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Segunda-feira, 19 de março de 2018

Fazenda Rio do Pedro: a sustentável leveza de ser

Propriedade rural em Santa Maria do Oeste (PR) ganha prêmio de sustentabilidade da Globo Rural

Quem disse que o trabalho no campo, tanto de produtores quanto de seus colaboradores, tem que acarretar, necessariamente, um pesado estresse? Quem disse que no setor agropecuário nem sequer há tempo para o empregador olhar para sua equipe com o olhar da valorização? Estes e muitos outros questionamentos, sobre velhas formas de pensar a rotina de uma fazenda, estão na base da gestão de pessoas de uma propriedade em Santa Maria do Oeste, na região central do Paraná, que recebeu uma importante premiação. A Fazenda Rio do Pedro, da família Stock, obteve, em 5 de dezembro do ano passado, o 1º lugar na quarta edição do concurso nacional Fazenda Sustentável, promovido pela Revista Globo Rural. A competição recebeu 47 inscritos, de todo o Brasil, dos quais foram selecionados 13 finalistas e, na sequência, os vencedores, com 1º, 2º e 3º colocados.

De acordo com a publicação, o principal critério foi o uso múltiplo da terra, a partir das boas práticas agropecuárias e da eficiência no uso dos recursos, numa metodologia desenvolvida em parceria com o banco holandês Rabobank e a Fundação Espaço Eco.

Vista de perto, a propriedade revela que esta atenção especial aos colaboradores se tornou uma cultura interna, partindo do conceito de que, afinal, são eles que estão por trás das máquinas e dos números. E o mais incomum: o avanço representado por uma linha de recursos humanos mais atual veio da determinação de uma jovem, que há menos de cinco anos passou a trabalhar no local. Detalhista, ela sabe ser também descontraída. Sorridente, se mostra ao mesmo tempo bem objetiva em suas palavras. Filha do proprietário Ernesto Stock, pedagoga que se define com orgulho como uma mulher forte, do campo, Tábata terminou a faculdade e se lançou ao desafio de implantar nas fazendas de sua família tendências ainda relativamente novas em propriedades rurais, mas já consagradas em empresas e indústrias. Para isso, incentivou a equipe a implantar conceitos e ações que também contribuíram para a premiação no concurso. Porém, para ela, o maior prêmio é criar uma atmosfera de trabalho que elimine o estresse desnecessário causado por desorganização; mostrar que com a racionalização de tarefas, o reconhecimento profissional das pessoas e a conseqüente confiança entre empregadores e empregados, o ambiente e a rotina conduzem a uma sustentável leveza de ser.

Para conhecer de perto esta experiência, a REVISTA DO PRODUTOR RURAL foi, no dia 7 de fevereiro, à Fazenda Rio do Pedro. Ao receber nossa reportagem na propriedade, Tábata explicou que ela e seu pai haviam decidido partir para um trabalho voltado à sustentabilidade e certificações. Mas ser sustentável, especificou, significa atuar sobre um tripé: economia, meio ambiente e pessoas. “A parte econômica é a nossa produção, a qualidade do produto. Aí, entra a agricultura de precisão, todo o respaldo que temos da Cooperativa Agrária, as sementes, as visitas do agrônomo, uma coleção de fatores que fazem com que a gente tenha uma excelente produção”, assinalou. Este setor, especificou, permanece com seu pai Ernesto e profissionais da área. A parte ambiental, acrescentou, não tem segredo – o produtor tem que cumprir todas as determinações da legislação. “A parte social é a mais pedagógica de todo o sistema. É focada mais no bem-estar pessoal dos colaboradores, em proporcionar atividades seguras e confortáveis”, ressaltou. Missão que assumiu, à frente dos recursos humanos. Uma das bases deste bem-estar, apontou, é colocar a casa em ordem: reorganização, dentro dos padrões dos 5S, de todas as instalações ligadas à produção, como oficinas, barracões de maquinário, depósitos de material e até armários de peças, de EPIs ou de equipamentos e peças. Tudo com um lay-out mais fácil de visualizar, com etiquetas ou placas de identificação. Antes, destacou, a desorganização causava estresse porque ferramentas, como pás, chegavam a ser perdidas no meio de centenas de outros itens, ou em algum lugar improvável da propriedade, atrasando trabalhos e sendo necessário comprá-las de novo. Agora, oficinas que de tão organizadas nem parecem estar em utilização chamam a atenção. Mas ela admite que a idéia percorreu um longo caminho: era preciso conhecer os critérios, adotá-los e ganhar o apoio da equipe. “O primeiro ano foi de muita mudança, muito difícil. No segundo ano, começamos a evoluir. No terceiro, conseguimos nivelar. Este agora é o quarto ano”, disse. Como nenhuma grande mudança se faz sozinho, reconheceu, a fazenda teve na Agrária um parceiro importante para conhecer a metodologia dos 5S: “Nós, como cooperados, recebemos todo o apoio e as auditorias de uma assessora, direto da cooperativa”. Quando considerou que o padrão estava implantado, apontou, a propriedade se submeteu à avaliação de uma empresa, que aprovou e concedeu a certificação.

