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Segunda-feira, 04 de novembro de 2019

Simpósio da Bovinocultura de Leite: Conhecimento e inovação para a propriedade leiteira

Quais são as tendências da tecnologia e do gerenciamento das propriedades leiteiras? Esta e outras questões, que fazem parte do dia a dia do segmento, estiveram em debate no 3º Simpósio Regional da Bovinocultura, realizado de 2 a 4 de outubro, ano anfiteatro do Sindicato Rural, em Guarapuava.

Mantendo o mesmo objetivo de sua primeira edição, em 2015, os organizadores direcionaram a programação ao produtor e aos profissionais de assistência técnica, visando a divulgação de informação para uma produção leiteira moderna.

Na noite do dia 2, abriram os trabalhos lideranças e organizadores reunidos na mesa de honra do evento: o presidente do Sindicato Rural, Rodolpho Luiz Werneck Botelho; o produtor de leite Jairo Luiz Ramos Neto, da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite do sindicato; o vice-prefeito de Guarapuava, Itacir Vezzaro; o vice-presidente da Coamig, Francisco Serpa; o delegado representante Anton Gora (Sistema FAEP); o diretor-presidente da EMATER, Natalino Avance de Souza; e a professora Deonísia Martinichen, representando a Unicentro.

Outro momento marcou a proposta do evento, de demonstrar o potencial da atividade leiteira: as lideranças homenagearam, no palco do anfiteatro, a produtora Angelita Freski Surkamp, da comunidade Vale do Alecrim, em Pinhão (PR). De uma família dedicada ao leite e assistida pela EMATER, ela foi uma das inscritas a receber medalha de ouro no 5º Prêmio Queijo Brasil, que a Associação dos Comerciantes de Queijo (Comerqueijo) promoveu de 18 a 22 de setembro deste ano, em Florianópolis (SC). Naquele que é o mais importante concurso do setor no país, outros 21 paranaenses também conquistaram medalhas na competição.

Na sequência, houve a primeira palestra: o sócio-diretor do Grupo Melkstad, o zootecnista Diogo Vriesman, abordou o tema “Atividade leite como oportunidade de diversificação da propriedade e aumento da produtividade”.

Nos dois dias seguintes, questões como criação de bezerras, produtividade, gestão, fertilidade do solo e manejo de dejetos bovinos, entre outros, foram tema de apresentações de especialistas convidados e de mesas redondas. Nos intervalos, o público pode conhecer tecnologias de algumas das empresas apoiadoras em estandes no pátio do sindicato.

Registrando mais de 250 participantes, o evento se encerrou na tarde do dia 4, com visita técnica em uma propriedade leiteira no distrito rural de Guairacá, onde os proprietários comentaram a implantação do sistema compost barn.

O simpósio foi uma realização da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite do Sindicato Rural de Guarapuava. Organizaram o evento: Centro Mesorregional de Excelência em Tecnologia do Leite do Norte Central, Agrária, Coamig, Emater, Pró Rural – Cidadania e renda no campo, SEAB, Sistema FAEP, Unicentro e Vida Rural – Programa de Desenvolvimento Rural de Guarapuava (Prefeitura de Guarapuava).

Patrocinadores Diamante: Agrária, Sementes Agroceres, Coamig, Cresol e JLosso Imobiliária. Patrocinadores Ouro: Alta Genetics, Atlântica Sementes, Agrícola CentroSul, Consipa, Pioneer e Sicredi. Patrocinadores Prata: ABS Pecplan, Adubasul Fertilizantes, BMilk, Jordana, Coamo, Farmer Agro Solutions, Brevant Sementes, Focus, Piscicultura Progresso, Szura, Tratorcase e Vitamix. Foram apoiadores: G12 Agro e KNN Idiomas.

Presente ao evento, a REVISTA DO PRODUTOR RURAL conversou com organizadores, palestrantes e público.

Atividade Leite como oportunidade de diversificação da propriedade e aumento da produtividade – Zootecnista 

Diogo Vriesman (Sócio/Diretor do grupo Melkstad - Carambeí-PR)

“Você tem que ter um trabalho em cima de gestão, de manejo, qualidade do leite, que é fundamental para a sobrevivência do negócio. Temos uma gordura de 3,75%, proteína de 3,34%, CCS (contagem de células somáticas) de 85 mil e uma contagem bacteriana (CBT) abaixo de cinco mil. A grande dificuldade foi conseguir chegar onde chegamos sem ter uma referência. O que mudou a nossa fazenda, a nossa empresa, foi quando iniciamos a implementação do MDA (Master Dairy Administration), da Clínica do Leite, lá da ESALQ, de Piracicaba-SP (2015), que é um sistema de gestão. Enxergo a região de Guarapuava com um potencial até maior do que o nosso. Isso se deve à produtividade que existe aqui na parte agrícola. A base de uma fazenda de leite é a produção de silagem, do volumoso. Vocês têm uma produtividade de milho maior do que a nossa, estão numa região bem localizada, onde tem uma altitude boa, acima de mil metros. Na média do ano, têm uma temperatura em torno de um a dois graus abaixo da nossa. Então, é uma região que tem tudo para a produção de leite”.

