradação, além da perda de nutrientes, degradação da matéria orgânica, salinização, poluição e acidificação dos solos. E para ela, aqui no país o problema vai além: “Em geral, o uso inadequado do solo acontece porque falta conhecimento sobre esse recurso no país. Conhecimento detalhado das características e comportamento dos solos. As informações que dispomos no Brasil sobre os solos são muito pouco detalhadas, comparadas a outros países, como os Estados Unidos, com quem concorremos nas exportações. Falta também apoio à pesquisa aplicada e faltam políticas públicas para que o produtor possa fazer o manejo adequado de suas terras”.

Para mudar a situação dos solos e da água, Maria cita que conhecimento é fundamental. “Ações concretas devem ser tomadas, tanto pelos agricultores e instituições, como pela sociedade e governos. Essas ações vão desde a inclusão de boas práticas de manejo sustentável do solo e da água na agricultura, recuperação das áreas degradadas, além de legislação específica sobre o uso e manejo dos solos. Programas de governos que tenham como base o manejo sustentável do solo, a exemplo do Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que deem ao produtor rural, o conhecimento e o apoio  necessário para a aplicação das boas práticas de cultivo, mantendo a capacidade produtiva do solo ao longo dos anos”.

Prosolo

No Paraná, a preocupação com o solo e água não é diferente. O governo estadual, em parceria com empresas e entidades representativas, se conscientizaram que era necessário fazer algo a respeito. Por meio de um decreto, em agosto de 2016 foi criado o Programa Integrado de Conservação de Solo e Água do Paraná (Prosolo Paraná). O objetivo é promover a conservação desses recursos naturais, servindo de suporte ao produtor rural com ações de treinamento e pesquisa.

 “Os efeitos do fenômeno climático ‘El Niño’ sobre os processos erosivos colocaram novamente em pauta a discussão sobre essa temática. Ela vinha sendo colocada em segundo plano, baseado na premissa de que o sistema de plantio direto seria capaz de dar uma solução definitiva para o problema aqui no nosso estado. Foi reacendida a discussão em torno de possíveis ações necessárias para mitigar os prejuízos causados pelos processos erosivos no Estado do Paraná”, detalhou a secretária executiva do programa, Débora Grimm. O comitê gestor do Prosolo é formado pela Seab, Iapar, Emater, Sistema Faep/Senar, Fetaep e Ocepar.

O técnico de Meio Ambiente do Sistema Faep/Senar, Werner Meyer comentou que foi a Federação que deu iniciou às discussões para que ações fossem tomadas. “Houve uma provocação sobre o tema junto ao governo do Estado, que aceitou muito bem a ideia, pois sabe da importância da conservação do solo e da água. Não pretendemos punir o produtor com esse novo programa, mas sim mostrar para ele a importância do tema. Do ponto de vista econômico, mostrar o quanto eles estão perdendo com a maus hábitos e deixá-los a par de tecnologias que podem ser adotadas para que eles melhorem a produtividade e cumpram a legislação”.

 O programa está apoiado em cinco eixos: instituição do Programa Integrado de Conservação de Solo e Água do Paraná; capacitação dos produtores rurais e técnicos; pesquisa e formação aplicada; operacionalização; e revisão sobre a legislação da conservação de solos e água.

Como Meyer já citou, o programa não impõem nada ao produtor rural. Ele participa de forma voluntária. A adesão se dá por meio de um formulário que está disponível nos escritórios da Emater. Após o preenchimento, o produtor se compromete a apresentar à Emater o projeto de conservação de solo e água de sua propriedade em até um ano após a data de sua adesão. O formulário de adesão estará disponível até o dia 28 de agosto de 2017.

O projeto deve ser elaborado por um profissional habilitado, o qual deverá prever no cronograma o prazo de até três anos para sua execução. Para os produtores que forem notificados por descumprimento da legislação de solo, haverá um prazo de 60 dias para a adesão ao programa, o qual terá sua notificação suspensa desde que cumpra as obrigações assumidas no termo de adesão.