Tábata acrescentou que a fazenda adotou ainda uma rotina para maquinário e operadores: “Cada máquina tem o seu funcionário. Ele é responsável pelo cuidado com ela. As cabines são diretamente vistoriadas por mim – têm de estar em perfeito estado”. Se a poeira é inevitável, removê-la ao final do dia, com um pano, passou a fazer parte do trabalho. A formação ou capacitação profissional também mereceu uma atenção sistemática: “Cada um tem seu treinamento e os treinamentos têm data de vencimento”, após concluídos, cada um passa de novo por cursos.

Entretanto, ela pondera que estabelecer um ambiente de bem-estar vai muito mais além, sendo necessária a valorização dos colaboradores por meio de programas e treinamentos. Uma destas ações, como demonstrou no dia de sua entrevista, é o quadro “Como me sinto hoje”, em uma das oficinas: nele, todo dia, o colaborador coloca ao lado de seu nome uma cara que representa seu estado de espírito – um jeito simples e descontraído de contribuir para uma convivência harmônica entre os colegas, já que cada um da equipe compreenderá como o outro se sente naquele momento.

Outra iniciativa é o programa Funcionário do Mês, num formato que leva os próprios colaboradores a reconhecer os méritos uns dos outros: “No final de todo mês, fazemos uma votação. Os próprios funcionários votam, se baseando em critérios como capricho, atenção, desenvolvimento, relação social, de cada um de seus colegas. Quem somar mais pontuação ganha. Eles recebem uma lembrancinha surpresa no final de cada mês”.  

O Canto do Conhecimento é mais um destaque, com o objetivo de incentivar o crescimento cultural. A propriedade tem à disposição da equipe livros sobre diversos assuntos, desde os mais simples até os mais complexos. “Toda vez que eles lêem, preenchem um relatório. Quem tem mais relatórios ganha e tem dois dias de folga”, explicou Tábata. 

Já os colaboradores com mais tempo de serviço são reconhecidos com o Funcionário de Elite. O programa define alguns períodos e suas premiações: seis anos (prata) dão bonificação; 10 anos (ouro), um passeio em um local de interesse turístico; e 20 anos (diamante), viagem e bonificação. Refletindo sua inclinação por lidar com pessoas e ensinar, a responsável pela gestão de pessoas se diz hoje orgulhosa de sua equipe: “Porque eles assimilaram os conceitos que tentei passar”.

 

Tudo no seu devido lugar

Um colaborador mais antigo e outro, mais recente, contaram também de sua vivência na propriedade. Pedreiro, trabalhando há cerca de quatro anos e meio nas fazendas da família Stock, João Rosival Alves Cabral contou que viveu a transição da antiga para a nova fase: “Com certeza, fiz parte desta mudança. Quando começaram todos os programas, o dos 5S, comecei junto. No começo foi difícil, como todas as coisas. Mas depois que a gente começou a conversar, a ter reunião, fomos pegando o jeito da coisa e graças a Deus estamos bem organizados”. Ele também reconhece que é mais tranquilo trabalhar num ambiente organizado: “Você sabe onde estão as coisas, se torna bem mais fácil para todo mundo”.

Outro colaborador, Sedinei Moreira, há sete meses na equipe, iniciou o novo trabalho se mudando com a esposa para morar na propriedade e assumindo tarefas como operador de máquina, soldador e um dos responsáveis pela oficina. “É bom, não é? Trabalhar com tudo organizado. Na verdade, pensei que era de uma forma e me deparei com outra. Quando a gente chega aqui, está tudo limpo, organizado. Você vai procurar uma chave e sabe onde ela está. Não tem perda de tempo. Estamos nos adaptando cada vez mais, temos que ir melhorando”, opinou.

 

Integração Lavoura-Pecuária-Floresta

Às ações no âmbito dos colaboradores se somam números que se destacam também na área econômica e ambiental. Num sistema adotado em várias propriedades da região, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, a fazenda Rio do Pedro busca maior aproveitamento econômico da terra: na agricultura, lavouras de verão e inverno; na pecuária, bovinocultura com a raça Angus; no plantio comercial de árvores, a opção por pinus. A natureza também vem recebendo importância ao longo dos anos: dos 1,4 mil hectares da propriedade, a área de preservação chega a 575 hectares.

Conscientes de que uma empresa rural, como outras, também pode e deve se aperfeiçoar cada vez mais, Tábata e seu pai Ernesto já encontram, no entanto, nos avanços dos últimos anos, e no incentivo representado agora pelo prêmio, a base para uma certeza: um sistema produtivo eficiente pode valorizar pessoas e meio ambiente.

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