Site de notícias vinculado ao Sindicato Rural de Guarapuava

Quarta-feira, 22 de abril de 2020

Pandemia: entre novos desafios, o setor rural segue produzindo

O início de 2020 será lembrado como o momento em que a humanidade viu o agravamento de uma das maiores crises de saúde de sua história, com a pandemia do corona vírus (COVID-19). A doença, para a qual ainda não existem vacina nem remédio, vem causando a morte de milhares de pessoas. Diante da situação, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou a adoção de procedimentos especiais de higiene e o distanciamento social. Neste quadro em que cada nação tem buscado lidar com a situação e com a decorrente crise econômica, é consenso que o funcionamento de setores essenciais precisa ser mantido. Neste rol, o agro no Brasil prossegue sua produção de alimentos. Também no centro-sul do Paraná, propriedades rurais mantém suas atividades, com as colheitas de verão, os plantios de inverno e a lida dos rebanhos. Mas nos mercados interno e externo, a caminhada nestes tempos, conforme já avaliam alguns produtores, significa lidar com novos desafios, mais contornáveis ou mais difíceis, de acordo com cada segmento rural.

 

Na região de Pinhão, a propriedade Jersey Pletz, informou que seguia com a produção, que no local é voltada ao leite. Para isso, conforme recordou o proprietário, Eduardo Pletz, a fazenda, que já adotava as medidas de higiene das boas práticas para a produção leiteira, agora acrescentou as que vêm sendo preconizadas pela OMS. A começar pela restrição do acesso: “Não entram pessoas de fora, a não ser quem está envolvido na produção no dia a dia”, disse. “Os funcionários também foram orientados: utilização de álcool em gel, luvas, para a maior segurança deles”, complementou.

Sobre o volume de leite produzido, ele classificou a situação como de estabilidade: “Não aumentamos e também não baixamos”. E destacou: “A nossa indústria não para. Não tem como parar. A vaca de leite, você não desliga como uma máquina. Então, a produção dela segue normal, respeitando todas as normas de higiene e segurança prescritas”.

No entanto, o produtor estimou que a elevação do preço de insumos como os grãos, utilizados na alimentação do plantel, pode reduzir a rentabilidade: “Os custos de produção subiram muito. Tivemos alta da soja, do milho, em níveis altíssimos de preço. Porém, o leite hoje não teve alteração ainda”.

Em Guarapuava, no distrito de Entre Rios,onde há mais de 20 anos se dedica à produção de flores, Gabriela Abt, também confirmou, no final de março, que vinha dando sequência às atividades. Nos cerca de 3 mil m² de estufas, que segundo observou são abertas, o trabalho prossegue, agora considerando também cuidados para com os colaboradores, com cada um utilizando transporte próprio e álcool em gel, entre outras medidas. Na comercialização, para evitar contato pessoal, a produtora disse que tem dado aos clientes a opção de entrega das flores a domicílio e pagamento por depósito.

Contudo, ela analisou que, depois de janeiro e fevereiro, meses que sempre registram menores vendas, março, que poderia ter sido o início de uma recuperação, trouxe queda no volume de vendas. “Agora estamos entrando com a produção de flores de inverno. A compra de insumos que temos que fazer é muito grande e o custo, elevado, pois tudo gira em torno do preço do dólar. Adubos e sementes são os maiores custos variáveis da produção. Ano passado, em março, vendemos 65 mil mudas de flores e esse ano não chegamos a 50%”, relatou. 

A diversificação com outros produtos, que deveria ajudar, também foi afetada: “Em relação aos temperos, a venda aumentou. Isso em decorrência de estar vendendo desde janeiro para duas redes de supermercados de Guarapuava, que agora não estão fazendo pedido. Aumentamos muito a produção dessas ervas aromáticas contando com essas vendas. Conseguimos segurar a produção fazendo podas por aproximadamente duas semanas, mas se não vender logo vai acumulando produção e chega num momento em que temos que jogar no lixo”.

Gabriela se mostra apreensiva quanto à concretização das vendas: “O difícil é a incerteza, pois a produção não para. As mudas crescem e precisam ser transplantadas no tempo certo. Chegamos a jogar mudas sem transplantar e já estamos jogando flores que estão passando do ponto de venda. As contas estão aí e como fazer para pagar sem entrada de dinheiro?”, indagou. 