Produção de alimentos conservados: um desafio a ser enfrentado

João Ricardo Alves Pereira (professor na UEPG e consultor na Vitalle Produção Animal)

Essa região tem um perfil diferente, com uma agricultura bastante desenvolvida. Por isso, aqui em especial, os desafios estão mais no processamento da forragem, que são ações relativamente simples. O milho é o principal volumoso dentro da dieta. Então devemos começar a nos preocupar desde a escolha do híbrido. Pegar boas lavouras e processar mau, vai resultar em uma silagem de má qualidade. E as vezes esse processamento não envolve maiores custos ou novos investimentos, ele envolve mais conhecimento do processo. Os desafios não são grandiosos, demandam uma gestão do processo, conhecendo as etapas, para poder interferir e gerenciar. O produtor peca porque como o processo de ensilagem é bastante antiga, o produtor acha que conhece tudo e não precisa modificar o que ele já vem fazendo. Então, acaba deixando de ter uma visão mais avançada, no que ele pode melhorar. Mas como toda e qualquer informação é importante ele reciclar e se atualizar”.  

Insight  - Híbridos de milho para silagem

Igor Quirrenbach (G12 Agro)

“Apresentamos uma nova ferramenta para produtores rurais e técnicos que permite aumentar a produção de silagem e leite, tanto por vaca como por hectare, que é o aplicativo Guia da Forragem. Nesse aplicativo são inseridos os resultados das pesquisas que a G12 Agro conduz no sul do Brasil. Esse aplicativo possui um filtro, o produtor escolhe o que é prioridade para ele. Por exemplo, se ele quer mais produção de massa no milho dele para silagem, ele vai ver pesquisas relacionadas ao assunto que lhe interessa”.

Manejo da fertilidade do solo para produção de alimentos

Leandro Michalovicz (Emater)

“A Emater vem trabalhando junto aos produtores de leite da região o manejo de fertilidade de solo. Temos focado principalmente na questão de correção de acidez, que entendemos que é a base do sistema de produção, posteriormente trabalhando com a questão do fósforo, que para nós é uma grande deficiência natural dos solos da região. E por fim, temos tentado com os produtores viabilizar as questões de matéria seca, de palhada, visando manter o sistema plantio direto. O nosso sistema de produção, hoje, está baseado em produção de milho e silagem no verão e aveia e azevém no inverno. Com isso, não temos rotação de cultura e nem o resíduo deixado sobre o solo. Então, estes têm sido basicamente nossos objetivos: trabalhar correção de solo, da acidez, de fósforo, por fim, manejo físico e biológico do solo. Além disso, temos trabalhado bem forte a questão da reposição de nutrientes, com adubação correta para milho e silagem, para pastagem perene e aveia e azevém, sempre no sentido de repor estes nutrientes no solo e fazer com que a gente consiga manter estabilidade no sistema”.

Gerenciamento Reprodutivo – Roda reprodução

Anton G. Egles  (médico veterinário)

“O gerenciamento reprodutivo através do aplicativo simplifica muito a vida do produtor, porque ele consegue monitorar o rebanho de forma fácil e rápida, posicionando-o conforme a necessidade reprodutiva dos animais. Então o produtor consegue fazer um planejamento reprodutivo. Ele só precisa informar os eventos ocorridos com os animais, como parto, cobertura, secagem e diagnósticos de prenhes e a roda vai girando diariamente.”

Benefícios econômicos e ambientais do manejo adequado de dejetos bovinos

(Alfredo Braz da Costa Alemão/Emater (Tomazina-PR) – Apresentou trabalho de assistência técnica na construção de tanques de chorume com película impermeável - case foi tema de matéria em TV e revista).