Paralelo à formação dos projetos estão acontecendo as capacitações e iniciativa para pesquisas. “Estão sendo capacitados técnicos para elaboração de projetos de conservação de solo e água. No eixo pesquisa, está em fase final o lançamento do Edital da Chamada Pública para as universidades, instituições de pesquisa pública e privada participarem com proposta de pesquisa na área”.

A primeira turma do curso de Manejo de solo e água em propriedades rurais e microbacias hidrográficas já está acontecendo. A capacitação foi disponibilizada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar - PR) no ano passado. O curso semipresencial é dividido em 14 módulos. A programação prevê a primeira parte (11 módulos) com aulas teóricas à distância, a segunda com prática de campo (dois módulos). Para finalizar, será apresentada a defesa presencial do projeto elaborado durante os noves meses do curso.

Outro ponto que o programa aborda é a revisão na legislação sobre a conservação do solo e da água. Débora explica que a proposta é criar um grupo de trabalho para rever toda a legislação e propor ajustes necessários. “Reavaliar a legislação é imprescindível em virtude das mudanças ocorridas na agricultura, nos processos de produção e no manejo do solo. Esse eixo estruturante do programa pretende fazer um levantamento minucioso de todo esse regramento no uso do solo, buscando identificar pontos passíveis de modernização, procurando tornar os processos mais ágeis e principalmente beneficiando a conservação do solo e da água do Paraná”.

2º Rally de Conservação do Solo e da Água

Em sintonia com o Prosolo, momentos de aventura, diversão, informação e conscientização foram vividos durante o 2º Rally de Conservação do Solo e da Água, realizado pela Cooperativa Agrária juntamente com a Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (FAPA), no dia 14 de fevereiro. A competição bateu recorde de público, com 42 carros participantes, reunindo mais de 160 pessoas.

A competição teve o objetivo de repassar informação e conscientização ao produtor rural de uma maneira diferente, por meio de uma competição que proporciona diversão e confraternização.

Foram 190 km em estradas de chão em  Guarapuava, até os limites dos municípios de Pinhão, Goioxim e Candói. No rally de regularidade a equipe, formada por piloto e navegador, deve seguir o trajeto determinado pela organização mantendo médias horárias pré-estabelecidas. As médias variam no decorrer da prova e são compatíveis com o terreno onde a prova se desenvolve. A cada descumprimento das instruções, o participante perde pontos.

Além de seguirem as regras da competição, ao longo do percurso os participantes tiveram que fazer paradas para realização de provas técnicas. “Nós procuramos relacionar as provas com o manejo conservacionista da lavoura do produtor. Por meio das estações ao longo do rally, os produtores são convidados a discutir o assunto através das atividades práticas”, comenta o pesquisador da FAPA que fez parte da organização, Paulo Alba.

Foram 10 estações de provas ao longo do percurso com diversas temáticas sobre a conservação de solo e água: calcular corretamente a declividade do terreno, fazer a contagem de matéria seca em uma lavoura de milho, medir um canal vegetado e plantar mudas de árvores nativas em uma Área de Preservação Permanente APP). Ao final da prova, as equipes foram avaliadas conforme o desempenho no rally de regularidade e de acordo com a participação nas provas de sustentabilidade.

“Quando a gente fala, durante a prova, em fazer um canal vegetado, o produtor visualiza qual material está sendo plantado no canal vegetado. Isso fica gravado na cabeça dele como uma boa opção de conservação. O mesmo ocorre quando ele tem que medir um plantio em nível, mostrando que é uma prática de conservação de fácil execução e baixo custo. Esses temas ajudam o produtor a enxergar opções de boas práticas conservacionistas”, destaca Alba.

O técnico de Meio Ambiente do Sistema Faep/Senar, Werner Meyer participou do evento e comentou que ações como essa são totalmente condizentes aos objetivos do Prosolo. “Toda movimentação que há em função da conservação de solo e da sustentabilidade da propriedade como um todo é válida. Nós tivemos no rally tecnologias que são adaptadas à região e eu imagino que esse tipo de ação pode ser aplicada em todas as regiões do estado, adaptando-as à realidade de cada uma. É um exemplo que pode ser seguido e são tipos de ações assim que pretendemos fomentar no eixo da pesquisa do Prosolo”.