Em outro distrito de Guarapuava, o Jordão, a ovinocultura de corte é uma das atividades rurais importantes. Ali, o produtor Emílio Weyand, ao conversar com a REVISTA DO PRODUTOR RURAL no início de abril, comentou que, na propriedade, que conta com um plantel de cerca de 1.300 ovinos, as atividades prosseguem – embora de portas fechadas para pessoas de fora. “Na parte higiênica, a gente está recomendando para eles se cuidarem mais”, pontuou, referindo-se aos quatro funcionários e dois filhos que o ajudam na lida diária. No entanto, ele relata que teve dificuldade de encontrar alguns itens cuja demanda aumentou nas últimas semanas, como máscaras. “Álcool gel, levei no começo, porque depois já não consegui encontrar. Mas estamos lavando a mão com bastante sabão, que a gente produz lá mesmo no sítio”. Weyand, por outro lado, se disse preocupado com a interrupção dos abates: “O que está pegando hoje é esse problema da pandemia. Esse coronavírus está prejudicando. Não estou fazendo o abate, fazem 20 dias mais ou menos. Está complicada a situação. Agora para a semana da Páscoa, está abrindo uma luz, talvez tenha algum abate”.

Em Candói, na Fazenda Capão Redondo, os funcionários adotaram igualmente em sua rotina medidas de prevenção ao COVID-19 para prosseguir com a produção. Com foco em ILPF, com soja, milho, eucalipto, bovinos e ovinos de corte, a propriedade, da família do presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, agrônomo Rodolpho Botelho, mantém suas atividades. Para isso, como contou o gerente, João Paulo, algumas medidas foram adotadas. Enquanto durar a pandemia, a porteira permanece fechada a visitas. Do lado de dentro, no escritório administrativo, janelas abertas para arejar o ambiente, cartazes fixados com recomendações de prevenção aocoronavírus e álcool gel sobre a mesa de trabalho. A fazenda, que possui silos, decidiu seguir normalmente com as colheitas de milho e soja, com o plantio de aveia, além da recepção e a expedição de grãos no setor da balança. Porém, destacou João Paulo, com cuidados especiais naquele setor, já que os motoristas vêm dos mais diversos lugares do Paraná e do Brasil. “Eles agora ficam do lado de fora (da guarita da balança)”, ressaltou. Dentro do local, o funcionário Sandro Pereira de Camargo, responsável pela pesagem, notas fiscais e estoque, afirmou que faz questão de manter-se isolado, com porta fechada e sem contato próximo até mesmo com os colegas do escritório. “Os cartazes estão colados aqui, a janela fechada. Primeiro, eu espero ele (o motorista) ler. Depois que ele entendeu a mensagem, a gente abre (a janela), conversa, mas de longe. Mantenho a distância aí de um metro, um metro e meio. A cada atendimento que a gente faz, usa o banheiro – tem os produtos ali para higienizar as mãos”.

No mesmo município, o produtor rural Rodrigo Queiroz disse que a colheita da safra de verão ocorreu normalmente em sua propriedade localizada em Candói: “O vírus existe, mas não é motivo para deixar todo mundo em pânico. Na minha opinião, o isolamento não vai impedir a proliferação do coronavírus. Por isso, não mudamos nossa rotina. Não somos irresponsáveis, mas pensamos um pouco diferente”.

Com propriedades na região, o Grupo Reinhofer prosseguia também com as atividades de produção de grãos. Segundo a produtora Hildegardt Reinhofer, a adoção de medidas de proteção para que se pudesse dar sequência ao trabalho foi um processo simples, já que o grupo participa de um programa de gestão rural que a Cooperativa Agrária oferece a seus cooperados, que inclui a aplicação de conceitos de organização e qualidade. “Temos o álcool gel, as máscaras. Nos banheiros, o papel toalha e o sabonete líquido. Nos bebedouros, os copos descartáveis. O que a Saúde está orientando as pessoas a fazer, a gente introduziu na fazenda também. Tudo que achamos interessante, mandamos, reenviamos novamente para eles (os colaboradores) irem memorizando – temos em cada propriedade um grupo de WhatsApp. O que aperfeiçoamos mais foi (a recomendação) de não ter aglomeração”, detalhou. Ali também a recepção e expedição de grãos prossegue, com a aplicação de uma solução sobre o exterior dos veículos. “Isso partiu dos próprios funcionários”, assinalou Hildegardt, acrescentando que banheiros usados por pessoas de fora são desinfetados também duas a três vezes por dia.