“Foi um destaque (na mídia) justamente por isso: porque é uma solução simples. Esse é um sistema extremamente barato, simples de ser usado e que não interfere em nada na propriedade. E acaba trazendo benefícios, além do ambiental, do social, inclusive sanitários. Uma coisa que está sendo uma surpresa muito boa de se ver é inclusive a redução das moscas nos estábulos em função disso: a esterqueira funciona como uma armadilha para as moscas. Estamos fazendo um levantamento georreferenciado de volume. Mas o que a gente tem para dizer é o seguinte: já são mais de 100 produtores (assistidos na implantação dos tanques) e hoje a gente tem uma capacidade de armazenagem que passa dos 10 milhões de litros de chorume. Temos atendido gente do país inteiro. Estamos à disposição. Sugiro que as pessoas interessadas procurem o escritório da EMATER do seu município e, através do escritório local, faça o contato. A gente acaba trabalhando junto com o técnico do local, porque nem sempre podemos vir para cá como foi a vinda no evento aqui”.

Controle Leiteiro

Avelino Manoel Figueiredo Correa (Médico veterinário e supervisor de campo do Laboratório Parleite - Laboratório Centralizado de Análise de Leite do Programa de Análise de Rebanhos Leiteiros do Paraná da APCBRH em convênio com a UFPR, credenciado pelo Ministério da Agricultura – Executa o Programa de Monitoramento da Qualidade do Leite, analisando a composição do leite). 

“Falei exclusivamente em relação à sanidade da glândula mamária no rebanho leiteiro, à CCS (Contagem de Células Somáticas). A célula somática é um indicador de mastite subclínica em um rebanho. Quanto maior o valor da célula somática num tanque de uma propriedade, isso quer um maior número de vacas com mastite subclínica”.

Pecuária 4K, clareza e definição para os sistemas integrados

de produção agropecuária

Jean Mezzalira (Eng. Agrônomo, Doutor em Zootecnia/CONSIPA)

“Na produção de leite brasileira, estamos muito aquém do que poderíamos, com médias de menos de dois mil litros por vaca/ano. A atividade leiteira tem muitos parâmetros a serem monitorados. É fácil você cometer algum erro e isso então pode virar uma bola de neve. Então, não é difícil multiplicar por quatro, por oito, por mais, a produção. Desde que se controle todos os procedimentos e se tenha números. Um parâmetro muito importante, por exemplo: altura de entrada (da pastagem). Passou um, dois centímetros, essa planta, especialmente planta de verão, já passa a produzir mais colmo. Na altura de saída, principalmente, com um, dois centímetros de diferença, esse animal já começa a dar bocados também em talo, que é uma parte da planta mais dura. Ele passa a ingerir menos e também ingerir com menor qualidade. Por isso o 40% (limite de ingestão em relação à altura de entrada da pastagem): é onde o animal está comendo só a ‘nata’ da planta. O rotatínuo é uma técnica de manejo que permite o animal consumir só aquela camada de folhas”.

Utilização do sêmen sexado como instrumento de seleção e evolução genética do rebanho

Alequesander dos Santos (Regional Centro-Sul do PR – Alta Genetics)

“O sêmen sexado é uma tecnologia disponível no mercado, a um preço já acessível, porém deve-se tomar alguns cuidados no uso. Principalmente na seleção das matrizes e no momento da inseminação”.

Como criar suas bezerras para ter melhores vacas no futuro

Milaine Poczynek (médica veterinária, mestre em Ciência Animal e pastagens pela ESALQ-USP e doutoranda em Zootecnia pela UFPR)

“Para criarmos uma bezerra com maior potencial de produtividade, basicamente temos que manter ela saudável e fazer uma boa alimentação. O principal fator para manter as bezerras saudáveis é fazer uma adequada colostragem. Fornecer um volume bom de colostro, que é em torno de quatro litros nas primeiras seis refeições. Assim, essa bezerra vai poder responder aos diferentes manejos alimentares. E, hoje, na indústria se preconiza fornecer mais que quatro litros de leite por dia. Os valores indicados são entre seis e oito litros, para potencializar a produção futura dessas bezerras. Temos que lembrar também que quanto mais tempo demorar para fornecer esse colostro, desde o nascimento da bezerra, ela está perdendo a capacidade de ter uma melhora na imunidade e também vai estar mais suscetível à doença. Além disso, o produtor peca quando fornece pouco leite nas três primeiras semanas de vida para a bezerra. Fornecer uma boa quantidade de colostro e aumentar o volume de leite contribui para se ter uma bezerra mais saudável e produtiva no futuro”.