O vice-prefeito e secretário municipal de Agricultura, Itacir Vezzaro também elogiou o evento. “O rally promove a integração entre os produtores rurais, o poder público, as entidades e as empresas envolvidas no meio rural. Ao mesmo tempo, mostra tecnologias aliadas à conservação de solo e água. Acho que esse processo deve ser contínuo, visando a conscientização e a informação”.

Vencedores

Ao final da competição as três equipes melhores colocadas foram premiadas com troféus. Os vencedores foram: Equipe 03 - Arnaldo Stock (piloto), Christian Abt (navegador), Rodrigo Martins e Juvêncio; Equipe 11, de Egon Milla (piloto), Karl Milla (navegador) e Luiz Gabriel; e equipe 14, com João Lucas Naiverth (piloto), Davi Naiverth (navegador), Marcos Antônio Novatski e Paulo Domit.

Também teve premiação para a equipe que perdeu mais pontos. Quem levou o troféu Tartaruga foi a dupla Jéssica Brandtner (piloto) e Manuela Gutfreund (navegadora).

O rally contou com o apoio da Adama, FMC, Agroeste, Sistema FAEP, Sindicato Rural de Guarapuava, Sementes Agroceres, Tratorcase/Michelin e MacPonta Agro.

Produtores elogiam evento

Cristian Abt, um dos vencedores do rally já havia participado da 1ª edição da competição e revelou que naquela ocasião não foi muito bem, mas dessa vez a situação foi diferente. “Falando da perspectiva de competição, estamos muito felizes por levarmos o primeiro lugar. Foi uma superação, porque a chuva com certeza dificultou bastante. Mas foi muito legal”. Abt, que foi o navegador da equipe vencedora, revelou ainda o que, segundo ele, é o mais importante para vencer o rally: “concentração, concentração. Nenhum minuto, nem o navegador nem o piloto podem estar desfocados”.

Já do aspecto técnico ,Abt afirmou que todas as provas foram muito importantes em relação à temática. “Nós, como produtores, dependemos do solo e da água e por isso devemos nos preocupar com a conservação. Precisamos ter a mente aberta para acolher novas técnicas. E em eventos assim, sempre aprendemos mais”.

O produtor rural Roberto Cunha, que participa com frequência de eventos do gênero, achou a competição desafiadora e quanto ao principal objetivo da prova, que era a conscientização e aprendizado, avaliou que foi cumprido. “Eu vi uma prática nova que está sendo executada, que é o chamado canal vegetado. A ideia é muito boa e dá para ser implantada. Mas algumas das técnicas também precisam ser revistas. Na minha opinião, uma delas são as caixas de retenção. Quando é pouca chuva resolve, mas quando é muito chuva, não funciona. Por isso precisamos debater mais sobre o assunto e esses eventos afloram mais as discussões”.

O agropecuarista Jairo Luiz Ramos Neto participou pela primeira vez do rally. “Foi muito interessante. É uma prática nova aqui na nossa região, divertida. Mas o mais interessante mesmo foi o real objetivo da prova que era a conservação de solos e água. Passamos por algumas áreas de plantio de batata que a degradação do solo e a erosão são gritantes. Eu acho que temos que abrir os olhos para essas questões”.  Seu navegador, Anton Egles disse que foi uma prova para aprender em diversos aspectos. “Foi a primeira vez que participamos e nem sabíamos como ler a tabela, mas ao longo do percurso fomos aprendendo. E conseguimos visualizar nos trechos os extremos da degradação do solo e da conservação. Visualizamos isso de uma forma clara e obtivemos muitas informações para melhorar nesse quesito, em nossas propriedades”.

 

Comentários

Todos os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Você pode denunciar algo que viole os termos de uso.