Em Santa Maria do Oeste (PR), a Fazenda Rio do Pedro, que já havia implantado há alguns anos um gerenciamento da rotina e de pessoas, proprietários e colaboradores se uniram em tornode medidas preventivas ao COVID-19 para manter a produção mesmo em tempos de pandemia. Conforme explicou em entrevista a pedagoga e produtora rural Tábata Stock,uma das decisões para prosseguir com o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que inclui soja, milho e gado de corte, foi passar a abrigar no local os cerca de 50% de funcionários que moram na cidade: “Nós, como empresa, resolvemos abrir as nossas portas e dar as boas-vindas para os colaboradores virem passar uma temporada conosco, morando aqui. Abrimos nossas sedes para que eles possam se acomodar e se sentir mais seguros e também para proteger suas famílias, para que não precisassem ficar circulando de suas casas para o centro da cidade”. Ainda assim, visando proteger quem está da porteira para dentro, outra decisão foi a designação de apenas duas pessoas para realizar trabalhos externos: ela mesma e o gerente. “Saímos então de máscara e luva”, acrescentou.

Uma terceira alteraçãofoi dar licença a alguns membros da equipe: “Tivemos seis funcionários com sintomas de gripedurante este momento de pandemia.Não todos de uma vez.Esses ficaram afastados. Só voltaram quando recuperados”.

Ainda de acordo com a produtora, outro procedimento colocou a segurança como um item mais importante do que a rapidez do trabalho: lavar as mãos de meia em meia hora. “A gente perde produtividade, porque acaba demorando mais para finalizar o serviço,mas saúde em primeiro lugar. Queremos cuidar da nossa família e dos nossos funcionários também”, afirmou. Para quem está nos maquinários, completou, recipiente com água, sabão ou álcool gel também foram disponibilizados. Com isso, as atividades, segundo disse, continuam normalmente.

Mas se por um lado também a fazenda registrava, no final de março, o encerramento da safra de milho e de soja 2019/2020 com boas produtividades,como em todo o Paraná,Tábataconsideravaque o setor rural também enfrentará os desafios do cenário mundial: “Devido ao COVID-19, é claro que economicamente o país como um todo, todos os setores, sofreram muito, e o agronegócio vai sentir também. Isso é uma coisa clara. Agora, o quanto isso vai chegar no agronegócio, temos que esperar até o final.Temos que também esperar as medidas que o nosso governo vai tomar daqui para frente”, avaliou.

Empresas e entidades usam internet para

divulgar dias de campo, eventos e informação

Empresas do setor rural que promovem dias campo encontraram uma forma de prosseguir com aquelas iniciativas em tempos de pandemia, quando as autoridades de saúde recomendam distanciamento social: recorrer à internet. Os eventos podem ser conferidos, entre outros lugares, no YouTube. Na região, de Guarapuava, a Agrisus já recorreu a este canal de comunicação digital. Mas também eventos têm sido realizados on line: a Gralha Azul Remates realizou, dia 5 de abril, a etapa Pinhão de sua Feira de Bezerros pela internet, pelo canaldapecuaria.com. Instituições de representação da agropecuária, como o Sistema FAEP/SENAR promoveu, na tarde do dia 3 de abril, uma transmissão ao vivo em seu Facebook, para abordar os cenários do agronegócio diante da nova situação do Brasil e do mundo. Em outra transmissão ao vivo naquela mesma rede social, às 14h do dia 7 de abril, a entidade trouxe seus técnicos para comentar a importância das boas práticas agropecuárias no combate ao corona vírus.

No Paraná, FAEP estima impactos

econômicos no setor rural

O Sistema FAEP/SENAR-PR traz em seu boletim informativo da última semana de março (edição nº 1511), como matéria principal, uma reportagem em que a entidade divulga que o agro do Paraná sofrerá impactos da pandemia de COVID-19 e analisa os cenários do setor. Os dados são de estudo elaborado pelo Departamento Técnico-Econômico da federação. Segundo a reportagem “O efeito corona no campo”, após um breve aumento nas exportações quando a disseminação da doença ainda se encontrava localizada na China, já há uma sinalização de impactos negativos, como a queda de consumo, oscilação no comércio exterior e dificuldades do produtor se preparar para a próxima safra. A publicação pode ser acessada no site do Sistema FAEP/SENAR-PR: www.sistemafaep.org.br

 

Comentários

Todos os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Você pode denunciar algo que viole os termos de uso.