Período de transição – a chave para o sucesso na atividade leiteira

Rodrigo Almeida (professor UFPR)

“O período de transição equivale ao período periparto, que vai das três semanas anteriores ao parto até as três semanas seguintes ao parto. Esse é um período relativamente curto na vida de uma vaca. Mas o que aprendemos nas últimas décadas é que esse período apesar de curto, é determinante para o sucesso da vaca e consequentemente da fazenda. Porque muitas coisas erradas podem acontecer nesse período, como a vaca ficar doente. E se ela ficar doente ou não for bem manejada nesse período, é muito provável que no restante da lactação, ela não tenha o mesmo desempenho produtivo reprodutivo. Tudo que você puder fazer para essa vaca no período de transição, como dar atenção pra ela, praticar boas práticas de alimentação, oferecer conforto, ela responde no restante da lactação com mais leite, menos doença e com uma mais rápida reconcepção”.

Insight – Tratamento de esgoto por zona de raízes

Josué Kaminski  (pós-graduando em Construções Sustentáveis UTFPR – Curitiba)

“O tratamento de esgoto por zona de raízes é uma estrutura complementar a fossa séptica, para que reduza matéria orgânica do influente de esgoto que vai ser lançado na natureza. Este tratamento é importante tanto para saúde das pessoas que moram nas propriedades, quanto para os animais e também por questões ambientais”.

Opinião

“Guarapuava tem que despertar para diversificação e agroindústria, melhorando a renda per capta do município. E investir no leite é uma ótima alternativa. Temos exemplos de municípios bem próximos que investiram no leite e se tornaram referência. Mas precisamos de capacitação, informação e tecnologia. Por isso o sindicato, juntamente com as entidades e empresas envolvidas, tem sido muito feliz ao realizar o simpósio, que traz atualização e motivação para o produtor de leite. Foi o primeiro que eu participei e achei o conteúdo das palestras excelente”.

Roberto Expedito Araújo Marcondes – produtor de leite Guarapuava

“Foi muito importante participar. Me chamou bastante atenção a parte da produção de alimentos, a qual, nós produtores, temos bastante dificuldade. Além disso, achei interessante o debate da correção de solos, que é a base de tudo, e que muitas vezes deixamos de lado. Além de debater estes assuntos essenciais, o evento no geral foi muito motivador. Voltamos para propriedade com um gás a mais para colocar em prática o que aprendemos no evento”.

Marcos Abreu Turco – produtor de leite Candói

Visita Técnica Sítio 6M Família Poczynek – Sistema de produção Compost Barn

A família Poczynek, formada pelo casal Mário e Maria Eli e os quatro filhos: Mailson, Mateus, Milaine e Mauro, ingressou na atividade leiteira em 2001. Com uma área de 12,5 hectares dedicada ao leite, atualmente, o Sítio 6M possui um rebanho de 26 vacas Jersey em lactação, com uma média de produção de 25 litros/animal/dia. O sistema de produção Compost Barn foi instalado há um ano.

Durante a visita técnica do simpósio, o casal recepcionou os participantes e demonstrou o orgulho pela atividade leiteira. “Agradeço ao leite por ter três filhos formados e mais um no caminho. Foi com muito trabalho que conseguimos, mas eu agradeço muito. Se me perguntassem se eu mudaria minha atividade, eu responderia não”, exaltou Maria Eli.

Além dos acertos, a família destacou os erros que tiveram ao longo dos anos, que foram fundamentais para evolução da atividade. Em um breve histórico, o qual Mateus foi responsável por contar, foi destacada a falta de planejamento de raça do rebanho no início da atividade. “Usávamos no começo alguns touros de corte, outras vezes Jersey. Em 2006 que mudamos essa realidade, compramos nove animais da raça Jersey, começamos inseminar e usar somente touros Jersey”.

O divisor de águas, segundo a família, foi em 2007 quando começaram a receber assistência técnica. “Uma das primeiras ações com a assistência técnica foi a venda de animais que não eram gado especializado. Focamos em alimentar bem os animais que estavam em produção de leite e vendíamos os outros”.

A silagem, ao longo dos anos foi aumentando espaço na alimentação dos animais, com isso o manejo da pastagem foi ficando mais complicado. “Resumindo, nós tínhamos cinco hectares de silagem e um hectare de área em pastejo. As vacas comiam seis hectares de alimento e estercavam em um hectare. Então, a área de pastejo acabou virando cama”.

Além da dificuldade com o manejo da pastagem, o ambiente da propriedade, que é uma área úmida, dificultava bastante o manejo de casco. Somando os fatores, a família resolveu migrar 100% para o sistema confinado. “Na nossa situação era difícil trabalhar com o pasto. E como os animais comiam praticamente tudo no cocho, a gente tinha cust

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